As infusões e as decocções de plantas vulgarmente designadas por chás, embora não o sendo, uma vez que os verdadeiros chás são os que provêm da Camellia sinensis e não de outras espécies vegetais, tornou-se uma moda corrente.
Ainda bem, já que podem substituir vantajosamente bebidas alcoólicas,
gaseificadas ou açucaradas que pomposamente são intituladas como digestivas.
Há, grosso modo, dois tipos de “chás”: os que funcionam como mezinhas e são pouco
agradáveis ao paladar, como o do fel-da-terra ou o de alcachofra, os quais
bebemos com sacrifício, e os que são prazenteiros, embora, às vezes, com
escassos efeitos medicinais. Num caso e noutro, para além do bom estado de
conservação das plantas utilizadas, há que ter sempre em conta a qualidade da
água em que são submergidas.
Sem dúvida que a invenção das saquetas contendo extratos de plantas secas
tem facilitado a comercialização e a difusão dos “chás” e simultaneamente vêm
dilatando os lucros dos negociantes que, segundo nos alertaram, chegam até a
acrescentar corantes e aromatizantes artificiais para aliciar incautos
compradores. Não nos podemos esquecer que, nesta sociedade capitalista
neoliberal em que nos é dado viver, o lucro constitui sempre o fator dominante,
determinando as alterações de comportamento dos cidadãos consumidores.
Esta conversa introdutória vem a propósito da recomendação de uma querida
amiga para escrever sobre o hibisco, planta que proporciona uma deliciosa
infusão com uma agradável coloração carmesim muito agradável à vista, porque
“os olhos também bebem”.
Ora os hibiscos, plantas da nobre família das Malvaceae, são
arbustos que se encontram cultivados em muitos jardins públicos e privados como
plantas ornamentais (temos um no quintal que, quando está no cio com exuberante
floração, suja-nos a roupa com o seu pólen alaranjado). Segundo julgamos saber,
trata-se do Hibiscus rosa-sinensis, mas não é esse o que agora
queremos.
A crer no magnífico Guia da Flora de Portugal Continental, de
André Carapeto, Paulo Pereira e Miguel Porto, editado em 2021, pela
Imprensa Nacional, temos cá, espontaneamente, em estado silvestre, apenas
o Hibiscus palustris. É, entre nós, uma espécie muito rara e em
perigo de extinção que surte em solos húmidos, na orla das madres de água,
algures na Beira Litoral. Tal asserção é também confirmada no “site” Flora-on.
Mas, também não é esse o que pretendemos para fazer o nosso “chá”.
Das centenas de espécies de hibiscos que existem no mundo, com destaque
para o syracus, o abelmoschus, o elatus e
o esculentis (quiabo), o que verdadeiramente nos interessa
para elaborar a afamada tisana, é o Hibiscus sabdariffa, planta
predominante nas regiões de climas quentes.
Todos os hibiscos possuem folhas simples, alternas, ovais ou lanceoladas
com margens levemente dentadas. As flores dispõem-se em forma de trombeta e são
normalmente de cor vermelha, embora, por virtude de hibridações e cruzamentos
há, nos hibiscos ornamentais, flores amarelas, brancas, lilases, rosas, etc. Os
cálices florais têm cinco sépalas e o mesmo número de pétalas providas de longo
pistilo carregado de profuso pólen.
Para confecionar o “chá” de Hibiscus sabdariffa utilizam-se
não só as pétalas, mas os próprios cálices florais. A infusão fica com uma
coloração vermelha bastante atraente e um agradável sabor agridoce.
Diz-se que o referido hibisco contém antocianinas, as quais proporcionam a característica cor avermelhada, mucilagens, ácidos cítrico, málico e tartárico, provitamina A, vitamina C e do complexo B (B1, B2 e B3), cálcio, cobre, ferro, fósforo e magnésio.
Investigações efetuadas apontam para propriedades medicinais relevantes:
redução da hipertensão (três chávenas diárias), curas de emagrecimento,
controlo do colesterol e regulação da função hepática. Refere-se ainda que a
planta é antioxidante, anti-inflamatória, calmante, adstringente, diurética e
levemente laxante.
O “chá” é muito apreciado em Itália e na maior parte dos países africanos.
No Senegal, Malásia e Havai, a própria flor é considerada emblema nacional. Nos
países caribenhos é famosa a chamada “Água de Jamaica” que agrega gengibre e um
pouco de rum, para tomar fria ou quente. Devido à existência de mucilagens, é
também possível elaborar apreciáveis geleias.
Os entendidos acrescentam que uma boa parte dos hibiscos ornamentais que se
veem nos nossos jardins podem ter índices elevados de toxinas e que, por isso,
as suas flores não devem ser utilizadas para fazer “chás”. No
entanto, há quem refira que também possuem propriedades curativas, nomeadamente
que acalmam a tosse e as anginas. Na dúvida, é melhor não experimentar e
cingirmo-nos só às flores da espécie sabdariffa, com, ou sem
gengibre e umas gotinhas de rum.
(texto da autoria de Miguel Boieiro, Vice-presidente da Direção da SPN)
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