Continuação!
Rodes
Estamos agora na Grécia insular. A ilha de Rodes surpreende
pela configuração defensiva bem patente nas fortes muralhas que se erguem no
seu litoral portuário. E o colosso, que era considerado uma das sete maravilhas
do mundo antigo? Já lá não está! Diz-se
que essa estátua em bronze de mais de trinta metros de altura, edificada três
séculos antes de Cristo (um prodígio para a época), só resistiu cinquenta e tal
anos. Foi derrubada por um tremendo sismo e hoje só resta a sua memória
ancorada por férteis imaginações.
Integrámos o grupo que se deslocou a pé, para visitar
principalmente a parte antiga da cidade e ouvir as explicações de Ana, guia que
se expressava em inglês e também em italiano, bastante acessível aos que são
duros de ouvido. As descrições num idioma e a repetição no outro, permitiram
reter o fundamental e tomar algumas notas sobre esta ilha, criada, segundo
dizem, pelo deus Hélios, a maior e a mais turística do arquipélago do Dodecaneso,
situado muito perto da costa turca. Por um passadiço em madeira, adjacente à
orla marítima, penetrámos em antigas torres militares e avistámos o Mercado, o
Palácio da Justiça, o Museu da Tecnologia Antiga, o pequeno porto para
digressões a outras ilhas próximas (Symi, Halki..) e o harmonioso jardim onde
pontoavam as amargoseiras (Melia
azedarach) e as vistosas Ficus
benjamina.
Num espaço museológico relativo à arte cinematográfica, assistimos
a um interessante filme interativo, projetado em três dimensões. Focava a rica
História da ilha desde remotas épocas pré-históricas, passando depois por
sucessivos períodos - bizantino, Cavaleiros Hospitalários de São João de Jerusalém,
ocupação turca e ocupação italiana. Bem amarrados aos assentos e com óculos
adequados, experienciámos ventanias, sacudidelas turbulentas, ruídos díspares e
gotinhas de água fustigando os assustados espetadores. Em vão procurámos um
livro ou mesmo um folheto explicativo para mais tarde recordar, mas nada havia
ao nosso alcance.
Entrámos depois na parte antiga da cidade, cujos arruamentos
se encontravam pavimentados com arredondados seixos rolados. Do percurso
efetuado, destacamos como mais significativo, as edificações medievais construídas
pelos Cavaleiros Hospitalários, que devido à robustez das construções, se mantêm
firmes. Os citados Cavaleiros constituídos numa ordem militar, para proteger os
cruzados que se dirigiam à Terra Santa, ocuparam Rodes de 1306 a 1522, ano em
que foram expulsos pelos turcos. Por sua vez, os otomanos dominaram a ilha até
1912, sendo derrotados pelos italianos. Só em 1948, após a Segunda Guerra
Mundial, é que Rodes passou a fazer parte do Estado Grego.
Admirável foi o passeio efetuado pela apelidada Rua dos Cavaleiros com 200 metros de
extensão. Nesta artéria, com edifícios de pedra de dois pisos em ambos os lados,
realçam-se o hospital medieval e os albergues das línguas e no final o Palácio do Grão-Mestre e a Igreja de Agios Ioannis. Perto estava também uma grande mesquita construída
pelo otomano Suleiman que parece que era boa pessoa.
Acrescente-se que os albergues das “línguas” se destinavam a
alojar peregrinos e encontravam-se distribuídos por nacionalidades consoante os
seus idiomas nativos. Passámos sucessivamente pelos albergues de Auvernia (onde
hoje funciona o consulado francês com uma boa sala de exposições), Provença,
Inglaterra, Alemanha, Castela, Aragão, Navarra e Portugal. Cada albergue
apresenta o escudo do país ou da região. No caso de Portugal, temos o escudo
das 5 quinas orlado curiosamente com quinze castelos, em vez dos 7 habituais.
Depois desta curta visita, ficou-nos o desejo de passar aqui
umas férias para aprofundar conhecimentos históricos e fruir a natureza.
Foi-nos dito que em Rodes há oito meses de verão e apenas quatro meses outonais
ou de inverno ameno.
Chipre
No dia seguinte aportámos a Limassol, segunda cidade mais
importante de um estado europeu, integrado na União Europeia, mas que se situa
na Ásia Menor. Limassol tem 101 mil habitantes e é o maior porto da ilha de
Chipre. Os ingleses fizeram deste território uma colónia que subsistiu até 1960
e mantêm ainda a base militar de Akrotiri e duas mais pequenas. Depois da independência
os cipriotas fizeram um esforço para substituir alguns costumes e preceitos
ingleses. Lograram mudar para quilómetros os distanciamentos que os britânicos
tinham em milhas. Não conseguiram, no entanto, alterar determinadas regras e
continuam a conduzir à esquerda, ao revés do que acontece em quase todo o
mundo.
Numa excursão bem organizada, levaram-nos ao castelo medieval de Kolossi, edificado
em princípios do século XIII pelos cavaleiros da Ordem de São João de Jerusalém.
As ruínas deste monumento, excelente exemplar da arquitetura militar medieval,
erguem-se em três pisos a que se acede penosamente por escadas de pedra
irregular, estreitas e em caracol. A construção atinge 21 metros de altura e é
dotada de paredes com a grossura de 1,25 metros. As salas estão vazias, mas
mantém-se um único fresco, pintura mural, do século XVI, reproduzindo a
crucificação de Cristo. O primitivo castelo sofreu ataques destruidores dos
mamelucos, pelo que foi reconstruído em 1454, pelo então Grão-Mestre da Ordem,
Louis de Magnac. O seu brasão com a flor de lis ainda está visível em várias
paredes.
Este castelo, também chamado “Grande Commandaria”, situa-se
num vale muito fértil com vinhas, olivais, cana-de-açúcar e algodoeiros. Junto
à edificação ainda se acham as ruínas da fábrica de refinação de açúcar (uma
preciosidade na época), os vestígios do aqueduto e algumas árvores singulares com
destaque para uma enorme tipuana (Tipuana
tipu).
Divisa-se ao longe a montanha de Troodos, cujo cume atinge
1952 metros de altitude, sendo o ponto mais alto de Chipre. Costuma lá nevar no
primeiro trimestre do ano, possibilitando a prática de ski.
Fomos informados da existência de um jardim botânico a 1, 5
quilómetros de Kolossi, chamado Medflora que, com imensa pena, não pudemos
visitar.
A seguir fomos ao Museu
do Vinho na próxima aldeia de Erimi. O museu é pequeno, mas intenta testemunhar a
extensa jornada de 5500 anos da viticultura em Chipre. À entrada, tínhamos um
corpulento gato amarelo extremamente afável para nos receber, demasiado para um
felino. Estaria etilizado? Iniciava-se a exposição com a efígie de Dionísio,
deus do vinho e da pândega e a indicação das variedades produzidas na região,
constando de 8 vinhos brancos e 6 tintos, cujas designações em grego, não
recolhemos por motivos óbvios. Começa depois a mostra de objetos recolhidos em
escavações arqueológicas e de diversíssimas alfaias utlizadas ao longo dos
tempos.
É sabido que o vinho alargou o seu prestígio com o advento do
cristianismo, ao contrário de outras religiões em que as bebidas alcoólicas
foram banidas.
Numa segunda sala, após termos assistido a um recital de
piano, veio a prova do famoso vinho Commandaria,
proveniente de duas castas indígenas a saber: Xinisteri (uvas brancas) e Mavro
(uvas tintas). Este vinho licoroso constitui o orgulho dos cipriotas e houve
até quem o considerasse o apóstolo dos vinhos. Provámos, mas sem conhecimentos nem
dotes de escanção, pedimos para que a nossa opinião não seja levada muito a
sério. Achámos que a bebida se assemelhava ao nosso abafadinho e era bastante
inferior ao vinho do Porto ou ao moscatel de Setúbal, em aroma e sabor.
A excursão terminou com a visita ao Santuário de Apollo Hylates. Este santuário abrange um espaço muito
amplo. O solo é seco e a vegetação é xerófita com ciprestes, alecrins,
aroeiras, espargos, verbenas. Junto à entrada, surripiámos num pequeno
algodoeiro, um tufo de algodão, à laia de recordação.
Foi um dos principais locais de culto durante cerca de 12
séculos, evidenciando testemunhos do período arcaico (idade do bronze), período
helenístico e período romano. Ou seja, desde 1600 anos a.C. até meados do
século IV d.C., altura em que foi severamente arruinado por um terramoto, este
espaço foi considerado divino e objeto de culto a vários deuses.
Percorrendo algumas das sendas pejadas de pedregulhos
calcários, anotámos a profusão de vestígios da época romana que deve ter
constituído o apogeu do santuário. Detivemo-nos na zona dos banhos que tinha
uma estrutura coberta para sua proteção. Lá se identificavam os quatro
compartimentos dos típicos balneários romanos: Frigidarium (banho frio), Tepidarium
(banho morno), Caldarium (banho muito
quente) e Sudatorium (transpiração).
No regresso ao porto de Limassol, passámos por vários
edifícios públicos, templos e monumentos e apreciámos os locais de lazer muito
bem cuidados da frente de praias. A guia foi-nos elucidando sobre alguns
aspetos relevantes do país, mormente sobre uma parte da ilha que está
subordinada à Turquia e que tem constituído fonte continuada de conflitos
políticos, religiosos e étnicos.
Chipre, com a área de
9251 km2, é a terceira maior ilha do Mediterrânico e a maior da parte oriental.
A língua oficial é o grego, a segunda é o inglês, mas existe um dialeto
cipriota.
Navegar… navegar é preciso
Vedaram-nos a paragem em Jeddah, cidade da Arábia Saudita, ao
contrário do que estava previsto e que era um dos atrativos deste cruzeiro.
Durante oito dias não saímos do navio. Íamos a dizer, oito dias sem ver terra,
mas isso não correspondeu à verdade porque entrámos no Canal do Suez e por ele navegámos vagarosamente vendo as duas
margens egípcias. De um lado, areia com fartura e instalações militares. Do
outro, extensos palmares e cidades de razoável dimensão. Causa sempre alguma
emoção atravessar esta parte do mundo que se tornou num autêntico atalho
artificial na ligação da Europa com a Ásia e a África.
Oito dias de navegação pode parecer enfadonho para quem nunca
viajou numa cidade flutuante, mas a plêiade de divertimentos ao dispor dos
passageiros teve o condão de quebrar a monotonia. Com temperaturas na ordem dos
30 graus, duas piscinas e meia dúzia de jacúzis, estimulavam um permanente convite
para veranear em pleno mês de novembro. E depois havia ainda concursos, jogos,
atividades desportivas e de lazer, sem cessar.
O grupo “Quero Viagens” pediu uma sala particular para
organizar palestras culturais. Juntaram-se depois outros passageiros
portugueses. Proferiram-se animadas palestras sobre História de Portugal,
esperanto medicina, fitoterapia, e experiências de vida de alguns
participantes.
Todas as noites havia no “Grande Théatre” espetáculos de música,
canto e dança, alguns de muito bom nível. O coitado do apresentador tinha que
falar repetidamente em italiano, inglês, francês, alemão, espanhol e português
para transmitir instruções. Um martírio para ele e também para quem o escutava.
Ora, não seria tão mais fácil falar, duma só vez, na língua internacional,
idioma neutro, criado para agilizar as comunicações de povos de diferentes
falares? O Esperanto, sendo uma língua lógica, regular e de excelente
fonética, poderia ser aprendido por todos em oito dias. Fica aqui a sugestão
para iniciativas futuras, pode ser que alguém a agarre…
Continua no próximo domingo!
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