Quando repeti a visita ao deslumbrante arquipélago de Guadalupe deparei-me com uma atraente feira de produtos naturais e de imediato adquiri o folheto ilustrado com o sugestivo título “La Banane – une Plante importante de notre Biodiversité”, editado pela Association pour les Plantes Médicinales et Aromatiques de Guadeloupe”.
Ele resume admiravelmente o percurso da bananeira desde a sua
origem na remota Papuásia-Nova-Guiné, até se difundir por todas as regiões
tropicais do planeta. Descreve depois as suas inúmeras variedades cultivares e
finaliza com três apetitosas receitas. Foi esse simples desdobrável, o
inspirador de mais esta croniqueta.
Não é fácil abordar a bananeira segundo as leis da ciência
botânica porque permanece confusa a sua taxonomia. Embora atinja uma altura que
frequentemente ultrapassa os 10 metros, a bananeira não é uma árvore, mas sim
uma erva-gigante. O seu tronco, ou melhor, o pseudotronco, é formado por um
caule rizomatoso donde partem grandes folhas, cujas bainhas estão dispostas em
espiral e fortemente apertadas umas às outras. Do rizoma inicial brotam
regularmente novos rebentos. Cada rebento cresce e dá fruto uma só vez, sendo
depois cortado para dar lugar ao seguinte. As folhas da bananeira são simples,
inteiras, pecioladas, verde-claras, brilhantes, oblongas, chegando a ter 4
metros de comprimento por 1 metro de largura. As flores, hermafroditas,
envolvidas em brácteas acastanhadas ficam pendentes em espiga terminal, dando
seguimento aos frutos que são bagas alongadas e curvilíneas, como toda a gente
bem sabe.
Mas espantoso é que esta herbácea da família das Musaceae que dá pelo nome de Musa x paradisiaca (atenção: o “xis” significa que a espécie é híbrida) possui flores masculinas estéreis e os frutos não têm sementes. Portanto não existe fecundação e as bananas surgem através de partenocarpia. Consultado o Grande Dicionário da Língua Portuguesa de José Pedro Machado, publicado pela saudosa Sociedade da Língua Portuguesa, temos o significado da arrevesada palavra: “Produção de frutos sem formação de sementes e geralmente sem prévia fecundação”. Confesso que do alto da minha ignorância fiquei deveras surpreendido!
Diz-se que há cerca de 7 mil anos, as formas selvagens oriundas do sudeste asiático, concretamente a Musa acuminata e a Musa balbisiana, cujos frutos policárpicos eram providos de numerosas pevides negras, angulosas e duras, foram gradualmente domesticadas, sofrendo hibridações, mutações e seleções em metamorfoses incessantes provocadas pelo Homem, até alcançarem atualmente o pujante mercado à escala planetária, dominado em 60% por três multinacionais americanas. Refere o folheto, acima mencionado, que a produção mundial é na ordem dos 110 milhões de toneladas, sendo mais de metade para consumir como recurso cozinhado (plátanos) por mais de 400 milhões de pessoas dos países tropicais.
Parece que a palavra “banana” provém de um remoto idioma do
golfo da Guiné e foi transmitida pela língua portuguesa a todos os países
ocidentais (só os espanhóis preferem dizer “plátano”).
Há mais de mil variedades deste fruto feculento e nutritivo
conhecido em toda a parte e que desempenha um papel determinante no tratamento
de várias doenças. É rico em vitaminas B6, B12, betacaroteno, potássio, magnésio,
cálcio, ferro, cobre, manganés, hidratos de carbono, ácido fólico, fibras …
Controla a pressão arterial, absorve o mau colesterol, combate a depressão, a demência, a osteoporose, as doenças da pele, as cãibras, o envelhecimento precoce, protege o sistema nervoso e o sistema ocular. Diz-se ainda que o consumo de bananas para além de constituírem um sublime alimento sempre disponível em todas as épocas do ano, ajudam a prevenir o cancro do cólon e dos rins e podem aumentar a libido masculina (?).
As bananas verdes, ainda não totalmente amadurecidas, também
são comestíveis. Elas possuem maior teor em amidos os quais se transformam
gradualmente em açúcares (glucose, sacarose e frutose) à medida que vão
amadurecendo. O consumo dumas e doutras depende do gosto e da finalidade que se
pretende atingir. De resto, a fruta é extremamente versátil e adaptável a
milhentas utilizações em doçaria e em pratos cozinhados. Por mim, gosto de a
assar no forno solar, cortada simplesmente às rodelas numa vasilha de pirex.
Fica uma delícia!
Também a casca e as flores podem ser usadas vantajosamente em
culinária pois não possuem quaisquer contraindicações.
A terminar, acrescento que 130 países alavancam a sua
economia na produção de bananas, sem contar com as da Madeira que, para nós,
são especiais pelo seu fino paladar. Atualmente os maiores produtores são a
Índia, a China, as Filipinas, o Brasil e o Equador. Este último país, a
despeito da sua escassa dimensão, é o principal exportador.
(texto da autoria de Miguel Boieiro, Vice-presidente da Direção da SPN)
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