Numa das viagens que fiz ao extremo oriente, fui encontrar num recanto de um esmerado jardim botânico o Chrysanthemum coronarium que, abusivamente, aportuguesei de “crisântemo coroado”.
Vulgarmente, esta planta comum é tratada indiscriminadamente como malmequer, nome com que também se designa o pampilho das searas (Chrysanthemum segetum) e outras numerosas flores compostas. Então, para evitar mais confusões, avancei para crisântemo coroado, aguardando as correções dos especialistas botânicos da nossa praça. Aproveita-se para informar que os ingleses a chamam de “Crown Daisy” e os espanhóis “Mirabeles” ou “Pajaritos”.
Muitos dos que me estão a
ler, hão-de perguntar, por que diabo aparece agora uma planta em que ninguém
repara e que provavelmente só tem servido para alimentar coelhos.
Pois enganam-se, caros
leitores. Esta erva que existe em profusão nos terrenos incultos e nas bermas
dos caminhos, é altamente apreciada nos países orientais, de tal maneira que a
cultivam e a apaparicam como se fosse uma valiosa especiaria. E, no entanto,
aqui, na região em que é originária e cresce espontaneamente, de tal modo que
em plena primavera, é talvez e erva mais visível nos nossos campos, ninguém dá
um chavo por ela.
Então, que préstimo é que
dela tiram os japoneses e os chineses? Em primeiro lugar, comem-na, como boa
iguaria, em sopas e saladas. É verdade, as folhas tenrinhas são usadas para
confecionar sopas aromáticas juntamente com outros legumes. Por sua vez, as
pétalas das flores ornamentam as saladas e dão-lhe um toque gustativo que as
sublima em termos de paladar.
Mas para além disso, as flores são lindas, com a sua corola amarela, cujo colorido, extravasa para as pétalas brancas, levemente dentadas. Poderia vantajosamente integrar a vegetação dos nossos jardins públicos e privados, em vez de se importarem espécies de difícil e onerosa manutenção.
O Chrysanthemum coronarium é tipicamente mediterrânico, tão
proeminente, que o podemos classificar como infestante. Embora florindo na primavera,
temos encontrado esta planta espantosamente em flor, durante todas as estações
do ano.
É da família das compostas ou Asteraceae, como já se aludiu e como todos os crisântemos é bastante aromática por conter óleos essenciais. A planta é anual e possui talos ramificados com folhas alternas muito recortadas e flores em capítulos radiais, cuja corola é de um amarelo vivo, sendo as pétalas brancas na maior parte da sua extensão. Aproveita-se para dizer que coabita com esta planta, outra variedade de crisântemo que se distingue deste, apenas porque as suas flores são totalmente amarelas.
Análises químicas efectuadas
nos EUA a 100 g de folhas secas do crisântemo coroado, apresentaram os
seguintes valores:
292 calorias, 27,7g de proteínas,
50,8g de hidratos de carbono, 4,6g de gorduras, 969 mg de cálcio, 523 mg de
fósforo, 38,5 mg de ferro, sódio e potássio.
Encontraram-se também
vitaminas A, B1, B2, B6 e C, entre outras.
Estes elementos encontram-se
divulgados, mas não temos condições de os aferir e as suas quantidades poderão
não corresponder exatamente às plantas que existem na nossa região.
Para além da sua
característica edível, a planta tem particularidades medicinais, por ser
aromática, expectorante, purgativa, estomáquica e amarga.
É igualmente apontada como
repelente de insetos nocivos para a agricultura e, portanto, protetora dos
campos cultivados.
Posto isto, vamos ver quem vai começar a utilizar esta erva tão “desprezível” na gastronomia portuguesa, seguindo o exemplo criativo dos povos orientais.
(texto da
autoria de Miguel Boieiro, Vice-presidente da Direção da SPN)
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