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quarta-feira, 30 de novembro de 2022

"Era uma vez, um grupo de legumes chamados ancestrais…" por Sandrina Martins

E que vieram para se instalar nas nossas mesas e dar-nos novas opções, novas texturas e cores. Mas o que são legumes ancestrais?


Fácil! São legumes muito usados no passado, e que por várias razões, o seu uso foi-se perdendo no tempo e agora estão a fazer o seu regresso.

Por serem pouco conhecidos, não é fácil encontrá-los na minimercado da nossa rua ou nas grandes superfícies, obrigando-nos a ir a mercearias/frutarias gourmet ou diretamente a produtores.

A lista é vasta. Preparados para conhecer alguns?

Cherovia, chirivia, pastinaca ou pastinaga

Tem aspeto de uma cenoura, mas é de cor branca e menos doce. Começou por ser consumida crua ou cozinhada no século VI e foi introduzida na Europa na Idade Média. Já ganhou o seu espaço em terras da Beira Baixa, pois é lá que encontra o melhor clima para se desenvolver – frio e geadas. Apreciada por muitos beirões, tem um festival que lhe é inteiramente dedicado – Festival da Cherovia – na Covilhã e já vai na 14ª edição. Cozida, em puré, na sopa, frita como as batatas e até em doces, esta “cenoura” branca está em todas.

Tupinambo

Também conhecido como girassol-batateiro, por ser do mesmo género do girassol (Helianthus). A origem deste legume é controversa. Há relatos que é da América do Norte e cujo nome original seria jerusalem artichoke (alcachofra-de-jerusalém), mas noutros registos, a origem está associada aos índios brasileiros Tupinambá (primeiros indígenas que Pedro Álvares Cabral encontrou quando chegou ao Brasil). E como se chega ao nome em francês, topinambour? Reza a história que seis índios Tupinambá foram levados para Paris em 1613, pelos missionários como curiosidade. Nem todos resistiram à viagem, e os sobreviventes foram batizados com nomes franceses, vestidos com trajes locais e apresentados ao rei Luís XIII, causando enorme sensação. Na mesma altura, foi introduzido o cultivo deste tubérculo, levando a acreditar que fosse de origem brasileira e assim se passou de tupinamabá a topinambour.

Utilizado em cremes, sopas, cozido e cru (embora o sabor a alcachofra apareça depois de cozido) este tubérculo é muito apropriado para a dieta de diabéticos e ótimo para ajudar a microbiota intestinal.

Salsifis

Mais uma raiz comestível. Nativa do oeste e sul da Europa e norte de África, esta raiz foi muito consumida na Idade Média. Mais tarde, no reinado de Luís XIV o seu uso foi decaindo, pois o Rei Sol não apreciava esta raiz e o seu consumo foi ficando circunscrito às terras da Lorena e Alsácia. Rico em vitaminas do grupo B, e em açúcares bem tolerados pelos diabéticos, a sua utilização na cozinha é semelhante aos dois legumes anteriores.

Rutabaga

Resultado de um cruzamento entre o nabo e a couve, é também conhecida como nabo da Suécia. Rica em água, ferro, zinco, magnésio, fibra, vitamina C e antioxidantes. Em termos gastronómicos, é muto versátil e são utilizadas as folhas e as raízes, realizando saladas, papas e purés. Na cidade de Askov, nos Estados Unidos da América há um festival em agosto dedicado à rutabaga. O escritor alemão Goethe era um grande apreciador e havia sempre rutabaga à mesa. Na Grã-Bretanha, a par com beterrabas e nabos, a rutabaga já foi muito usada para fazer cabeças bem brilhantes no Halloween!

Cardo

O cardo comestível é semelhante à alcachofra. Apenas as hastes das folhas são comestíveis depois de branqueadas (colocadas em água a ferver, deixar levantar fervura novamente e escorrer). Conhecido como um aliado do bom funcionamento do fígado e associado ao controlo do colesterol, as hastes do cardo podem ser consumidas cozidas, salteadas, fritas em omelete ou na famosa sopa alentejana de feijão e cardos.



Deixo aqui uma simples listagem de 5 legumes, mas saibam que ainda existe a escorcioneira, o rábano, a batata roxa, a couve marítima,…

O difícil vai ser encontrar estes tesouros por aí!


 (créditos: todas as imagens, exceto a primeira e a última, foram retiradas do site "Autour du Potager" - https://www.autourdupotager.com/)

 (texto da autoria de Sandrina Martins) 


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