Apesar de, naquele inverno, a neve ter caído com inusitada frequência em regiões onde há muito não nevava e malgrado as camadas de geada se terem formado mesmo em terras do litoral, o clima está a mudar e o aquecimento global é um facto que se deteta, mesmo à vista desarmada.
Quando D. Dinis indagou sobre o que sua esposa levava no regaço, a rainha respondeu – São rosas, meu senhor! - Rosas em janeiro? - Espantou-se o soberano. Naquele tempo era impensável colher rosas no inverno, o que não acontece atualmente (em pleno janeiro, apanhei um “bouquet” delas, no meu quintal). Seria igualmente impossível ter produções de bananas, anonas e abacates e hoje elas já aparecem em muitos lugares da nossa região atlântico-mediterrânica. Isso mostra que o clima está mesmo a mudar, o que denota aspetos negativos, mas também positivos. Em meu entender, convém que estejamos atentos para mitigar os primeiros e aproveitar os segundos.
Tudo isto vem a propósito da cultura do abacateiro, uma árvore extraordinariamente benéfica para a nossa saúde, mas de que ainda não sabemos retirar os adequados proveitos.
A Persea americana é uma árvore elegante,
originária da América Central, onde, em estado selvagem, logra atingir
O abacateiro, pertencente à família das Lauraceae, possui ramagem abundante, com folhas grandes, perenes, oblongas e alternadas. As flores são brancas e pequenas, sendo polinizadas por abelhas e outros insetos, de forma cruzada, ou seja, convém que haja várias espécies por perto para facilitar a polinização. Os frutos assemelham-se a peras, com casca áspera de cor verde ou violácea. A polpa é amarela-esverdeada, gordurosa e macia e o caroço é grande, cilíndrico e compacto.
Do
imenso rol de propriedades medicinais, referem-se as seguintes: adstringente,
afrodisíaca, anti-anémica, antidiarreica, anti-reumática, antioxidante, carminativa,
cicatrizante, digestiva, diurética, emoliente, tónica capilar, vermífuga,
anti-raquítica, anti-inflamatória, etc., etc.
Das folhas: Infusão de
Do caroço: “Chá” do caroço tostado e moído para combater a diarreia e a disenteria. O caroço macerado em vinho branco, durante, pelo menos vinte dias, é utilizado como afrodisíaco (beber um ou dois cálices diariamente). O pó do caroço, diluído em água, é bom para as varizes. O caroço ralado macerado em álcool serve para preparar fricções contra o reumatismo.
Dos botões das flores: Mezinhas para a libido e para as perturbações dos órgãos sexuais femininos.
Das cascas dos frutos: “Chá” para eliminar vermes intestinais.
Do óleo: Tendo uma consistência química idêntica à do azeite, combate eczemas, irritações da pele e calvícies.
Dos frutos: A polpa consumida fresca com mel, funciona como afrodisíaco. Com azeite, iogurte natural e um pouco de sal, prepara-se um creme de barrar que substitui, com vantagem, a margarina e a manteiga. Experimentem também a “mousse” de polpa de abacate, ficando a mistura dos ingredientes ao critério de cada um. (o restaurante do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian prepara um que é divinal).
E que tal um creme amaciante para a pele com a polpa do fruto misturado com mel? Depois de aplicar deixa-se cerca de 40 minutos e retira-se com água fria.
Das
imensas virtudes do abacate e das mil maneiras de o consumir gastronomicamente,
poderíamos fazer extensas dissertações. Fiquemos, no entanto, por aqui.
Incita-se os leitores a usar a imaginação e a efectuar experimentações de âmbito culinário porque esta preciosa fruta é compatível com muitos outros alimentos. Deixamos apenas um ligeiro alerta: o abacate oxida com facilidade depois de retirada a casca, escurecendo de imediato e produzindo radicais livres. Por conseguinte, devemos consumi-lo sempre fresco.
(texto da autoria de Miguel Boieiro, Vice-presidente da
Direção da SPN)
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