Assisti, no canal televisivo “Discovery”, a uma interessante reportagem sobre a maior fábrica de concentrado de tomate da Europa, sita algures na Inglaterra.
Em determinado momento, o locutor relatou que a
matéria-prima provinha dos campos de Salvaterra de Magos, onde as condições
climáticas estivais proporcionavam tomate de excelente qualidade. Logo pensei, “cá
está mais um produto português que proporciona a outrem o grosso da mais-valia
e dos lucros”. Na verdade, assim é. Os enlatados de tomate “made in England”
inundam os mercados internacionais, enchendo os bolsos aos da “velha Albion”,
enquanto os agricultores lusos apenas arrecadam as míseras migalhas do setor
primário.
O tomateiro, cientificamente denominado Solanum lycopersicum L ou Lycopersicon
esculentum, é sobejamente conhecido em todo o mundo, pelo que me dispenso
de detalhar os seus aspectos físicos. Direi apenas que, na Idade Média, o
tomate era desconhecido na Europa e foi só após a descoberta do Novo Mundo que
se divulgou por toda a parte este precioso fruto-legume. Os primeiros tomates
que chegaram à Itália eram amarelos e foram apelidados de pomodori (maçãs de ouro), como aliás, ainda hoje se diz no idioma
transalpino. Em todas as outras línguas subsistiu o vocábulo “tomatl”, da língua indígena “náuatle”,
oriunda do México. Inicialmente o tomateiro, sendo uma solanácea, foi olhado
pelos europeus com muita desconfiança, visto que todas as plantas dessa família
têm algo de tóxico. Na verdade, as folhas do tomateiro e os frutos verdes são
tóxicos. Temos, por isso, encetado uma campanha contra a nefasta moda que
grassa no nosso país de consumir saladas com tomate imaturo. Ainda por cima, há
quem o regue com vinagre, o que é altamente incompatível, provocando ácido
úrico e distúrbios digestivos. Os frutos, quaisquer frutos, devem ingerir-se, tão-somente
quando estão bem maduros e jamais verdes.
Há sensivelmente três décadas pratiquei durante escassos
meses alimentação macrobiótica zen e só a deixei porque nessa altura reinava no
meio um radicalismo feroz que me desagradava. Havia um seguidismo quase
religioso em relação aos produtos japoneses e rejeitava-se absolutamente
alimentos correntes, como a batata e o tomate, argumentando-se que desobedeciam
aos princípios “yin-yang”, por serem demasiado “yin”. Como sempre gostei muito
de tomate, abandonei, sem me deter em mais filosofias científicas ou pseudocientíficas,
esse tipo de alimentação. Note-se que não estou a fazer nenhuma crítica à
macrobiótica que, de resto, evoluiu no nosso país. Refiro simplesmente um caso
de mero desajuste pessoal.
Bom, o tomate maduro é rico em licopeno, pro-vitamina A,
vitaminas do complexo B, vitamina C, vitamina P e vitamina K, possuindo também
minerais importantes como potássio, fósforo e cálcio e ainda frutose e ácido
fólico. Anote-se que o licopeno é altamente considerado na prevenção do cancro
da próstata e no reforço do sistema imunológico.
Como se sabe, o tomateiro é uma planta anual que também pode ser cultivada em estufas ou por processo hidropónico e está hoje espalhado por todo o mundo por causa da utilização do tomate na indústria alimentar. Há atualmente, por via de cruzadas hibridações, uma centena de novas espécies de todas as formas e feitios e de variegadas cores (vermelho intenso, rosa, amarelo, castanho, laranja, quase branco e até negro). As sementes do tomate são muito duradouras e resistem até à passagem pelo trato intestinal. Quando, em 1983, se instalaram as primeiras lagoas fotossintéticas da Estação de Águas Residuais de Alcochete, consideradas na altura, como modelares devido ao seu baixo consumo de energia, verificámos, com espanto, que nas margens das lagoas vicejavam robustos tomateiros.
Sobre o uso do tomate nas culinárias de todo o mundo, não me
pronunciarei, tal a sua profusão. Repetirei apenas um “chavão” conhecido: - com tomate, qualquer desajeitado dará um
excelente cozinheiro.
Ainda como planta medicinal, transmito as indicações do
reputado Dr. Oliveira Feijão que recomenda as cataplasmas das folhas do
tomateiro como emolientes para amolecer tumores, o tomate fresco cortado às
rodelas para aplicar localmente nas hemorróidas e o sumo do fruto fresco (sem
sal, acrescento eu) como diurético para beber várias vezes ao dia.
O tomate cru, bem amadurecido em meio natural, é refrescante,
aperitivo, alcalinizante e anti-cancerígeno.
Para terminar, quero também referir um curioso aspecto
lúdico, citando a famosa festa da “Tomatina”, em Buñol (Espanha), em que os
participantes protagonizam uma voluptuosa guerra, arremessando tomates uns aos
outros. É sem dúvida um desperdício e a maneira menos racional de lidar com os
tomates, mas cada um é que sabe.
Miguel Boieiro
(texto da autoria de Miguel Boieiro, Vice-presidente da Direção da SPN)
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