O famigerado COVID e a estrita obediência às regras impostas, obrigaram-nos a alterar comportamentos quotidianos e a ficar mais tempo no lar. Mas, há sempre prós e contras, vantagens e desvantagens. Das desvantagens, algumas bem violentas, não vamos falar. Elas têm sido referidas com insistência por muita gente. Vamos apenas mencionar benefícios que, no nosso caso concreto, logramos usufruir.
Prezamos a natureza, a ecologia e o ambiente. Aproveitamos a
água da chuva quando cai e o sol quando ele domina. Temos painéis solares para
aquecimento de águas e painéis fotovoltaicos para a eletricidade. Dispomos
ainda de um singelo forno solar, de fácil manejo, que nos permite cozinhar
almoços e jantares, o que tem acontecido praticamente em todo este verão.
A parte arável do quintal não excede 300 m2, mas
vejam só, as frutas e os vegetais biológicos que temos conseguido reproduzir e
colher em tão exíguo espaço:
Figos (duas qualidades), uvas (três qualidades), morangos , fisális, pêssegos, góji
(pela primeira vez), limões, amoras,
romãs, medronhos, azeitonas, tomates (cinco qualidades), pimentos, malaguetas, beringelas, beterrabas, rábanos, salsa, aipo,
funcho, hortelã vulgar, hortelã-pimenta, hortelã-da-ribeira, milho, feijão,
alho-francês, abóboras, curgetes,
couves-galegas, brócolos, acelgas, alcachofras, alfaces, almeirões, espinafres-neozelandeses,
batatas, batatas doces, favas, ervilhas, beldroegas, urtigas, chagas, malvas,
tupinambos, quenopódio-bom-henrique (conhecem?), stevia (conhecem?), salva, erva-príncipe, arruda, cidrila, losna, borragem, celidónia…
Quem aqui chega, fica visualmente desiludido porque o
panorama hortícola não se mostra muito atraente. As plantas estão todas
misturadas, em confusão, como é próprio da chamada permacultura. Algumas não é
preciso semeá-las, nascem onde querem e escolhem crescer junto das que mais
simpatizam, em perfeita sociologia vegetal. É o caso da salsa, do aipo, da
beldroega, do espinafre neozelandês, das abóboras, das acelgas, entre outras.
Como o clima é muito seco no verão e o solo é arenoso,
torna-se necessário proceder a regas quase diárias, em especial ao cair da
noite, para que a humidade permaneça mais tempo na terra. Não se utiliza
nenhuma espécie de adubos químicos ou pesticidas. O solo é enriquecido com o
composto de tudo o que é biodegradável, estrume dos galináceos, restos da
cozinha, cascas de ovos, cascas de bananas, borras de café e de chá, etc. Apenas
não se utilizam resíduos de citrinos.
Quando surgem pragas de insetos predadores, chegam as
joaninhas para proteger as culturas infestadas de piolhos ou de oídio e a ação
das plantas protetoras, como as arrudas. Se necessário, faz-se um chorume com
urtigas e borragens que, apesar de mal cheiroso, é muito eficaz.
O que motivou este relato não foi o enaltecimento pessoal ou
familiar, ou a mera ostentação narcisista. Pretendemos apenas demonstrar que é
possível tirar adequado partido da natureza sem a contrariar e que se pode
estabelecer com ela uma verdadeira parceria mutuamente benfazeja.
Sabemos, evidentemente, que estas práticas não são acessíveis a muitos cidadãos, quer porque não dispõem de solo arável, quer por habitarem em andares, quer ainda, porque lhes mingua o tempo disponível, a paciência e o jeito em coisas que implicam sujar as mãos. Todavia, para quem sentir curiosidade e tiver algumas condições, fica aqui este exemplo que visa estimular a poupança dos recursos e o incentivo para o exercício de uma terapia ocupacional extremamente valiosa em tempos de pandemia.
Setembro de 2021
(texto da autoria de Miguel Boieiro, Vice-presidente da Direção da SPN)
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