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quarta-feira, 27 de abril de 2022

"Cajueiro" por Miguel Boieiro



Alguma vez tomaram cajuína? E feni, já o provaram? As explicações sobre estas bebidas ficam, por ora, a abeberar e a espicaçar a curiosidade dos leitores. Mais à frente esclarecerei!

O cajueiro é uma pequena árvore tropical que, por enquanto, não vegeta na Europa, mas o seu fruto seco, o caju, é por demais conhecido. Referira-se que o nome caju (planta frutífera) provém do idioma tupi que depois se transmitiu à língua portuguesa e daí ao inglês (cashew). No entanto, em francês denomina-se anacarde (coração invertido, do grego) O seu nome científico foi designado por Anacardium occidentale, espécie da família botânica das Anacardiaceae.

O cajueiro é comum nas regiões com climas quentes e húmidos. Sendo nativo no nordeste brasileiro, foi levado pelos Portugueses do século XVI para as suas colónias africanas e asiáticas. A árvore tem, à volta de 5 a 12 metros de altura, tronco tortuoso e ramificado e folhas ovais verde escuras. Avistei-a, pela primeira vez, em Goa, nos idos de 2005 e jamais me esqueço da observação de um querido amigo goês: - Os Portugueses trouxeram o caju do Brasil para a Índia e agora somos dos principais produtores e, em contrapartida, levaram o café daqui para o Brasil, país que se tornou o principal produtor de café. Mais tarde, em 2014, na visita a amigos esperantistas brasileiros, tive oportunidade de conhecer melhor esta típica árvore no estado do Piauí.

Já em 2021, por altura da Exposição Internacional realizada no Dubai, retirei do pavilhão da Costa do Marfim o elucidativo livrinho “Savourez le bon goût des Produits Derivés de L’Anacarde”, destinado a promover a comercialização da fileira do caju daquele país africano. São, quase todos, do referido documento, os dados informativos que a seguir se transmitem.

O caju é composto por duas partes: o pedúnculo floral, dilatado, em forma de coração com cor amarela, vermelha ou rosada que é um pseudofruto, e o fruto, propriamente dito, formado por uma pequena drupa  acastanhada.

No tocante à primeira parte, temos um ”fruto” (chamemos-lhe assim, só para simplificar) comestível, frágil, carnudo, doce e suculento que pode atingir 10 cm de comprimento. É riquíssimo em vitamina C (cinco vezes mais do que na laranja), cálcio e ferro. O seu abundante sumo, açucarado e ligeiramente perfumado, fermenta com muita rapidez o que dificulta a sua comercialização. Não obstante, ele é matéria-prima para bebidas alcoólicas e não alcoólicas, xaropes, compotas, vinagres e “cocktails” vários.

A cajuína constitui um suco delicioso inigualável, sendo o símbolo cultural de Teresina, capital do Piauí. É o resultado da clarificação, filtração, pasteurização e caramelização dos açúcares os quais fornecem uma tonalidade de âmbar a esta bebida refrescante destituída de aditivos químicos. Infelizmente a produção é escassa e pouco passa do nordeste brasileiro. Que pena! Por outro lado, o feni, que parece, só se fabricar em Goa, é obtido da cuidada fermentação do suco. Em 2005, as garrafas do feni mais divulgado em Goa estavam rotuladas com a designação “Salazar”. Provei-o, mas não gostei, ou porque fosse demasiado alcoólico ou, por me recordar o hediondo fascismo. Gostei bastante mais da cajuína.

São atribuídas ao pseudofruto fresco, ou como dizem na Costa do Marfim, à “pomme de cajou”, várias propriedades terapêuticas: beneficia a visão, os ossos e o funcionamento cardiovascular, previne os cálculos renais, controla a diabetes, facilita a digestão e aumenta a imunidade.



Quanto à castanha de caju, cuja produção mundial excede anualmente as 4 milhões de toneladas, ela contém uma espécie de amêndoa rica em proteínas, fibras, magnésio, ferro, cobre, zinco, fósforo, potássio, vitaminas K, E, PP, e quase todas do complexo B (exceto a B12), ácidos gordos e hidratos de carbono. De notar que a castanha se divide, grosso modo, em quatro subprodutos: a casca exterior que serve como combustível, a resina corrosiva com diversas aplicações industriais, o tegumento que reveste a amêndoa, para rações de animais e a amêndoa ou noz que é, de longe, o subproduto de maior importância comercial.




Como se sabe, é essa amêndoa reniforme, crua ou torrada, que se encontra à venda em todo o mundo, detendo um valor nutricional elevado e proporcionando apreciados manjares “gourmets”. O livrinho que obtive acrescenta algumas receitas de aperitivos, saladas, sobremesas e pratos de resistência, de fazer crescer “água na boca”. De entre os maiores produtores (Brasil, Vietname, Filipinas, Indonésia, Guiné-Bissau, Índia), destaca-se atualmente a Costa do Marfim. Este país africano produziu em 1990 apenas 19 mil toneladas, mas em 2018, chegou às 715 mil, tornando-se o maior produtor mundial.

Acrescente-se que o caju, para além do seu valor proteico que nos regimes vegetarianos pode substituir vantajosamente a carne, contém um óleo insaturado que faz baixar o colesterol LDL. Tal óleo é também aconselhado para massagens, tratamento do couro cabeludo, queimaduras solares, confeção de shampoos e sabonetes.

Miguel Boieiro.

(texto da autoria de Miguel BoieiroVice-presidente da Direção da SPN)

  

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