Apesar do meu entusiástico deleite de escrever sobre espécies vegetais, mormente das que podem ser utilizadas em fitoterapia, procuro ter algum cuidado e só abordar as que me proporcionam algum contacto, nem que seja apenas visual.
Discorrer sobre o que não conheço não é meu princípio, até por uma questão de respeito pelos meus assíduos e pacientes leitores. Naturalmente que, quando se gosta de determinada temática, somos amiúde atraídos para o esforço da pesquisa a fim de sabermos um pouco mais. No meu caso concreto, não será demais acentuar que, a despeito de alguns afirmarem que sei muito de botânica, isso não corresponde à verdade, nem de longe nem de perto. Sou apenas um fervoroso amador, no sentido de que amo e nada mais.
A extraordinária complexidade do reino da botânica,
constituído por uma infindável multiplicidade de viventes e suas facetas
engenhosas para sobreviver e progredir, obriga-nos a ser humildes. Obriga-nos a
arredar a pretensa superioridade de seres “inteligentes”, convidando-nos a
estar atentos e a aprender perante os ensinamentos propiciados pela divina
natureza da qual fazemos parte integrante.
Colocados estes considerandos, vamos então referir uma
utilíssima planta, que faz parte do quotidiano por variadíssimas razões, mas
que o vulgo que nos rodeia desconhece, por não ser espontânea na nossa região.
Falamos do algodoeiro que Lineu batizou por Gossypium
herbaceum, arbusto que integra a simpática família das Malvaceae, como a malva, a alteia, o hibisco, a lavatera e outras
mais.
Enxerguei, pela primeira vez, e de longe, um campo de algodoeiros quando fui à Turquia, país que é um dos maiores produtores mundiais de algodão. Recentemente, nas espaçosas ruínas do Templo de Apolo (Chipre), um admirável santuário que englobou tempos arcaicos, helenísticos e romanos, surripiei um pedaço de algodão, da planta mãe que estava num vaso, logo à entrada. Ninguém viu, mas na verdade, senti um pouco desconforto pelo “roubo” cometido, praticado apenas por insaciável curiosidade. Que as catrefadas de deuses do santuário me perdoem pelo pecado cometido às portas do recinto sagrado!
Ainda mais recentemente, durante o excelente passeio que a
Casa do Povo de Alcochete promoveu para visitar a feira Ovibeja, veio-me parar
às mãos o folheto “A Fileira do Algodão – fibras naturais do Alentejo”.
Tal folheto, editado pela ADPM (Associação de Defesa do Património de
Mértola), trouxe ao meu conhecimento que, no sul do País, já se produz algodão
numa área de 453 hectares que deu aproximadamente 1500 toneladas (registos de
2002).
Ora no que respeita ao Gossypium
L, há a referir que nas regiões tropicais e subtropicais há cerca de 40
espécies, sendo algumas utilizadas para produção do nosso conhecido algodão.
São arbustos que podem atingir 7 metros de altura, providos
de caules ramosos, folhas largas palmatilobadas com glândulas negras oleosas,
flores solitárias de pétalas brancas ou rosadas e sementes envolvidas por
camadas de fibras enroladas. Tais fibras, celulose quase pura, possuem
durabilidade, resistência e absorção, propriedades que exponenciam o seu valor
comercial. Do que se faz com o algodão-em-rama e da indústria da sua tecelagem não
adiantamos mais porque é abundante a divulgação no que respeita às suas
ancestrais utilizações.
Falemos antes do algodoeiro como planta medicinal com uso
popular corrente nas regiões onde prolifera livremente. Muita gente desconhece
que com as folhas do algodoeiro se pode fazer uma tisana. Tal “chá” tem o
condão de aliviar dores, cicatrizar feridas, reduzir os níveis de açúcar no
sangue e ajudar na prevenção de doenças cardíacas. A tintura, preparada a
partir do óleo das sementes, estimula o aumento de leite materno. A decocção da
casca que reveste a raiz previne hemorragias internas e dores nas articulações.
Dizem que até inibe o crescimento de células cancerosas, devido a conter uma
substância única chamada “gossipol”.
Na composição química das sementes, para além do princípio ativo gossipol, há a registar tanino, amido, matéria proteica, fenol, celulose e ácidos gordos, em especial o palmítico, o esteárico e o pectínico.
Toda a planta é hemostática, galactagoga, diurética, anti
glicémica, antimicrobiana, antidiabética, anti-helmíntica e anti-inflamatória.
No entanto, “não há bela sem senão”! Foram detetados efeitos
colaterais que diminuem o interesse nos tratamentos de fitoterapia que de resto,
devem ser sempre seguidos por especialistas. Verificou-se, por exemplo, que
baixam a produção de espermatozoides e que, por isso, não devem ser utilizados
por homens em idade fértil. No que toca às mulheres grávidas, dizem que podem
provocar malformações nos fetos e até ocasionar abortos espontâneos.
Ficam, pois, estes apontamentos para espicaçar interesse e satisfazer eventuais curiosidades sobre uma planta deveras importante, mas quase desconhecida entre nós.
(texto da autoria de Miguel Boieiro, Vice-presidente da Direção da SPN)
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