Depois de
Tondela, a estrada é assaz complicada por curvas e contracurvas e é sempre a
subir até se chegar à encantadora vila do Caramulo. Ficámos principescamente
alojados no Hotel Beecaramulo-apiturismo,
uma unidade moderna com atrativos vários ligados ao mel e seus derivados que,
só por si, encantam o visitante e validam a viagem. A extrema simpatia dos
proprietários e o ambiente familiar são acrescidos atributos que nos impelem a
divulgar o original empreendimento composto por instalações temáticas, cujas
nomenclaturas vão do mel, ao própolis, à geleia-real, ao pólen...
São ainda complementados com as chamadas “suites montanha” que fornecem
panoramas únicos da atrativa região. Noutros tempos, a vila do Caramulo foi
intensamente frequentada devido às suas especiais condições para o
restabelecimento de tuberculosos e doentes afins. Ficaram célebres os
sanatórios e as casas de repouso que atraiam, não só os enfermos, mas também as
elites e a alta burguesia endinheirada que aqui vinham passar as férias
estivais. A existência de dois notáveis museus que ainda persistem, um sobre
pintura e escultura e outro sobre o automóvel, compõem a excelência do lugar.
Esta introdução vem a propósito da flora multifacetada do
Caramulo. Ela deriva da influência climática atlântica e mediterrânica, da
altitude e da configuração da serra que é paralela à linha de costa. Este
último facto faz com que a evaporação oceânica, ao elevar-se, esbarre
frontalmente com as montanhas, ocasionando precipitações. Diz-se, inclusive que,
em todo o Continente, é no Caramulo que ocorre mais chuva.
Bem, mas o que mais me surpreendeu nesta visita foi a
existência, em razoável quantidade, de umas lindas papoilas amarelas. Nunca
tinha visto tantas em conjunto. Lamentavelmente, o magnífico Guia da Flora Vascular da Serra do Caramulo,
de Pedro Ribeiro, contém muitas preciosidades, mas esqueceu-se de mencionar a
que me refiro. Falo da Eschscholzia californica da família das Papaveraceae, conhecida popularmente, em
vários idiomas, como papoila-da-califórnia. Esclareça-se que a primeira palavra
desta designação científica, de tão arrevesada pronunciação, deve-se ao nome do
cientista alemão que a descobriu. Já o segundo nome não oferece quaisquer
dificuldades de entendimento. Estas papoilas são nativas das Califórnias, ou
seja, do Estado da Califórnia, integrado nos EUA e da Baja Califórnia que
pertence ao México. Provavelmente as suas sementes foram trazidas para a Europa
por motivos ornamentais. Não sabemos, contudo, quem as trouxe para a vila do
Caramulo onde estão viçosas e duradouras como se de lá fossem oriundas. O
conhecido “site” Flora-on refere cerca de uma trintena de registos desta
planta de encantar, espalhadas por todo o país, mas, curiosamente, é no
Caramulo onde há maiores referências.
Ora, a nossa Eschscholzia (fixem bem, porque é a última vez que escrevo este palavrão germanófilo) é uma planta perene ou anual com folhas glaucas (verde azuladas), alternadas, divididas em segmentos lobados arredondados. As flores são simples, aparecendo solitárias no cimo de cada haste. As quatro pétalas brilhantes de coloração amarela ou alaranjada, que se fecham à noite, ou quando há frio e mau tempo, são de textura sedosa. As numerosas sementes escuras repousam em cápsulas estreitas, mas, por que são deiscentes, a sua dispersão fica facilitada. As raízes são pivotantes.
Aprecia o clima frio onde floresce com maior intensidade.
Contudo, a planta não costuma resistir às geadas. O mesmo não acontece às
sementes que têm uma excelente dormência e germinação, divulgando a espécie de
forma abundante. Em alguns países onde foi introduzida é mesmo considerada uma
planta invasora que precisa de ser controlada.
Constituintes químicos: alcaloides isoquinoleicos, cuja
estrutura é semelhante à da morfina, flavonoides, carotenos e ácidos vários.
Propriedades fitoterápicas: vasodilatadora, analgésica,
espasmolítica, antibacteriana, antifúngica, anti-inflamatória, antidepressiva,
sedante do sistema nervoso e hipnótica suave.
É excelente soporífero, adequado para combater as insónias,
não provocando dependência.
O volumoso “Gran diccionario ilustrado de las Plantas
Medicinales”, do Dr. José Luís Berdonces, com 1367 páginas e considerado um
dos livros mais completos sobre fitoterapia, recomenda o infuso do pó das
flores e raízes à razão de 5 a 10 gramas por chávena, para combater a
ansiedade, o nervosismo e a insónia. Acrescenta ainda que é eficaz no
tratamento da enurese noturna para evitar que as crianças façam chichi na cama.
Previne, todavia, que as doses demasiado fortes poderão provocar uma discreta
depressão respiratória.
Convém acentuar que a papoila-da-califórnia é hoje utilizada,
quase exclusivamente, como planta de jardim, embora os compêndios
refiram que as sementes podem servir para produzir óleo, sendo o mesmo comestível. Quanto à fitoterapia, não obstante
as indicações recolhidas, deve evitar-se prudentemente os usos espontâneos, e
seguir sempre os conselhos das pessoas habilitadas cientificamente.
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