Acabou-se o que era doce!
Setembro de 2021 chegou e presenteou-nos com novas normas para elaboração de ementas e venda de géneros alimentícios nos bufetes das escolas, publicadas em Diário da República (Despacho n.º 8127/2021).
O resultado prático foi este: cheguei e cumprimentei a funcionária, pedi o meu café e um… Bom, não havia nada nas vitrines e expositores. Naquele dia, só havia pão, queijo, fiambre e margarina. Lá se foi o meu pastel de nata! Eu sei bem que tem 297 calorias!
Que fique bem claro, que não sou contra a redução e eliminação de determinados produtos e até muitos já não existiam nos bares das escolas. Mas também, sou contra radicalismos!
Cabe agora às escolas, oferecer produtos desde que não sejam bolos de pastelaria (mesmo nenhum), salgados, croissants e pães de leite com recheios doces, charcutaria, molhos, snacks, barritas de chocolate, gelados, e outros produtos. Devem optar por pão de preferência integral, água potável gratuita, leite e iogurte magro ou meio gordo, saladas, queijo fresco, tisanas, peças de fruta fresca, fruta desidratada, sumos naturais, etc.
Muitas das alternativas são perfeitamente possíveis, mas outras resultam numa potencial aquisição de produtos mais caros e nem sempre ecológicos, como a fruta cortada e desidratada quem vem em pacotes e compotas de frutas em embalagens de plástico. Se forem caros, não vão ser comprados pelos alunos.
Tudo correto, mas seria possível um equilíbrio ou não? Digo isto, porque fui aluna de básico e secundário, no final da década de 80 e na década de 90, e o bar da minha escola, embora não tivesse uma grande panóplia para nos encher os olhos, tinha de tudo um pouco.
Não me interpretem mal! Obviamente que numa escola devemos priorizar hábitos alimentares saudáveis. Na minha escola, por exemplo, há oferta de fruta às quartas e sextas-feiras por parte da Câmara Municipal. E claro que concordo, que não pode haver de tudo no bar à descrição.
Mas isto tem um outro lado: os alunos do 3.º ciclo e do secundário, na sua grande maioria, estão autorizados a sair da escola pelos próprios encarregados de educação (à hora de almoço, por exemplo). Logo, vão comprar o que querem nos cafés e snacks-bar das redondezas. No bar da minha escola, as funcionárias não permitiam a compra de determinados produtos a toda a hora, nem todos os dias. Recusavam mesmo, quando viam que havia abusos nos alimentos doces (em escolas maiores, será mais difícil fazer esta vigilância, é certo).
Há outras apostas que devem ser feitas, como educar para comer. Os alunos trazem de tudo para os lanches da manhã e da tarde, como pacotes de batata frita e hambúrgueres para comer no intervalo das 10h (ninguém me disse, já vi). É preciso também esclarecer uma boa faixa de pais e encarregados de educação, mas infelizmente, quando chamados para assistir a sessões de esclarecimento na escola dos filhos, a adesão é reduzida.
Mostro sempre nas minhas aulas, na semana que abrange o Dia Mundial da Alimentação, a reportagem da SIC “Somos o que comemos” (ver aqui), e alerto que devem revê-la em família. Os alunos ficam perplexos com alguns dados. Embora sendo de 2015, continua a ter um retrato muito atual. Crianças que já revelam problemas de saúde normalmente atribuídos a adultos (colesterol elevado, hipertensão, diabetes e fígado gordo). Há uma frase que me choca nessa reportagem, dita por uma pediatra: “Os pais estarão vivos para presenciar estes problemas nos filhos”. Acho isto assustador!
Para além da promoção de hábitos alimentares, deve haver uma aposta séria no incentivo ao exercício físico, melhorando os equipamentos desportivos nas escolas, promovendo uma cultura de desporto e variando a oferta de modalidades.
Em suma, no bar da minha escola havia de tudo. Mas eu adorava as aulas de Educação Física e mexia-me. Fazia o trajeto casa-escola/escola-casa, de 20 minutos a pé e a bom ritmo, duas vezes por dia, todos os dias, desde a escola primária até ao 12º ano (o que representava já uma caminhada diária de 80 minutos). Via TV qb e convivia na rua.
Os tempos mudaram, a oferta alimentar tem de ser outra nos bares das escolas (é totalmente dispensável os palmiers cobertos, do tamanho de costeletas de vitela!), mas também é preciso mudar hábitos de vida. Incutir estilos de vida saudáveis que passem por alimentação equilibrada, convívio salutar e exercício físico regular.
Quando conseguirmos isto, poderemos conviver com uns bolinhos no bar da escola, ou não?
(texto da autoria de Sandrina Martins)
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