Tiramisù ou… “Tira-me isso (da frente, caso contrário como tudo...)”, é daquelas sobremesas que nunca falha nem desilude, acertei?
Por acaso
sabia, meu caro leitor, que tiramisu é o nome de uma das sobremesas
tipicamente italianas mais famosas do mundo, mas que também ganhou fama de ser
algo afrodisíaco graças à combinação perfeita entre café e chocolate, sendo
estes considerados verdadeiros estimulantes?
Venha então daí descobrir comigo,
quem são, afinal, as fundadoras da marca Tiramisusi, para além de serem
mãe e filha, e como é que tem sido a sua integração em Portugal, preparado?
1) No
site www.tiramisusi.pt , está
escrito que “O Tiramisusi é a criação da nossa família
italiana que, depois de muitos anos longe uns dos outros, se reuniu em Lisboa”,
por isso, eu pergunto: como é que tudo começou, quem é a cozinheira e qual a
origem do nome “Tiramisusi”?
Antonella e a Susanna: Somos
a Antonella e a Susanna, mãe e
filha. A minha mãe (e o meu irmão Danny) viveram em Espanha, em Nerja
(província de Málaga) durante 15 anos; eu (Susanna) morava em Londres.
Decidimos encontrar-nos em Lisboa.
O tiramisù sempre esteve presente na nossa
mesa, por isso a ideia de vendê-lo nasceu um pouco como uma brincadeira, mas
incentivada por todas as pessoas sempre o provavam e diziam adorar. Começámos a considerá-lo como uma
possibilidade concreta por volta de janeiro de 2021.
Como em todo o lado, com a pandemia, a operação
no setor do turismo, onde a minha mãe e o Danny trabalhavam, reduziu
drasticamente. O lado bom foi o tempo que ganharam para se reinventar e dedicar
a este novo projeto.
A ideia
de nos mudarmos para Lisboa já estava nos planos pré-pandemia: a minha mãe
decidiu encarar esta situação mais difícil e transformá-la nesta oportunidade,
antecipando as suas vindas e iniciando este projeto.
A mãe Antonella, 55 anos, é a Chef e
impulsionadora do projeto; eu, Susanna, cuido da marca e do marketing.
O nosso nome,
Tiramisusi, é inspirado na
história da nossa família e homenageia a Susi (eu), fã número um do tiramisù da
mãe Antonella!
2) Foi fácil a vossa integração em Portugal? Sentem-se felizes a viver em Campo de Ourique?
Antonella e a Susanna: Achamos
os lisboetas muito abertos e acolhedores. Lisboa tem o equilíbrio perfeito
entre ser internacional e ao mesmo tempo ser local e autêntica.
Por acaso, acabamos por ir morar num bairro
fantástico: Campo De Ourique. Lojas de artesanato e produtores locais,
restaurantes de fazer inveja e pastelarias cheias de gulodices que nos engordam
(já não somos viciados apenas por tiramisù)! E adoramos o sentido de comunidade
e vizinhança!
3) Acham
que os estrangeiros a viver em Portugal deverão sentir-se apoiados ou o que é
que, na vossa opinião, ainda falta fazer,
tendo em conta a vossa experiência?
Antonella e a Susanna: Definitivamente,
sentimo-nos muito apoiados pelas pessoas: todos se esforçam para comunicar
connosco, mesmo quando o nosso português está ainda a dar os primeiros passos,
e são abertos a experimentar coisas novas. Talvez, a nível burocrático, pudesse ser
um pouco mais fácil...
4) Qual é a origem dos vossos ingredientes
e respetivos fornecedores?
Antonella e a Susanna: Como
dissemos antes, a mãe faz sempre tiramisù - bem, para nós, “sempre”, para ela,
há provavelmente 35 anos. Mas quando considerámos seriamente a ideia de fazer
disto um negócio, ela questionou tudo o que sabia, pesquisou e experimentou
muito.
Queríamos permanecer fiéis à tradição da nossa
família e à tradição italiana, mas era igualmente importante para nós, integrar
ingredientes locais – pensando na sustentabilidade, mas também celebrar a fusão
de culturas e histórias, para conhecer e dar a conhecer. Um dos aspetos que mais gostámos foi o de conhecer as
pessoas, as histórias e os lugares por trás dos produtos que usamos. Por ser um
produto fresco, a qualidade dos ingredientes é muito importante para o paladar, mas também para a segurança alimentar –
por exemplo, certificamo-nos de usar ovos pasteurizados no nosso creme.
O maior desafio veio dos biscoitos, que são
caseiros. Pesquisámos e experimentámos – ou melhor dizendo, a nossa mãe fez,
nós provámos. A farinha foi o foco
da nossa pesquisa e experimentação para a receita dos nossos biscoitos. A qualidade
da matéria-prima é essencial para garantir uma consistência e um gosto
perfeitos.
A investigação
e… o instinto conduziram-nos às Farinhas Paulino Horta: no papel eram os
fornecedores perfeitos, pessoalmente, ainda mais. Fomos conquistados pela
qualidade do produto e pelo conhecimento técnico, mas acima de tudo, pela
paixão e dedicação, que são para nós tão importantes quanto um bom cereal,
aroma e sabor.
A escolha
do café também foi muito importante. O tiramisù é uma sobremesa que evolui ao
longo das horas, logo os ingredientes devem funcionar em sinergia. Para nós,
era importante que o gosto do café pudesse ser sentido mesmo depois de horas em
que os biscoitos encharcados estivessem em contato com o creme, sem no entanto
se sobrepor aos demais sabores.
Aprendemos muito experimentando diferentes
blends com a Flor da Selva, fundada por uma família de torrefatores de café
desde 1950. A conselho deles, moemos os grãos um pouco antes de preparar o
café para cada tiramisù e isso ajuda a manter as propriedades aromáticas
intactas – e perfuma a nossa cozinha!
O nosso cacau é da Serra Leoa, é orgânico e é
fairtrade. O nosso fornecedor é a Iswari, uma empresa que cresceu mais do que
as suas origens artesanais e produção familiar,
mas sempre portuguesa de alma e fiel à sua missão de trabalhar com fornecedores
sustentáveis que respeitem a natureza, as pessoas e o ecossistema.
Muita pesquisa e experiências foram também feitas
para a escolha do mascarpone, um ingrediente chave. A minha mãe até fez
sessões de vídeo com um “casaro” (queijeiro) do sul da Itália para aprender a
fazer seu próprio mascarpone e conversámos com alguns fabricantes de queijo
locais para ver se podíamos produzir o nosso próprio – entendemos que nesta
fase não era o passo certo em termos do negócio e investimento, mas é algo a que
podemos voltar a pensar no futuro. Por enquanto, encontrámos o fornecedor
perfeito, em linha com a nossa filosofia e que nos dá o melhor sabor.
Mas
não vamos revelar este :)
5) E qual é que tem sido o feedback dos
vossos clientes?
Antonella e a Susanna: O
feedback e entusiasmo pelos nossos produtos tem sido incrível, superando as
nossas expectativas e dando-nos alegria e motivação todos os dias.
6) Como
é que fazemos então uma encomenda e em que locais é que também poderemos
encontrar o vosso produto pronto a comer?
Antonella e a Susanna: As
encomendas são feitas por WhatsApp no 936 819 028 ou por Instagram – até às 10h
para entrega no mesmo dia a partir das 15h e até às 20h para entrega no dia
seguinte a partir das 11h. Fazemos
entregas em Lisboa de segunda a sábado, mas gostaríamos de introduzir entregas
semanais também fora de Lisboa e em geral sempre fazemos o nosso melhor para
acomodar todos os pedidos (noutro horário / lugar).
O nosso tiramisù mono-porção está disponível em
lojas, mercearias, cafés, como Comida Independente, Consi.Go e Kitchenette Pop
Up Cafe, e em restaurantes e pizarias, como Pizzeria Maria, Pizzeria Rush, O
Quintal, Nonna Goes Grazy, Tem
Graça, Mãe…e há sempre mais parcerias a formar-se e que esperamos que sejam
finalizadas em breve. Siga-nos
no
Instagram e no Facebook para descobrir todas as novidades sobre
mercados e parcerias.
7)
Será que podiam contar, aos leitores da Revista P´rá Mesa, qual
é a vossa receita de
«tiramisu»,
ou preferem antes manter todos os vossos «truques» em segredo?
Antonella e a Susanna: O
procedimento para fazer o tiramisù em si é relativamente simples, mas como
qualquer simples, tudo está nos detalhes e na escolha dos ingredientes. As três coisas que podem alterar
significativamente o sabor do tiramisù são a consistência dos biscoitos, como
os ovos são batidos, a quantidade de café, creme e cacau em cada camada.
Os nossos biscoitos são inspirados por os “Pavesini”,
uma espécie de biscoito inventado por volta dos anos 1940 e que se tornou muito
bem-sucedido, sendo na nossa família, como em tantas outras italianas, os
biscoitos sempre escolhidos para fazer tiramisù. Embebem a quantidade certa de
café, mantendo a sua estrutura quando cobertos com creme: a perfeição é uma
linha ténue entre textura e suavidade.
A diferença
entre um tiramisù menos bom e um bom muitas vezes está na qualidade do creme
(lembre-se, nunca deve ser feito com natas!). E a diferença entre um bom
tiramisù e um excelente, muitas vezes está na quantidade de creme: no nosso vai
mesmo sentir o creme de mascarpone caseiro.
Portanto, o que torna o nosso tiramisù tão delicioso é a receita tradicional italiana, o amor e a atenção aos detalhes da mãe Antonella, os nossos biscoitos caseiros e os ingredientes de alta qualidade dos nossos produtores locais selecionados.
8)
Quais as vossas ambições para o futuro e se gostariam de adquirir um espaço
próprio?
Antonella
e a Susanna:
O nosso desejo é que o nosso tiramisu esteja facilmente disponível para todos
onde quer que estejam. Portanto, a nossa ambição é chegar a cada vez mais
pessoas – através de 3 canais principais: encomenda direta de clientes
particulares, parcerias e catering para eventos privados e públicos. Adoraríamos ir além de Lisboa também. A ideia
da loja é uma possibilidade, não é um plano iminente. No entanto, estamos
sempre abertos a oportunidades de crescimento!
9)
Será que gostariam de voltar a Itália
num futuro próximo?
Antonella e a Susanna: Somos
apaixonados pela Itália, está sempre no nosso coração e sempre que podemos
damos lá um salto. Mas, viemos para Lisboa com a ideia de ficar, é aqui que vemos a nossa casa para o futuro
próximo.
10) Alguma tradição ou costume de Itália que
gostassem de salientar?
Antonella e a Susanna: A Itália é um país com muita diversidade,
cheio de tradições locais que mudam de cidade em cidade, em poucos quilómetros.
É difícil escolher apenas um, talvez este pareça bastante peculiar: as crianças
colecionam latas de conserva durante o inverno, para depois, unidas e presas
com uma corda, correr e arrastando-as pela cidade fazendo barulho (muito
barulho!) no dia 31 de janeiro! Tudo isto para “acordar” a primavera! E,
claro, no final, todos se encontram para uma refeição. Chama-se, no dialeto local,
"tira li toli" – puxa as latas.
11) Para
finalizar: o que é que apreciam mais na gastronomia portuguesa?
Antonella e a Susanna: Adoramos
sua riqueza e diversidade – gostamos muito de experimentar coisas novas a toda
a hora, e ir adicionando mais à nossa lista de favoritos!
Já deu para perceber que adoramos bolos, pastéis de nata e doces – ficámos tão felizes por descobrir uma tradição tão rica em Portugal. Lisboa tem uma pastelaria a cada esquina. Che meraviglia!
Mónica Rebelo, fundadora da Revista P´rá Mesa.
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