- Conheces o cilantro? Dizem que é uma aromática fantástica!
Estávamos em mais um dos muitos colóquios sobre as PAM
(Plantas Aromáticas e Medicinais), para os quais tenho sido assiduamente
convidado, e a pergunta vinda daquele amigo deixou-me embaraçado.
- Não! Não conheço, mas
olha, não tenho a veleidade de conhecer todas as plantas, nossas irmãs, que
connosco coabitam. De resto, é incomensuravelmente mais, mesmo muito mais, as
que desconheço!
Respondi contrafeito e logo prometi a mim mesmo, procurar o
tal cilantro que, segundo o meu amigo,
seria profuso nas regiões temperadas. Concluí que afinal, ele se referia
simplesmente ao Coriandrum sativum,
ou seja, ao vulgar coentro, cuja utilização é quase quotidiana na nossa cozinha.
Cilantro é a designação castelhana
que, na maior parte dos países hispânicos americanos, passa a culantro e noutras regiões, a salsa chinesa ou salsa árabe. Para evitar confusões quanto às nomenclaturas, nunca
deixo de colocar o nome científico nas minhas toscas croniquetas botânicas.
Tais confusões surgem amiúde mesmo que se reproduzam imagens. Neste caso, elas
seriam totalmente desnecessárias porque toda a gente conhece os coentros e sabe
que coentros e rabanetes vão à mesa do
rei, como diz a canção.
Quando falo de coentros, vem-me à memória a visita efetuada à
aldeia do Coentral. Alguém conhece esta terra perdida nas serranias da Lousã? E
vejam, cá estão, mais uma vez, as plantas a influenciar as toponímias. Ora há
duas décadas, se tanto, a Sociedade Portuguesa
de Naturalogia decidiu realizar o seu acampamento anual nas imediações de
Castanheira-de-Pera, bem no sopé da Serra da Lousã. Fizemos então uma caminhada
até aos tradicionais neveiros onde se guardava o gelo que, com muito esforço,
chegava à corte e à mesa do rei, o qual, segundo parece, adorava gelados.
Depois descemos a serra pela parte sul e descansámos na típica povoação do
Coentral que, a despeito do seu atraente casario e de outras agradáveis
amenidades urbanas, só contava, na altura, com cerca de cem habitantes. Calhando,
hoje ainda terá menos, mas basta-lhe a originalidade do nome para lhe conferir
vetusta personalidade.
O Coriandrum sativum, uma das cerca de 3700 espécies que integram a família das Apiaceae, é uma erva tenrinha, prima da salsa, mas com folhas menos brilhantes e mais arredondadas. As flores, assimétricas, surgem no cimo dos delicados ramos quando a planta espiga, brancas e rosadas e são muito aromáticas como aliás, toda a planta. A raiz, esbranquiçada, é alongada e pivotante. As folhas superiores, pendentes nos caules eretos que chegam a atingir meio metro de altura, ficam mais pequenas do que as basais. Por sua vez, as sementes são globulosas, tendo de 3 a 6 mm de diâmetro.
Julga-se que os coentros são nativos da Europa meridional, norte de África e Ásia menor. Eles preferem solos leves e permeáveis dos climas temperados, resistem ao frio mas não suportam ventanias nem encharcamentos.
Têm como principais constituintes, óleo essencial, cálcio,
ferro, magnésio, fósforo, potássio, zinco, selénio, betacaroteno, tiamina,
niacina e riboflavina. Descobriu-se recentemente que também possuem um álcool
com ação antibiótica que atua contra a salmonela, chamado dodecanol.
Na gastronomia, como sabemos é bem grande a sua versatilidade.
Para além de servir para guarnecer e alindar os pratos, tornam-se
indispensáveis na cozinha indiana (currries,
masalas…), na árabe e na etíope, sem
esquecer as nossas açordas alentejanas, os pezinhos de coentrada e outros
acepipes. Devido ao sabor acre, cítrico e picante das sementes, elas são
utilizadas nalguns países para aromatizar o gim, a cerveja e o vinagre. De
resto, constituem também um excelente digestivo quando mastigadas após as
refeições, aliviando as dores de estômago ocasionadas por comidas pesadas.
No entanto, há pessoas que não gostam de coentros pois acham
que têm sabor a sabão (?). Em minha opinião, deveriam provar uma deliciosa sopa
confecionada à base de coentros como a que costuma ser servida no Restaurante Alfoz
(passe a publicidade). É de comer e chorar por mais!
(texto da autoria de Miguel Boieiro, Vice-presidente da Direção da SPN)
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