segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Madalena Vidigal do Projeto Entre Vinhas em Entrevista à Revista P´rá Mesa!


“Enoturismo começou por uma paixão que se tornou a minha vida profissional e quero partilhar todo esse conhecimento consigo!” - www.entrevinhas.com

 

Se, por acaso, meu caro leitor da Revista P´rá Mesa, quiser ficar a conhecer, e de uma maneira rápida e prática, um pouco mais sobre o tema do Enoturismo em Portugal e no Mundo, não hesite em ler mais abaixo a entrevista que eu preparei especialmente para si, que é um amante do vinho, vamos lá?

Em primeiro lugar, devo dizer que Madalena é uma pessoa bastante simpática e ativa na área, podendo até fornecer-lhe formação no mesmo tema, para além do facto de ainda ter lançado o podcast5 Minutos de Vinho”, não perca!

Em segundo lugar, e sem esquecer de agradecer a disponibilidade de Madalena para responder a algumas perguntas, faça o favor de ler tudo até ao fim, ficando também à espera de um comentário seu:

1)     No seu site Entre Vinhas, www.entrevinhas.com, refere que “Passo os dias Entre Vinhas.” Mas como é que tudo começou e que vinhas são essas afinal?

Madalena Vidigal: A minha relação com o vinho tem dois caminhos paralelos. O meu percurso como viticultora, desde o momento em que a minha família decidiu plantar uma vinha no Alentejo e o momento em que descobri o enoturismo e comecei a viajar pelo mundo a visitar adegas. Por isso, ando sempre Entre Vinhas, entre a minha e as vinhas de outros produtores.

2)     Qual é o seu percurso profissional e que temas é que procura retratar na sua programação semanal de “5 MINUTOS DE VINHO”?

Madalena Vidigal: Tentando resumir o meu percurso profissional, começo por dizer que a minha licenciatura não tem muito a ver com esta área. Estudei gestão hoteleira e trabalhei em hotelaria durante 8 anos. Foi num estágio profissional que fiz num hotel em Moçambique que me apaixonei pelo vinho (na altura, vinho sul africano) e no regresso a Portugal passei a estar mais atenta às prateleiras de vinhos nas lojas.

Continuei a trabalhar em hotelaria, mas como estava na área de Comidas e Bebidas foi fácil alimentar esta relação com o vinho. Foi nessa mesma altura (estávamos em 2012) que descobri o conceito de Enoturismo e fiz uma Pós-graduação nesta área.

Não parei de viajar por Portugal e pelo mundo até que, em 2015, criei o blog EntreVinhas.com

Ao fim de 6 anos de blog, percebi que um dos entraves para os portugueses fazerem mais enoturismo era o facto de não perceberem muito do vinho, não se sentirem confortáveis com a sua linguagem e, por isso, não se aventuravam a visitar adegas. Foi em 2021 que decidi, então, resolver este “problema” e lançar o podcast 5 Minutos de Vinho. Aqui procuro simplificar muitos conceitos relacionados com o vinho, de forma divertida e clara, em episódios semanais de aproximadamente 5 minutos e sempre com uma recomendação de vinho à minha escolha.

3)     E qual é o seu maior sonho que ainda não teve oportunidade de cumprir?

Madalena Vidigal: Lançar o meu próprio vinho! Mas, felizmente, é um sonho que está quase a ser realizado. Em princípio, no final de 2022, sai a primeira colheita do Pedra da Mãe tinto.

Mas há sempre muitos sonhos, desde viagens a projetos novos a lançar… Diria que é um sonho ser uma referência na área de vinhos e enoturismo em Portugal.

4)     Pelo que tenho conhecimento, sei que a Madalena já viajou por diversas regiões de vinho internacionais, mas qual foi aquela que mais a inspirou e porquê?

Madalena Vidigal: Esta pergunta é sempre difícil e não estou a ser “politicamente correcta”. Cada região tem a sua história, as suas castas, o seu estilo de vinhos e cada uma me ensina algo. Mas se tiver que escolher mesmo…. Adorei conhecer o Chile, pela dedicação que os chilenos têm ao vinho, de como vêm o vinho como uma bebida para toda a gente, muitos jovens a trabalhar na indústria, adegas modernas com ambiente muito descontraído. Adorei igualmente Jerez, já aqui ao lado, e talvez pelas razões opostas: pela história, pela tradição, pelo estilo de vinho seco que eu gosto muito, mas também pela forma intensa como se vive o vinho na cidade de Jerez de La Frontera.

5)     E no que diz respeito a Portugal?

Madalena Vidigal: Aqui também não é fácil escolher. Nasci em Lisboa, produzo vinhos no Alentejo, tenho uma paixão pela paisagem do Douro, a Baga (Bairrada) é das minhas castas favoritas e recentemente fiquei encantada com Trás-os-Montes.

Mas tenho explorado (e tido excelentes surpresas) com as regiões da Beira Interior e Algarve!

6)     Mas então, o que é vinho propriamente dito e como é que o podemos classificar?

Madalena Vidigal: Vinho, simplificando muito, é sumo de uva fermentado e, portanto, com álcool. Produz-se vinho de uva branca e tinta e alguma uva rosada, uma variedade mais rara. No mundo existem vinhos brancos feitos de uva branca, brancos de uva tinta, vinho tinto, vinho espumante, vinho doce ou colheita tardia e vinho fortificado (Ex. Vinho do Porto).

Mas nada como ouvir o podcast 5 Minutos de Vinho para perceber tudo isto 😉

7)     Outro dia lia aqui o seguinte: “As mudanças climáticas afetam a vida de todos, não poderia ser diferente com relação à produção de vinhos. Com o aquecimento global, a Inglaterra (cada vez menos fria) começa a crescer sua produção, até então praticamente desconhecida mundialmente. Por outro lado, produtores franceses já se preocupam com o aumento excessivo da temperatura, o que prejudica o desenvolvimento de suas vinhas.” E embora este texto tenha sido escrito em 2009, infelizmente, o discurso em 2022 não poderá ser diferente, concorda?

Madalena Vidigal: Não sendo a minha especialidade, está à vista de todos que o clima mudou nos últimos anos e que afeta muitas áreas de negócio do mundo e mesmo as nossas vidas diárias. Na agricultura, o maior problema, mais do que o calor que de alguma forma sempre existiu, neste momento é a falta de água. Preocupa-me mais a inexistência de época de chuvas e a falta de noção das pessoas no que toca a poupar água, do que o calor propriamente dito.

Mas sim, é uma realidade que, muitas regiões a norte da Europa que não tinham condições para a agricultura, atualmente já têm vinha e isso deve-se muito à subida média da temperatura e ao facto de terem água (da chuva).

8)     Na sua opinião, o que é que se poderia fazer pela defesa do vinho português e apoio dos viticultores portugueses?

Madalena Vidigal: As soluções são essencialmente do foro político e das quais não me sinto apta a comentar.

Mas se há algo que o consumidor pode fazer para a ajudar, é ser mais informado, valorizar o produtor vinho, perceber que há preços demasiado baratos que não fazem sentido. Ser mais consciente nas suas compras, perceber que – e pegando na pergunta anterior – as temperaturas extremas e a falta de água afetam as culturas e isso faz aumentar os custos de produção e, consequentemente, o preço do vinho.

Não se deixarem levar por promoções desleais dos hipermercados, apoiar garrafeiras e pequenos negócios locais. Isto também é sustentabilidade!

9)     Quanto a possíveis menus de harmonização de gastronomia com vinhos, quais é que deverão ser aqueles princípios básicos que todos deveremos seguir, rumo a conseguir-se obter a melhor experiência à mesa?

Madalena Vidigal: Com a crescente variedade de estilos que hoje existem no mundo – vinho laranja, tinto clarete por exemplo – não me parece que faça sentido continuarmos a seguir regras que antes eram quase sagradas. Peixe com branco e carne com tinto, hoje já não se aplica.

Diria que a única regra que eu sigo é que a comida não se pode sobrepor ao vinho e vice-versa. Ambos devem complementar-se e destacar o sabor do outro.

Tendo isto em mente, podemos brincar um pouco com os sabores e texturas da comida e vinho. Por contraste: uma comida gorda com um vinho de alta acidez para cortar a gordura, uma sobremesa de chocolate bem doce com um tinto seco e com taninos. Ou por semelhança: um peixe grelhado e sabores delicados com um branco leve, ou uma carne assada no forno com um tinto amadeirado.

10)  Para finalizar: qual é o seu prato favorito e qual era o vinho que escolheria para o acompanhar?

Madalena Vidigal: Nasci em Cascais e, para mim, um dos melhores sabores é o de um bom peixe grelhado! E porque um bom peixe grelhado deve ser comido num restaurante à beira-mar, com a brisa marítima a soprar, acho que um Arinto de Bucelas, seco e salino, fica perfeito!


 

   (texto escrito por Mónica Rebelofundadora da Revista P´rá Mesa

(crédito da primeira e segunda foto: MVPV Photography)



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