“Enoturismo começou por uma paixão que se tornou a minha vida profissional e quero partilhar todo esse conhecimento consigo!” - www.entrevinhas.com
Se,
por acaso, meu caro leitor da Revista P´rá Mesa, quiser ficar a
conhecer, e de uma maneira rápida e prática, um pouco mais sobre o tema do Enoturismo
em Portugal e no Mundo, não hesite em ler mais abaixo a entrevista que
eu preparei especialmente para si, que é um amante do vinho, vamos lá?
Em
primeiro lugar, devo dizer que Madalena é uma pessoa bastante simpática e ativa
na área, podendo até fornecer-lhe formação no mesmo tema, para além do facto de
ainda ter lançado o podcast “5 Minutos de Vinho”, não perca!
Em
segundo lugar, e sem esquecer de agradecer a disponibilidade de Madalena para
responder a algumas perguntas, faça o favor de ler tudo até ao fim, ficando
também à espera de um comentário seu:
1) No seu site Entre Vinhas, www.entrevinhas.com, refere que “Passo os dias Entre Vinhas.” Mas como é que tudo começou e que vinhas são essas afinal?
Madalena Vidigal: A minha relação com o vinho tem dois caminhos
paralelos. O meu percurso como viticultora, desde o momento em que a minha
família decidiu plantar uma vinha no Alentejo e o momento em que descobri o
enoturismo e comecei a viajar pelo mundo a visitar adegas. Por isso, ando
sempre Entre Vinhas, entre a minha e as vinhas de outros produtores.
2) Qual é o seu percurso profissional e que temas é que procura retratar na sua programação semanal de “5 MINUTOS DE VINHO”?
Madalena Vidigal: Tentando resumir o meu percurso profissional,
começo por dizer que a minha licenciatura não tem muito a ver com esta área.
Estudei gestão hoteleira e trabalhei em hotelaria durante 8 anos. Foi num
estágio profissional que fiz num hotel em Moçambique que me apaixonei pelo
vinho (na altura, vinho sul africano) e no regresso a Portugal passei a estar
mais atenta às prateleiras de vinhos nas lojas.
Continuei a trabalhar em hotelaria, mas como estava na área
de Comidas e Bebidas foi fácil alimentar esta relação com o vinho. Foi nessa
mesma altura (estávamos em 2012) que descobri o conceito de Enoturismo e fiz
uma Pós-graduação nesta área.
Não parei de viajar por Portugal e pelo mundo até que, em
2015, criei o blog EntreVinhas.com
Ao fim de 6 anos de blog, percebi que um dos entraves para os
portugueses fazerem mais enoturismo era o facto de não perceberem muito do
vinho, não se sentirem confortáveis com a sua linguagem e, por isso, não se
aventuravam a visitar adegas. Foi em 2021 que decidi, então, resolver este
“problema” e lançar o podcast 5 Minutos de Vinho. Aqui procuro simplificar
muitos conceitos relacionados com o vinho, de forma divertida e clara, em
episódios semanais de aproximadamente 5 minutos e sempre com uma recomendação
de vinho à minha escolha.
3) E qual é o seu maior sonho que ainda não teve oportunidade de cumprir?
Madalena Vidigal: Lançar o meu próprio vinho! Mas, felizmente, é
um sonho que está quase a ser realizado. Em princípio, no final de 2022, sai a
primeira colheita do Pedra da Mãe tinto.
Mas há sempre muitos sonhos, desde viagens a projetos novos a
lançar… Diria que é um sonho ser uma referência na área de vinhos e enoturismo
em Portugal.
4) Pelo que tenho conhecimento, sei que a Madalena já viajou por diversas regiões de vinho internacionais, mas qual foi aquela que mais a inspirou e porquê?
Madalena Vidigal: Esta pergunta é sempre difícil e não estou a
ser “politicamente correcta”. Cada região tem a sua história, as suas castas, o
seu estilo de vinhos e cada uma me ensina algo. Mas se tiver que escolher mesmo….
Adorei conhecer o Chile, pela dedicação que os chilenos têm ao vinho, de como
vêm o vinho como uma bebida para toda a gente, muitos jovens a trabalhar na indústria,
adegas modernas com ambiente muito descontraído. Adorei igualmente Jerez, já
aqui ao lado, e talvez pelas razões opostas: pela história, pela tradição, pelo
estilo de vinho seco que eu gosto muito, mas também pela forma intensa como se
vive o vinho na cidade de Jerez de La Frontera.
5) E no que diz respeito a Portugal?
Madalena Vidigal: Aqui também não é fácil escolher. Nasci em
Lisboa, produzo vinhos no Alentejo, tenho uma paixão pela paisagem do Douro, a
Baga (Bairrada) é das minhas castas favoritas e recentemente fiquei encantada
com Trás-os-Montes.
Mas tenho explorado (e tido excelentes surpresas) com as
regiões da Beira Interior e Algarve!
6) Mas então, o que é vinho propriamente dito e como é que o podemos classificar?
Madalena Vidigal: Vinho, simplificando muito, é sumo de uva
fermentado e, portanto, com álcool. Produz-se vinho de uva branca e tinta e
alguma uva rosada, uma variedade mais rara. No mundo existem vinhos brancos
feitos de uva branca, brancos de uva tinta, vinho tinto, vinho espumante, vinho
doce ou colheita tardia e vinho fortificado (Ex. Vinho do Porto).
Mas nada como ouvir o podcast 5 Minutos de Vinho para
perceber tudo isto 😉
7) Outro dia lia aqui o seguinte: “As mudanças climáticas afetam a vida de todos, não poderia ser diferente com relação à produção de vinhos. Com o aquecimento global, a Inglaterra (cada vez menos fria) começa a crescer sua produção, até então praticamente desconhecida mundialmente. Por outro lado, produtores franceses já se preocupam com o aumento excessivo da temperatura, o que prejudica o desenvolvimento de suas vinhas.” E embora este texto tenha sido escrito em 2009, infelizmente, o discurso em 2022 não poderá ser diferente, concorda?
Madalena Vidigal: Não sendo a minha especialidade, está à vista
de todos que o clima mudou nos últimos anos e que afeta muitas áreas de negócio
do mundo e mesmo as nossas vidas diárias. Na agricultura, o maior problema,
mais do que o calor que de alguma forma sempre existiu, neste momento é a falta
de água. Preocupa-me mais a inexistência de época de chuvas e a falta de noção
das pessoas no que toca a poupar água, do que o calor propriamente dito.
Mas sim, é uma realidade que, muitas regiões a norte da
Europa que não tinham condições para a agricultura, atualmente já têm vinha e
isso deve-se muito à subida média da temperatura e ao facto de terem água (da
chuva).
8) Na sua opinião, o que é que se poderia fazer pela defesa do vinho português e apoio dos viticultores portugueses?
Madalena Vidigal: As soluções são essencialmente do foro político
e das quais não me sinto apta a comentar.
Mas se há algo que o consumidor pode fazer para a ajudar, é
ser mais informado, valorizar o produtor vinho, perceber que há preços
demasiado baratos que não fazem sentido. Ser mais consciente nas suas compras,
perceber que – e pegando na pergunta anterior – as temperaturas extremas e a
falta de água afetam as culturas e isso faz aumentar os custos de produção e,
consequentemente, o preço do vinho.
Não se deixarem levar por promoções desleais dos
hipermercados, apoiar garrafeiras e pequenos negócios locais. Isto também é
sustentabilidade!
9) Quanto a possíveis menus de harmonização de gastronomia com vinhos, quais é que deverão ser aqueles princípios básicos que todos deveremos seguir, rumo a conseguir-se obter a melhor experiência à mesa?
Madalena Vidigal: Com a crescente variedade de estilos que hoje
existem no mundo – vinho laranja, tinto clarete por exemplo – não me parece que
faça sentido continuarmos a seguir regras que antes eram quase sagradas. Peixe
com branco e carne com tinto, hoje já não se aplica.
Diria que a única regra que eu sigo é que a comida não se
pode sobrepor ao vinho e vice-versa. Ambos devem complementar-se e destacar o
sabor do outro.
Tendo isto em mente, podemos brincar um pouco com os sabores
e texturas da comida e vinho. Por contraste: uma comida gorda com um vinho de
alta acidez para cortar a gordura, uma sobremesa de chocolate bem doce com um
tinto seco e com taninos. Ou por semelhança: um peixe grelhado e sabores
delicados com um branco leve, ou uma carne assada no forno com um tinto
amadeirado.
10) Para finalizar: qual é o seu prato favorito e qual era o vinho que escolheria para o acompanhar?
Madalena Vidigal: Nasci em Cascais e, para mim, um dos melhores
sabores é o de um bom peixe grelhado! E porque um bom peixe grelhado deve ser
comido num restaurante à beira-mar, com a brisa marítima a soprar, acho que um
Arinto de Bucelas, seco e salino, fica perfeito!
(texto escrito por Mónica Rebelo, fundadora da Revista P´rá Mesa)
(crédito da primeira e segunda foto: MVPV Photography)
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