Antigamente, esta planta que a seguir vamos analisar, era muito mais conhecida do que hoje. A razão é simples: os camponeses andavam quase sempre descalços por esses campos fora e tinham que abrir bem os olhos para não se picarem nos terríveis espinhos que revestem os frutos da Tribulus terrestris L.
Trata-se de uma plantinha rastejante, anual, levemente pilosa,
que chega a estender-se por um metro de extensão. As suas folhas são opostas,
agrupando-se numa dúzia de folíolos verdes esbranquiçados. As flores são
solitárias, possuindo cinco pétalas de amarelo-claro com cerca de 4 mm de
largura, que aparecem nas axilas foliares. Os frutos são secos e têm forma
estrelar com dois espinhos rígidos compridos e dois mais curtos. Alguns picos
chegam a ter 6 mm de extensão, o que dá para furar pneus de bicicletas. Agora
vejam lá o que acontecia aos pezinhos descalços se os respectivos donos não
abrissem bem os olhos!
Pelos motivos apontados, esta planta da família das Zigofilaceae nunca se mostrou simpática para humanos e animais, sobretudo quando atingia a madurez, sendo, para além disso, considerada uma incómoda infestante nos terrenos de lavoura. Em climas atlântico-mediterrânicos, os abrolhos têm ciclo anual, aparecendo a meio da primavera. Há décadas atrás, quando ainda não era frequente o regadio nas terras “galegas”, ou seja, nas terras arenosas, dizia-se que “ano de abrolhos era ano de fartura”. Tal acontecia sempre que o mês de maio era chuvoso, fazendo germinar abundantemente, milhãs, beldroegas e abrolhos, a competir com o milho e outras culturas.
Importa salientar que o nome “abrolhos” ou “abrojos” (em
castelhano) é atribuído a uma multiplicidade de plantas espinhosas que existem
nas regiões temperadas e subtropicais. No nosso caso, interessa apenas a Trubulus terrestris, que é a única que
conheço bem na nossa região.
Sob o ponto de vista científico e medicinal, as diversas
variedades de “trubulus” não estão
ainda totalmente estudadas. Sabe-se apenas que os frutos contêm uma substância
glucósida e que toda a planta possui ésteres saponificáveis, cujos efeitos
podem ser tóxicos se as doses tomadas forem elevadas. Detetaram-se ainda ácidos
gordos insaturados, potássio, taninos, resinas e um óleo essencial.
Eis as propriedades curativas mais reconhecidas: analgésica, hemostática,
cicatrizante, tónica, diurética, adstringente e
hipotensiva. Serve também nos casos de incontinência urinária e de pedra nos
rins.
Todas as aplicações internas devem ser suaves e mediante
vigilância médica. Recentemente redobrou o interesse por esta erva porque lhe
atribuíram sucesso em casos de infertilidade sexual, impotência e disfunção
eréctil. Tem sido, sobretudo, o Instituto Químico Farmacêutico de Sófia
(Bulgária) a sustentar, através das suas experiências laboratoriais, que o
extrato de “tribulus” faz incrementar
o nível da testosterona e de outras hormonas de cariz sexual e reprodutor.
Em todo o caso, sabe-se que a planta está, desde há muito,
bem cotada na Medicina Tradicional Chinesa, como tónica cardiovascular e nas práticas
ayurvédicas indianas, como afrodisíaca.
Para terminar, refere-se que existem à venda diversos
medicamentos com extratos desta planta, sob a forma de cápsulas ou de gel, mas
só através de receita médica.
Há também quem recomende, em usos externos, a decocção para
banhos, compressas e fricções.
Quem quiser arriscar o “chá”, deve ferver o conteúdo de uma
colher pequena de flores e folhas secas em meio litro de água e beber duas
chávenas por dia, de preferência, fora das refeições.
Miguel Boieiro
(texto da autoria
de Miguel Boieiro, Vice-presidente da
Direção da SPN)
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