Neste afã quase doentio de esmiuçar características das plantas úteis para o bem-estar dos seres humanos, tenho naturalmente privilegiado as espécies espontâneas que brotam na região atlântico-mediterrânica onde soe habitar.
Não
obstante, de vez em quando, atrevo-me a uns “raids” pelas que aqui se naturalizaram
ou pelas que, pelo seu uso frequente em tempos de pandémica globalização
consumista, acabaram por se tornar correntes.
Atrevo-me,
desta feita, a abordar a soja, de seu nome científico Soja hispida, ou Glycine soja,
ou Glycine max, leguminosa quase
desconhecida no Ocidente há uma centena de anos, mas que, pela sua
versatilidade, alcançou merecido prestígio, tornou-se moda e alavancou
benefícios vários, especialmente os de natureza económica.
A soja,
oriunda dos confins asiáticos, dá para tudo em termos de alimentação. Substitui
a carne, o leite, o queijo (tofu), as
natas, o azeite, a farinha, os condimentos e similares (miso, tamari, shoyu, tempeh, natto), integrando acepipes sem conta,
modelados pelo sabor e pela criatividade dos gastrónomos.
Na 4ª edição
do “Traité Pratique de Culture Potagère pour l’Afrique du Nord “ de
Hippolyte Truet, editada em Argel em 1944, era já bem extenso o rol de
utilidades atribuídas a este vegetal. Em densas nove páginas de letra miudinha,
o autor detalha aspetos sobre as origens da que chama “ervilha chinesa” ou
“feijão oleaginoso”, da sua cultura e reprodução, das exigências do solo, dos
cuidados de reprodução, da colheita, do rendimento e bem assim, do vasto leque
de utilizações industriais que já então se configurava. Curiosamente, refere
que os alemães (recorde-se que estávamos em 1944) haviam armazenado milhões de
toneladas de soja para extração do respetivo óleo, o qual transformado em glicerina,
servia para a fabricação de explosivos destinados à nefasta guerra.
No best-seller “Fifty Plants that
Changed the Course of History “, de Bill Laws, a soja é elencada como
grande protagonista.
Parecendo
ser uma dádiva sublime da natureza, eis que a revista “Alternatif bien-être”
de abril de 2020, vem suscitar a reflexão dos leitores com a seguinte questão –
Poder-se-á ainda consumir soja?
A pergunta
tem a ver com a constatação de que 77% da soja, hoje existente no mercado,
provém de culturas transgénicas provenientes dos EUA, do Brasil e da Argentina.
Estes três países detêm atualmente 81% de toda a produção mundial, baseada em
Organismos Geneticamente Modificados (OGM) com enormes riscos para o ambiente e
para a saúde humana, realçando-se o emprego do famigerado glifosato. Acresce
ainda que no Brasil, o cultivo da soja constitui a primeira causa da desflorestação
amazónica. Menciona-se seguidamente que a soja entra direta ou indiretamente na
confeção de variados alimentos transformados, como sejam margarinas,
vinagretes, bolachas, iogurtes, batatas fritas e carnes, já que a leguminosa
integra, em grande escala, as rações dos animais estabulados.
Temos, pois,
que estamos perante a ânsia desenfreada da obtenção de lucros em que vale tudo,
desde que acarrete vultosos rendimentos imediatos aos negociantes da
agro-indústria e do comércio alimentar.
Avancemos finalmente
para descrição desta famosa leguminosa da família da Fabaceae que começou por ser, há 3 mil anos, uma das culturas
sagradas da China.
A planta
pode crescer até um metro de altura. Os caules, as folhas e as vagens cobrem-se
de pequenos pelos cinzentos. As folhas apresentam-se trifoliadas e costumam
cair antes da completa maturação das sementes. As pequenas flores são
auto-férteis, brancas ou púrpuras. Cada vagem pode ter até quatro grãos de
formato esférico ou elíptico.
Hoje existem mais de mil variedades de soja, as quais necessitam de
verões quentes e húmidos para vicejarem. Os seus grãos contêm cerca de 20% de
gordura e 36% de proteínas com quase todos os aminoácidos essenciais. Como se
depreende, o seu valor nutricional é bastante elevado se atentarmos que também
integram cálcio, magnésio, ferro, zinco, potássio, fósforo, cobre, vitamina C e
vitaminas do complexo B.
São
apontadas as suas virtudes no combate à astenia, ao colesterol elevado, à
fadiga, à convalescença, à desmineralização, à diabetes, à osteoporose e aos
transtornos cardiovasculares e da menopausa. A lecitina do respetivo óleo é considerada
um valioso suplemento alimentar para induzir o bom funcionamento do cérebro,
coração e fígado.
Todavia,
pesquisas recentes apontam possíveis inconvenientes com o abuso da ingestão de
produtos à base de soja, nomeadamente para quem sofre de hipotiroidismo, já sem
falar nos perigos para a saúde que podem advir da soja transgénica, hoje
infelizmente, muito generalizada.
(texto da autoria
de Miguel Boieiro, Vice-presidente da
Direção da SPN)
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