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sábado, 19 de março de 2022

“Cogumelos silvestres comestíveis” por Sandrina Martins


O outono já passou, mas eles ainda andam aí!

Com o outono a colorir a paisagem em tons de amarelo, vermelho e castanho, e as primeiras orvalhadas a trazerem o cheiro da terra húmida, despontam no campo os cogumelos silvestres.

Considerados “super alimentos” de outono, os cogumelos (que pertencem ao reino Fungi) têm imensas vantagens nutricionais: pobres em calorias e gorduras, ricos em proteínas e fibras, fonte de vitamina B2, B3, B5 e D, e de sais minerais como o selénio, fósforo e cobre. Acresce ainda a existência de substâncias anti-oxidantes e com capacidade de estimular o sistema imunitário.

Passear no campo com temperaturas amenas, pisar camadas de folhas e procurar cogumelos, é uma ótima atividade a fazer com amigos e família. Mas cuidado! A colheita requer um bom conhecimento das espécies comestíveis. Deixo aqui algumas dicas:

1. Procure participar em passeios micológicos – são comuns no interior do país (Beira Interior e Trás-os-Montes). Organizados por técnicos agrónomos com o apoio das juntas de freguesia, estes passeios são seguros, pois são orientados por conhecedores. Basta levar calçado e roupa confortáveis, uma cesta, uma navalha e ouvidos bem abertos para assimilar todo um manancial de informação sobre cogumelos.

2. No caso de não haver passeios organizados, vá com uma pessoa da sua inteira confiança – nas aldeias, a colheita de cogumelos silvestres, é uma atividade comum que passa de geração em geração. Estas pessoas estão habituadas a colher sempre as mesmas variedades. Para alguns, é apenas para consumo próprio, mas para outros é uma fonte de rendimento sazonal, pois vendem-nos a bom preço. Os espanhóis são grandes consumidores, e os franceses adoram chegando a pagar 30 euros/kg! (Já não falo das famosas trufas negras…)

3. Para começar, aprenda a reconhecer uma variedade – sendo um iniciante, o melhor é procurar apenas uma variedade. Com o tempo, ganhará mais confiança e poderá procurar outras.

4. Observe bem o que colhe – analise bem o que traz para casa e aconselhe-se com alguém se tiver dúvidas. Basta comer um cogumelo tóxico no meio dos comestíveis para desencadear uma intoxicação severa e provocar a falência dos rins ou do fígado, e muitas vezes não há tempo para efetuar transplantes. Se uma pessoa, com a qual não tem confiança, lhe oferecer um saco de cogumelos silvestres, não os consuma. Na dúvida, deite fora! Até os comestíveis devem ser consumidos com moderação e não todos os dias.

Existem já alguns guias disponibilizados (exemplo aqui) para reconhecer todas as espécies de cogumelos que podemos encontrar em Portugal, com as devidas fichas de identificação e a sua classificação em comestíveis, tóxicos e mortais.

O seu sabor mais intenso ou suave está relacionado com as características do terreno onde se encontram. Há variedades em bosques de carvalhos ou castanheiros e outras encontram-se em pinhais e isso nota-se no paladar.

Se formos várias vezes para o campo e trouxermos grandes quantidades, teremos de os conservar, e nesse aspeto, os cogumelos são versáteis. Depois de limpos (e quando digo limpos, basta apenas raspar com cuidado a terra que trazem, não devem ser lavados), podemos deixá-los secar, conservar em boiões de vidro esterilizados ou congelá-los.

São ótimos em risottos, a acompanhar pratos de carne, em omeletes ou simplesmente salteados com sal, pimenta e muita salsa picada. O segredo também passa por não serem demasiado cozinhados para se manterem crocantes e carnudos.

Partilho com vocês as variedades que consigo reconhecer por transmissão familiar e que encontramos nos meses de setembro e outubro na Beira Alta. Há outros bem conhecidos, mas não os encontrámos ainda por não ser a época deles, como os famosos míscaros ou os tortulhos.



Nome científico: Boletus edulis

Alguns nomes vulgares: Cepa, Cabeçudo, Pé gordo

Designação comercial: Boleto-de-Bordéus

Locais: carvalhais e terrenos incultos com estevas; solos ácidos




Nome científico: Amanita Caesarea

Alguns nomes vulgares: Ovo-do-rei, Amanita- dos-césares, Ovo-da-rainha, Laranjinha

Designação comercial: Amanita-dos-césares

Locais: soutos e carvalhais; locais abertos e soalheiros





Nome científico: Cantharellus cibarius

Alguns nomes vulgares: Giroles, Cantarelas amarelas, Sanchas

Designação comercial: Cantarelo

Locais: cobertos de folhosas, pinhais e arbustos; aparecem em grandes grupos


(texto da autoria de Sandrina Martins;

todas as fotos são de autoria de: António Pinheiro Vinhas)

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