Não podia deixar de realçar uma certa notícia que desde logo me revoltou imenso, publicada muito recentemente aqui, cujo título é “ONU acusa Rússia de declarar guerra alimentar ao encerrar portos”:
Há comida a apodrecer nos portos ucranianos. As Nações unidas dizem que há cada vez mais pessoas a passar fome.
A Rússia deixou
claro que os portos do Mar Negro vão permanecer bloqueados a menos que as
sanções sejam levantadas. O ocidente diz que não vai recuar enquanto a Rússia não
fizer o mesmo.
No entanto, há
toneladas de cereais e outros produtos ucranianos que, a não serem
transportados, acabam por apodrecer. As Nações Unidas falam de uma crise
alimentar.
David Beasley,
Diretor Executivo, Programa Alimentar Mundial da ONU, diz que, no caminho para
a fome, "passamos de 80 milhões para 135 milhões antes do COVID. E depois,
por causa do COVID, de 135 para 276 milhões de pessoas sem comida." David
Beasley vai mais longe: "Esse número, por causa da crise ucraniana, vai
aumentar para 323 milhões, pelo menos.".
Entretanto, não se pode também esquecer da trágica história
de Holodomor, significando, nada mais nada menos do que, um genocídio meramente
esquecido (ou escondido…): a fome da Ucrânia provocada por Stalin nos
anos 30 do século XX!
E no caso de Portugal, pode ler-se aqui
que, no dia 2 de março de 2017:
O Parlamento de
Portugal reconheceu a Holodomor de 1932-1933 na Ucrânia como Genocídio contra o
povo ucraniano (…), provocada pelo regime comunista totalitário de
Estaline, que terá causado a morte a cerca de 7 milhões de cidadãos ucranianos,
que, tal como é destacado na Resolução do Parlamento Europeu de 23 de
outubro de 2008, o Holodomor de 1932-1933, foi planeado de forma cínica e cruel
pelo regime comunista soviético, tendo como objetivo impor a política da União
Soviética de coletivização da agricultura.
Ou seja, isto tudo só para querer dizer que o povo ucraniano
tem sido muito massacrado ao longo da sua história, já para não falar da história por
trás da justificativa de Putin para invasão da Ucrânia:
"Tomei a
decisão de realizar uma operação militar especial. Seu objetivo será defender
as pessoas que há oito anos sofrem perseguição e genocídio pelo regime de Kiev.
Para isso, visaremos a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia",
afirmou Putin em um discurso televisionado, ao mesmo tempo em que mísseis e
forças armadas russas iniciavam uma incursão que atingiria todas as regiões do
país e deixaria centenas de mortos.
Inicialmente, o presidente
russo se dizia preocupado com a segurança nacional do país dada a expansão da
aliança militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no leste
europeu. Putin queria garantias de que a Ucrânia não seria admitida na aliança
- o que, em tese, permitiria aos EUA instalar bases militares na região vizinha
ao território russo.
Contudo, ao acusar
o atual governo ucraniano, comandado pelo presidente judeu Volodymyr Zelensky,
de ser nazista -- sem qualquer prova disso -, Putin extrapola preocupações
atuais e práticas com a segurança do país e mobiliza uma série de conceitos e
eventos históricos na região e que, de acordo com os especialistas, o ajudaria
a justificar para o mundo e especialmente para o povo russo as ações militares
contra um povo igualmente eslavo.
Putin evoca as
memórias coletivas dos ataques de Adolf Hitler na Europa, especialmente da
invasão dos nazistas contra a então União Soviética, e a noção de genocídio e
limpeza étnica contra um povo - nesse caso, contra os separatistas russos na
Ucrânia - e tenta caracterizar seus atos não como agressão a um outro país,
como o acusam Ucrânia, EUA e Europa Ocidental, mas como uma tentativa de
defesa.
"A Segunda
Guerra Mundial é ainda hoje uma parte importante da cultura e da política
russa, e a falsa afirmação de que o governo ucraniano hoje é como o governo
aliado nazista da Ucrânia na Segunda Guerra Mundial ou o Exército de Libertação
Ucraniano (o grupo que lutou ao lado dos nazistas) é uma tentativa de moldar a opinião
russa em relação ao atual governo ucraniano", afirmou à BBC News Brasil
Adam Casey, cientista político especialista em Rússia da Universidade de
Michigan, nos Estados Unidos.
Em contrapartida, Stoltenberg
diz que alargamento da NATO tem sido um "sucesso histórico":
O secretário-geral
da NATO defendeu hoje que o alargamento da aliança atlântica tem sido "um
sucesso histórico", após falar com os chefes da diplomacia da Suécia e da
Finlândia, países que se preparam para pedir adesão à Aliança Atlântica sem
ceder às ameaças de Moscovo.
E repare-se que:
A
Ucrânia saiu vencedora da Eurovisão, num sinal de união da Europa pela luta do
povo ucraniano!
E para terminar temos que a
agressão militar da Ucrânia pela Rússia suscitou preocupações quanto à
segurança alimentar na UE e a nível mundial:
Poderá haver
impactos a curto e médio prazo para os produtores devido ao aumento dos custos
de fatores de produção como a energia, os combustíveis, os fertilizantes e os
alimentos para animais, bem para fatores que possam afetar os preços dos
produtos finais.
Os ministros da
Agricultura da UE reuniram-se pela última vez em 7 de abril de 2022 para
debater a situação do mercado. Concordaram que o abastecimento alimentar na UE
não estava em risco, graças à política agrícola comum (PAC).
Já por volta de março
de 2014, em particular devido à anexação da Crimeia e de Sebastopol e ao
crescendo de tensão com a Ucrânia, que a UE vem impondo medidas restritivas à
Rússia. Estas assumem diversas formas: medidas diplomáticas, medidas
restritivas individuais (congelamento de bens e restrições de viagem),
restrições às relações económicas com zonas ocupadas do território ucraniano
não controladas pelo seu Governo, sanções económicas e financeiras e restrições
à cooperação económica.
Leiam-se, portanto, os momentos-chave
para perceber o conflito Rússia-Ucrânia, sendo como que uma viagem no
tempo, em texto e imagem, pelos acontecimentos mais marcantes que conduziram à
invasão russa em larga escala em território ucraniano.
Mas será que estas medidas chegarão para fazer face a uma
polémica cada vez mais devastadora, cujas consequências continuaram a fazer eco
no cenário geopolítico mundial??
Mónica Rebelo, fundadora da Revista P´rá Mesa.
Sem comentários:
Enviar um comentário