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segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Dr.ª Catarina Fonseca, Diretora do Hotel Vila Galé em Alter do Chão, em Entrevista à Revista P´rá Mesa!


Para finalizar todo um conjunto de textos a ver com Alter do Chão, tenho o maior prazer em apresentar-lhe, meu caro leitor, a Exª Diretora do Hotel onde eu fiquei alojada no passado mês de agosto, do qual eu não me vou esquecer!

 

Se, por um lado, o setor do turismo foi bastante afetado pela pandemia, por outro lado, nem a própria crise impediu o Grupo Vila Galé de avançar com os investimentos inicialmente previstos, expandindo, assim, ainda mais a sua marca em Portugal e não só!

O Vila Galé Collection Alter Real – Resort Equestre, Conference & Spa, uma unidade hoteleira de quatro estrelas inaugurada em 2020, fica localizada em plena Herdade da Tapada do Arneiro, com cerca de 800 hectares, sendo como que um hino à história e ao património nacional que, com um investimento de 10 milhões, resulta da requalificação de algumas áreas da Coudelaria de Alter do Chão criada em 1748: a casa de campo, as antigas cavalariças, o edifício administrativo e as antigas pocilgas.

E se, aos 30 anos, a Dr.ª Catarina Fonseca foi distinguida como Melhor Jovem Diretor de Hotel no Congresso da ADHP, foi aos 16 anos que a sua paixão pela hotelaria realmente se iniciou, à qual se somou a sua resiliência e o facto de querer ir mais longe, procurando inspirar-se em quem admirava, mas também em quem a motivava a seguir em frente, para além de aliar a teoria à prática o mais possível, a fim de tomar as decisões mais acertadas!

Neste sentido, vamos então passar à grande entrevista estabelecida com a própria Diretora do Hotel Vila Galé Collection Alter Real, a Dr.ª Catarina Fonseca, a quem eu agradeço, desde já, a sua disponibilidade para me atender e responder a algumas questões:

1.    Como é que surgiu a hotelaria na sua vida?

Dr.ª Catarina Fonseca: Comecei o percurso na hotelaria com 16 anos. Nessa altura não imaginava que a minha vida profissional iria ser nesta área. Sempre tive uma enorme vontade de acompanhar os bons profissionais que trabalhavam comigo. Isso fez com que analisasse e identificasse a forma como trabalhavam, para conseguir fazer como eles e tentar atingir os seus níveis de performance.

A hotelaria veio a revelar-se tanto dogmática como versátil, com resultados muito distintos, dependendo não só dos produtos, mas sobretudo da abordagem usada pelas pessoas que executam e entregam esses produtos e serviços ao cliente. Esta abordagem pode assumir diferentes nuances, seja do ponto de vista estratégico da organização, da técnica ou do relacionamento. Estes fatores fizeram com que me fosse interessando e apaixonando pela área, até que entendi que o meu caminho académico e profissional teria de ser esse.

2.    E como é que tem sido a sua trajetória profissional, até chegar a Diretora do Hotel Vila Galé em Alter do Chão?

Dr.ª Catarina Fonseca: O início do meu percurso na Vila Galé é enquanto estagiária em 2009, tinha 19 anos. Na altura estava a fazer o Nível IV nas Escolas de Hotelaria e Turismo de Portugal.  Em 2014, com vinte e quatro anos, e já com alguma prática na hotelaria por diferentes experiências noutras unidades, concluí a licenciatura em Turismo na ESGHT, Universidade do Algarve. Nesse mesmo ano, beneficiando de uma bolsa de mérito, conseguida pela nota da licenciatura, iniciei o Mestrado em Direção e Gestão Hoteleira. Após a conclusão do ano curricular, assumi, em 2016, a posição de assistente de direção no Hotel Vila Galé Lagos.

Passei pelos Hotéis Vila Galé Ampalius, Vila Galé Marina e Vila Galé Elvas (este último a preparar a abertura). Em 2020 e um ano depois de me ter mudado para o Alentejo, surgiu o projeto de abertura do Hotel Vila Galé Collection Alter Real.

3.    Entretanto, também foi distinguida, aquando da entrega dos Prémios de Excelência na hotelaria, Xénios 2021, como Melhor Jovem Diretor de Hotel, correto? O que é que sentiu nesse momento áureo da sua vida e que tipo de conselhos poderá dar a quem ambiciona chegar ao cargo de Diretor de Hotel?

Dr.ª Catarina Fonseca: Creio que não haverá segredos para se progredir numa carreira profissional. Eu, pelo menos, não os consigo identificar. Há sim, uma imensa vontade de superação, que me move continuamente e da qual não faço segredo. Acredito que os fatores diferenciadores no meu caso sejam:

§  Comecei muito nova na hotelaria e criei a paixão por esse trabalho: gostar do que se faz parece-me ser uma base importante para construir uma carreira;

§  Paixão e inspiração podem fazer a diferença: tive a sorte de integrar equipas de grandes profissionais, que não só gostavam de ensinar, como eu também me sentia inspirada pelos seus exemplos e sempre com vontade de aprender mais.

§  Perceber e decidir, no momento certo, qual a melhor empresa para se trabalhar – após realizar estágios e trabalhos pontuais em diversos hotéis, inclusivamente fora de Portugal, candidatei-me ao estágio na direção no Vila Galé Lagos. Foi esse o momento em que se deu o clique, que me levou a decidir: “é nesta empresa que quero ficar e evoluir”. Já conhecia a marca VG através de um estágio realizado no Vila Galé Clube de Campo. O Grupo possui uma cultura própria, enriquecida e solidificada ao longo de muitos anos. A empresa foi constituída em 1986, mas o primeiro hotel abriu em 1988 – o Vila Galé Atlântico - e possui hoje 37 unidades localizadas em Portugal e no Brasil. Na marca VG, a vontade de crescer de forma consistente e sustentável, transpira para as pessoas e equipas que lá trabalham. A decisão de continuar no Grupo, e o facto de a VG reconhecer e aceitar essa minha entrega, terá sido crucial no percurso que me conduziu ao prémio melhor jovem diretor.

§  É importante fazer interagir, ao longo da vida, a experiência prática com formação académica adequada – não percebi esta necessidade de imediato, levou algum tempo. Os conceitos, modelos e ferramentas, captados nos ciclos de ensino universitário, foram fulcrais para expandir horizontes. A interação que mentalmente comecei a estabelecer, entre os novos conceitos que ia aprendendo e algumas práticas que já conhecia, fizeram-me crescer como profissional e como pessoa.

Sobre o que significa para mim o prémio melhor jovem diretor, que o júri do “Xénios 2021”, constituído por pessoas ligadas ao setor, decidiu na fase final atribuir-me, devo confessar que essa interrogação tem passado algumas vezes pela minha mente, durante o tempo que já decorreu após ter recebido o prémio. Hoje posso dizer que, ter obtido este reconhecimento aos 30 anos, me criou um misto de sensações, que envolvem orgulho, humildade, partilha, incentivo e responsabilidade acrescida.

4.    Aqui pode ler-se que «Francisco Calheiros, presidente da CTP, realçou (…) que "o turismo é sem dúvida um motor da economia portuguesa, reconhecido pela própria Comissão Europeia". Além disso, referiu, "os vários governos assim o afirmam, mas é necessário criar as condições para que tal continue a ser uma realidade, sobretudo tendo em conta a atual conjuntura económica e social".» Concorda?

Dr.ª Catarina Fonseca: Creio que acima de tudo seja necessária estabilidade no nosso País, temos uma oferta de qualidade, e também enormes oportunidades de evolução.  Acerca destas oportunidades e condições diria que é necessário a resolução da TAP e do novo aeroporto, desburocratizar a vinda de imigrantes.

5.    Por outro lado, pode ler-se aqui que «Portugal poderá ser considerado um “beneficiário líquido” da atual situação geopolítica no leste europeu. E se até à guerra, a localização do nosso país até era considerada uma desvantagem por ser periférica, agora é vista como uma mais-valia tendo em conta que poderá capitalizar um acréscimo de turismo.» Será que se confirma?

Dr.ª Catarina Fonseca: Temos de estar atentos acima de tudo aos impactes e aos desafios que advêm desta situação.

A inflação, estes aumentos nas energias e nos preços dos produtos alimentares pode originar futuras retrações no consumo. Aumentou a insegurança alimentar e a instabilidade política globalmente.

Portugal beneficia de uma vantajosa localização geográfica e tem estado na lista dos 10 pais mais seguros do mundo pelo GPI. É o sexto país mais seguro do mundo e o quinto da Europa. Esta segurança é sem dúvida decisiva para o sector do turismo.

Portugal tem sido considerado o Melhor Destino Turístico do Europa, as receitas e dormidas continuam a crescer para números recorde, o que faz com que Portugal se destaque como um dos destinos mais competitivos internacionalmente.

6.    Já agora: como é que estamos quanto a “férias cá dentro”, no que diz respeito ao número de hóspedes portugueses, comparativamente ao número de hóspedes estrangeiros?

Dr.ª Catarina Fonseca: A estrutura natural do mercado turístico português é de que as dormidas dos não residentes sejam superiores a 60%. Nos últimos dois anos (anos pandémicos) tal não se verificou. Este ano, e segundo os dados do INE e do BdP, esta quota está a repor-se. No Hotel Vila Galé Collection Alter Real, o número de hóspedes portugueses é bastante superior ao número de hóspedes estrangeiros. (Abrimos em 2020, e, portanto, os últimos dois anos foram condicionados). O nosso principal segmento é o familiar, contudo acredito que o turismo equestre tem também todas as condições para crescer de forma expressiva, atraindo num futuro breve mais hóspedes de diversos mercados internacionais.

7.    E quais deverão ser os seus principais desafios para os próximos tempos?

Dr.ª Catarina Fonseca: A Vila Galé vai abrir mais cinco hotéis, e há uma aposta clara do grupo na dinamização e valorização do interior de Portugal. Esta dinamização no interior tem sido um dos nossos grandes desafios, que o fazemos com muita garra e paixão. Testemunhar a recuperação de património histórico e o aumento da atratividade nas localidades onde estamos inseridos é muito gratificante.

O sector deverá ser prudente relativamente à inflação, como já mencionamos, e às subidas de todos os outros custos que afetam toda a cadeia económica.

Os recursos humanos e a capacidade do setor se manter atrativo tem sido um dos grandes desafios destes últimos anos, e continuará a ser um dos nossos grandes focos, com intuito de valorizar cada vez melhor as pessoas.

Acredito que a tecnologia, a digitalização e a sustentabilidade serão também os grandes desafios do sector nos próximos tempos, e também tem sido sobre estes últimos que temos dedicado parte da nossa atenção.

8.    Para terminar, pode fazer então um breve resumo, aos nossos caros leitores da Revista P´rá Mesa, acerca do investimento que foi feito na unidade hoteleira de 4 estrelas “Vila Galé Collection Alter Real – Resort Equestre, Conference & Spa”, por sua vez integrado na Coudelaria de Alter do Chão, no Alto Alentejo? E porquê apostar no interior do país, bem como na recuperação de património histórico?

Dr.ª Catarina Fonseca: O Vila Galé Collection Alter Real está integrado na Coudelaria de Alter, tendo sido a segunda abertura do projeto Revive, e resulta de um investimento do Vila Galé de 10 milhões de euros.

O Vila Galé Collection Alter Real, concessionado por 50 anos, é assim o segundo hotel em Portugal a abrir ao abrigo deste programa de reabilitação e valorização do património histórico nacional, iniciativa conjunta dos Ministérios da Economia, da Cultura e das Finanças.

É uma unidade inspirada na história desta coudelaria, e por isso é dedicada à temática equestre. É um desígnio do Grupo Vila Galé, a aposta no interior do país e na valorização da nossa história e das nossas tradições.

É também um contributo para a melhoria das condições económicas, sociais e ambientais, criando polos de desenvolvimento regional e emprego.

Para além disso, e como já mencionamos, também é uma aposta no turismo equestre, produto que acreditamos que tem imenso potencial para Portugal enquanto destino turístico. É um produto que ao mesmo tempo divulga a herança cultural do país, e a identidade e autenticidade local.

A localização do hotel muito próxima da natureza, permite não só o turismo equestre, com as atividades como montar a cavalo, para quem tem, e também para quem não tem, experiência. Podem ser experienciadas também atividades de natureza, desde fazer piqueniques, visitar a coudelaria, estar em contacto com os cavalos e assistir à Eguada, até outras experiências mais “radicais” como andar de balão ou de mota de água.

Recuperamos a Falcoaria, (a Arte da Falcoaria em Portugal é Património Imaterial da Humanidade desde 2016) agora um museu vivo, onde se pode ter experiências e workshops com os falcões e outras aves.

É um hotel com 77 quartos, 2 piscinas exteriores de adultos, uma exterior de crianças e um interior com água aquecida, salas de eventos e um restaurante com pratos de gastronomia local e uma diversidade de atividades que vão ao encontro das famílias e também de profissionais nas modalidades Equestres.

A coudelaria de alter, casa do cavalo puro-sangue lusitano, tornou-se assim um complexo muito competitivo, pois para além de alojar os cavalos (nas boxes), tem os picadeiros de competição e agora o alojamento para as famílias e concorrentes das provas nacionais e internacionais equestres.

Nas proximidades podemos visitar o Castelo de Alter e a Casa do Alámo, Alter Pedroso com o seu miradouro e baloiço, a Ponte romana de Vila Formosa, a serra de Marvão…

9.      E qual a relação entre esta unidade hoteleira e a vila de Alter do Chão? Afinal de contas, porquê apostar no interior do país, bem como na recuperação de património histórico?

Dr.ª Catarina Fonseca: Este projeto pretende contribuir para a preservação e valorização económica sustentável do património natural e cultural, e da identidade do Município de Alter do Chão, enquanto cativos estratégicos, e promovendo a atividade turística e económica desta comunidade local, assim como para a recuperação da Coudelaria de Alter do Chão, um empreendimento emblemático, enquanto património histórico e arquitetónico, e valorização do património genético e cultural do ferro Alter Real.

·   Contribui para a potenciação da atividade económica, a nível local e regional (ex. a montante, por via do recurso a fornecedores locais, seja nos queijos, enchidos, carnes, frutas, legumes, e a jusante, pelo contributo dos turistas ao comércio local (restaurantes, supermercados, lojas locais, atividades turísticas na região, ect);

·    Contribui para a criação de emprego, nós recorremos essencialmente a colaboradores da região, que pelo facto de serem conhecedores dos usos e costumes locais podem acrescentar valor aos serviços prestados.

Para além disto, o segmento do Turismo Equestre é um mercado em ascensão, com uma procura cada vez maior e este projeto potencia o reconhecimento de Alter do Chão como um destino que se pode vir a tornar muito competitivo.

10.      Ao mesmo tempo, há que brindar-se o facto de se terem adotado medidas, também em conjunto com outras entidades, no sentido de se aumentar a qualificação e a consequente empregabilidade nesta zona, ainda para mais numa altura difícil como a da pandemia, estou certa?

Dr.ª Catarina Fonseca: Sim, somos um grupo fortemente voltado para a valorização das pessoas, a formação para nós é uma das chaves dessa valorização, mas a nossa intenção é valorizar não só através da qualificação, mas também pelas condições que podemos oferecer para atrair colaboradores.

Preferimos sempre contratar localmente, seja pessoas ou bens, que, por serem conhecedores dos usos e costumes locais podem acrescentam muito mais valor aos serviços prestados; por este motivo é muito importante todas as parcerias com entidades locais nas mais variadas áreas. Valorizam e enaltecem o produto final que é o destino Alter do Chão.

Contudo, em a Vila Galé tem uma academia de formação interna, um projeto que abrange todos os hotéis e que apoia todos os colaboradores, assegurando formações em quatro áreas distintas: identidade corporativa, postura e atendimento ao cliente, formações técnicas e na área da Liderança.

Inclusivamente há um alargado programa de benefícios internos que pretende igualmente promover a valorização das pessoas que trabalham connosco.

11.     Para terminar: e porquê apostar na contratação de profissionais tão jovens, em vez de apostar em pessoas com uma média de idades superior, logo também com uma maior experiência profissional demonstrada no seu currículo?

Dr.ª Catarina Fonseca: Não fazemos distinção de idades na contratação, procuramos acima de tudo identificar “softskills”. Isto porque as competências técnicas nós podemos ensinar/formar.  Acima de tudo, valorizamos muito a simpatia natural, atitude positiva, espírito de equipa, proatividade, bons relacionamentos interpessoais e uma grande vontade de mimar os nossos hospedes. Juntar estas “softskills” a um bom checkin, um cama bem-feita, um prato muito saboroso e criativo, faz um excelente profissional, um ótimo ambiente de trabalho para todos, e acima de tudo diferencia totalmente a forma como entregamos os nossos “produtos/e serviços”.


 

4 comentários:

  1. Muitos parabéns.

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    1. Muito obrigada pelo seu comentário, voltando também a agradecer a sua colaboração!
      Com os melhores cumprimentos,
      Mónica Rebelo,
      Fundadora da Revista P´rá Mesa e Detentora do Blog Cozinha Com Rosto.

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  2. Conheci a Dra Catarina no Vila Galé de Elvas, tive o prazer de a visitar já no seu posto de Diretora no Vila Galé de Alter do Chão. Desejo-lhe as maiores felicidades e sucessos pessoais e profissionais. Um abraço
    Luís Rasquilha

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    1. Muito obrigada pelo seu comentário, volte mais vezes!
      E já agora partilhe também este artigo como e com quem quiser, que nós agradecemos!
      Com os melhores cumprimentos,
      Mónica Rebelo,
      Fundadora da Revista P´rá Mesa e Detentora do Blog Cozinha Com Rosto.

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