«Eu sou o Francisco Silva com 78
anos de idade e aqui, em Alter do Chão, a nossa gastronomia é “arroz amarelo
com ensopado de borrego”! E quando eu tinha 8 anos, eu via a
minha mãe a fazer, e eu adorei esta criação de “açafrão de alter”!»
Realmente,
o açafrão, para além de ser utilizado como especiaria, dando origem a
ótimas receitas a ver com risotos, massas, sopas, doces, etc, tem imensas
propriedades medicinais benéficas para o nosso organismo, por sua vez concentradas
no filamento da sua flor.
Mas para se conseguirem obter os melhores resultados possíveis ao nível da sua produção, neste caso de açafrão-bastardo, deverá ser semeado em outubro, para depois, sem quaisquer regas, ser secado à sombra e ter muito cuidado com a criação de borboletas, podendo estas arruinar todo o processo de uma só vez!
E conta-se que, antigamente, em Alter do Chão, bem para lá dos 200 anos, não havia nenhuma festa de casamento ou batizado onde não fosse servido o “arroz amarelo” confecionado com açafrão de Alter!
(fotografia retirada daqui)
E o Sr. Francisco Silva, mais conhecido por Mestre Xico, lá continuava a dizer o seguinte:
“Há
quem diga que foi o missionário Francisco Garcia Mendes que trouxe o açafrão de
Goa! Aposta-se na medicina, pois tem muita coisa de valor!
Eu
comecei a gostar disto, depois fui para a Câmara onde trabalhei 6 anos e fiz
uma horta para as crianças no Jardim do Álamo…
E
eu comecei a apostar nisto e fiz crescer sementes para todas as Câmaras aqui
dos arredores…
(fotografia retirada daqui)
Há
uma ciência, que são as minhas mãos, e a minha inteligência, e as tradições são
para ser ensinadas: eu aprendi com a minha avó e eu gosto de fazer isto…
E dei a todos, até aos miúdos da Escola Agrícola: a professora pediu-me explicações para saber como é que se devia secar: não seque ao sol, que isto é tudo manual, seque à sombra e vai-se virando, tratando com muito cuidado, pois podem criar-se borboletas e comem-no todo…
(fotografia retirada daqui)
No meu sentido, há uma maneira de colocar a semente na terra…
É
uma ciência simples, mas a maneira de eu trabalhar…
Eu
luto por Alter do Chão, gosto muito da minha terra, aqui batizei e casei, formei-me
e comecei a fazer isso sempre, sempre!
Fazia no meu quintal e depois passei a fazer no Jardim do Álamo…
(fotografia retirada daqui)
Mas
agora, já estou reformado e já não estou na Câmara, pois vem muita gente de outros
países perguntar por mim e pela semente do «açafrão de Alter», a açafroa, que tem
muitas qualidades, e eu tenho a segunda melhor do mundo, porque aproveito a
qualidade, pois olho para 50 castanholas, que é como eu lhes chamo, e escolho 5
ou até posso escolher só 1, que é aquela que eu vejo que é a mais pura semente…”
Para terminar, não podia deixar de partilhar consigo, meu caro leitor, a receita mais fidedigna e tradicional de Alter do Chão, tendo sido gentilmente cedida pelo Posto de Turismo, a quem eu desde já agradeço a disponibilidade para o fazer:
RECEITAS NA CATEGORIA DE MOMENTOS ESPECIAIS:
Ensopado de Borrego com Arroz Amarelo
(fotografia retirada daqui)
Ingredientes: (4 pessoas)
· Sal q.b.
· ½ di de azeite
· 1 Cebola
· 3 Dentes de alho
· 1 Folha de louro
· 2 Cravinhos
· Colorau e noz-moscada q.b.
· 1 Chávena de água quente
· 1 Chávena de caldo do ensopado
· 1 Colher (café) de açafrão
Confeção:
- Corte a carne em pedaços, tempere-os com os alhos e sal e deixe assim uma horas.
- Num tacho, leve ao lume o azeite e a cebola picada e, quando alourar, junte a carne, o louro, colorau, noz-moscada e os cravinhos e deixe refogar um pouco; junte então a água necessária para cozer a carne e para ficar com caldo para arroz; deixe apurar, sem cozer demasiado e sirva depois com o arroz.
- O arroz: seque o açafrão em forno pouco quente (já apagado), depois pise-o, dissolva-o na água quente e passe depois por um passador.
- Num tacho, leve ao lume o arroz com o caldo do ensopado e a água do açafrão e deixe cozer.
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