Calcorreando mundo, dilatamos saberes que nos tornam mais humildes e tolerantes face às diferenças e aos fenómenos inabituais do nosso quotidiano. Insiste-se que a diversidade é uma característica que deveremos encarar como riqueza e não como ameaça.
A participação no 96º Congresso Alemão de Esperanto, realizado em Neumünster de 7 a 10 de junho de 2019, bem como os salutares convívios daí resultantes, fortaleceram ideias e acrescentaram conhecimentos, robustecendo assim o nosso ânimo para porfiar na busca de novas aprendizagens. Mas não vamos enfastiar os queridos leitores com narrativas detalhadas sobre mais este notável congresso do idioma internacional, paradigma da paz e da amizade, nem com as interessantes visitas culturais às cidades de Neumünster, Lübeck, Buxtehude e Hamburgo, até porque o contexto da presente croniqueta reside essencialmente na fitoterapia.
A vegetação que nos foi dado observar no norte da Alemanha
neste fim de primavera é substancialmente diferente da verificada em Portugal.
A verdura é uma constante e as plantas, de tão viçosas, irradiam felicidade. Caminhando
cerca de 8 quilómetros na periferia do lago Einfelder, verificámos a exuberância
das espécies arbóreas: choupos, áceres, castanheiros-da-índia, carvalhos,
amieiros, salgueiros, bétulas, robínias, sabugueiros, tílias, rododendros, faias,
espinheiros-alvares e quanto a ervinhas simples: milefólios, milfuradas,
dentes-de-leão, artemísias, pés-de-leão, labaças, urtigas de folha pontiaguda,…
Árvores de fruto só enxergámos macieiras, pereiras, cerejeiras e ameixeiras.
Também avistámos extensos trigais já com as espigas a amadurecer e,
surpreendentemente, campos de milho a brotar em leiras espaçadas.
Como de costume, de entre tanta diversidade, vou escolher uma
espécie das que mais me fascinaram, para aprofundar conhecimentos sobre os seus
méritos. Subsistiram diversas hipóteses: sabugueiros proeminentes e
abundantemente floridos? Lindos rododendros com as suas flores lilases?
Avantajadas tileiras? Não! Desta feita, escolho uma erva. Vai ser o pé-de-leão.
Encontra-se, com frequência a Alchemilla vulgaris, da família botânica das Rosaceae, no norte da Europa incluindo a Islândia e a Gronelândia.
Em Portugal é bastante rara, sendo inexistente na região mediterrânica.
Todavia, há algumas referências no Alto Alentejo (Dr. Oliveira Feijão) e uma
subespécie, Alchemilla transiens, na
Serra da Estrela (site Flora-on).
Eis a descrição da que vimos frequentemente no norte da
Alemanha: erva perene que pode atingir 40 cm de altura com rizoma lenhoso e
caule ereto. As folhas de verde-claro são grandes, nervadas, pilosas,
arredondadas, palmadas e bastante pecioladas. As flores, que se agrupam em
panículas no cimo do caule, são pequenas, sem pétalas, de cor verde-amarelada.
A característica inconfundível do pé-de-leão é o facto de as suas folhas fixarem
as gotas da chuva e do orvalho, o que deu azo a grandes lucubrações durante os
tempos antigos. Acreditavam os alquimistas que essa água pura armazenada nas
folhas seria matéria-prima para alcançar a famigerada pedra filosofal.
O prestígio da planta nesses tempos medievais era também
grande devido à utilização no tratamento dos transtornos femininos: menstruações
dolorosas, menopausas, irritações vaginais e outros problemas ginecológicos.
Pensava-se, inclusive, que podia servir para recuperar a virgindade perdida e
tornar os seios mais atraentes após a aleitação.
Quimicamente, o pé-de-leão, ou manto-da-senhora, como se
designa em alemão e noutros idiomas, contém taninos, ácido salicílico, ácido
palmítico, ácido esteárico, saponósidos e resinas.
Entre as propriedades mais conhecidas desta planta medicinal
conta-se a de ser adstringente, hemostática, analgésica, cicatrizante,
bactericida, tónica e reguladora da circulação sanguínea, melhorando a elasticidade
venosa.
Para além das suas comprovadas qualidades para tratar
dismenorreias e leucorreias é também útil nos casos de cistites, úlceras
varicosas, gotas, diarreias, colites crónicas, gastrites, irritações da
garganta, úlceras cutâneas, anginas, diabetes, obesidade,…
O pé-de-leão pode ser utilizado em infusão, deitando água
fervente para cima da planta fresca (uma folha basal ou sumidade florida por
chávena) ou em decocção (50 g da planta seca para um litro de água, ferver durante
5 minutos e repousar 10 minutos). Deve-se tomar três chávenas por dia antes das
refeições.
Externamente (uso tópico) pode-se aplicar em compressas,
lavagens, gargarejos e irrigações vaginais.
Agradeço à minha amiga Jutta Chikato, que por três dias nos
alojou principescamente na sua residência, o facto de me ter chamado a atenção
para esta útil plantinha que vicejava no seu jardim.
Miguel Boieiro
(texto da autoria
de Miguel Boieiro, Vice-presidente da
Direção da SPN)
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caro leitor, acrescento que, relativamente ao Voucher de Desconto a
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de Naturalogia em Lisboa, que já faz parte da intitulada «área
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