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quarta-feira, 4 de maio de 2022

"Ginseng" por Miguel Boieiro

Em 1990 visitei uma extensa plantação de ginseng na vertente duma colina perto de Kaesong, uma das principais cidades da República Popular Democrática da Coreia (Coreia-do-Norte). Dizem que é neste longínquo país asiático, fortemente ostracizado pelos media ocidentais, que se pode encontrar a famosa planta na sua máxima potencialidade. Julga-se que o termo “ginseng” é proveniente do mandarim, mas em coreano a planta é conhecida por “insam”.

Esforcei-me por me integrar, dentro do possível, nas realidades da península coreana, dividida militarmente e contra natura em duas partes. Digo contra natura porque ao visitar também a Coreia do Sul, por diversas ocasiões me apercebi que se trata de um só povo, uma só nação com o mesmo idioma, tradições e costumes, e que a população de ambas as partes deseja ardentemente a reunificação da sua pátria milenar. Não é agora a altura oportuna de comentar sobre a presença massiva de militares norte-americanos na região, nem de entrar em questões políticas que têm suscitado e continuam a suscitar polémicas agudizadas por noticiários pouco isentos.



Tenho que, para mim, a RPD da Coreia me faz lembrar a célebre aldeia gaulesa do Asterix da banda desenhada que, isolada, resistia bravamente no bojo do império romano. Aproveito para recomendar a quem for para estas bandas, que deixe de lado preconceitos considerados “verdades” absolutas pela persistência do uso e se conserve suficientemente humilde para tentar compreender processos inabituais que, não obstante, devem merecer todo o respeito. Adiante!

 Pois na Coreia, o insam é uma verdadeira panaceia, ou seja, é remédio para todos os males. Aliás, o nome científico da planta é significativamente Panax ginseng sendo o termo panax proveniente do grego e que quer dizer panaceia.

 Os coreanos incorporam a raiz de ginseng em diversos medicamentos, dentífricos, sabonetes, perfumes, cremes faciais, refrigerantes (insamsul) e até na alimentação. Voltei à RPD da Coreia por mais duas vezes, em 1992 e 2000, integrando, na última ocasião, uma delegação constituída por dois empresários e dois autarcas. Na altura, um dos elementos do grupo regressou com uma provisão razoável de pequenos tubos com umas bolinhas prateadas que serviriam, depois de chupadas, para aliviar as dores de cabeça e despertar o apetite sexual. Nem queiram saber! A fama atribuída às tais bolinhas fez com que, à chegada, elas desaparecessem num ápice, seduzindo amigos e conhecidos.



O Panax ginseng pertence à família das Araliaceae e é uma pequena herbácea vivaz cuja raiz grossa, carnosa e fusiforme tem aspeto antropomórfico. Ela atinge, na sua plenitude (após pelo menos 6 anos a seguir à sementeira), 2 cm de diâmetro por 20 ou 30 cm de profundidade. É nitidamente uma erva de crescimento muito lento. Tem folhas pecioladas e compostas formadas por cinco folíolos elípticos. As inflorescências agrupam-se num pequeno “bouquet” de 15 a 30 flores púrpuras com cinco pétalas. Os frutos são drupas vermelhas envoltas em cinco brácteas lanceoladas. Cada fruto costuma integrar uma a três pequenas sementes. A planta desenvolve-se nas regiões frias dos vales montanhosos do extremo oriente, entre os paralelos 36 e 38. Não gosta de sol direto. As plantas que enxerguei possuíam, todas elas, um pequeno resguardo superior para as proteger. Na altura julguei que seria por causa da geada, mas depois elucidaram-me que era para prevenir a insolação.

 A raiz do ginseng é utilizada, diria quase endeusada, desde há 5 mil anos pela medicina tradicional chinesa por causa dos seus extraordinários princípios ativos. Comprovou-se a abundante existência de constituintes bioativos (ginsenósidos), óleos essenciais, glúcidos, saponinas, ácidos orgânicos (cítrico, málico e outros), betacaroteno, vitaminas D, E e complexo B, zinco, cobre, magnésio, fósforo, ferro, etc.

É afrodisíaca, antidepressiva, anti-inflamatória, antioxidante, depurativa, diurética, tónica, revitalizante, hemostática, hipotensora, bio estimulante…



Trata diabetes, anemia, cancro, depressão, insónias, fadiga física e mental, stress ambiental, hipertensão e doenças crónicas, tonifica a pele do rosto, melhora a circulação sanguínea, relaxa o sistema nervoso, fortalece o sistema imunológico, previne as gripes, estimula a produção da testosterona e aumenta a quantidade e a qualidade dos espermatozoides. Em resumo: é, na realidade, uma autêntica panaceia.

Algumas contraindicações: não deve ser tomada por grávidas, mães que estejam a amamentar e por quem tenha doenças cardíacas agudas. Pode interagir com alguns medicamentos.

Das várias centenas de maneiras de tomar ginseng de que o mercado é farto, dado que o seu preço é elevado o que torna o negócio lucrativo, transcrevo a que me parece mais simples: 10 g de ginseng em pó dissolvido em água quente. Consumir 3 a 4 chávenas por dia durante 15 dias. Fazer pausa de uma semana e retomar o tratamento até sentir melhoras.

 Agradeço que depois me digam o resultado!


Miguel Boieiro

(texto da autoria de Miguel BoieiroVice-presidente da Direção da SPN)

  

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