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quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

"O meu Natal Franco-Ibérico!" por Sandrina Martins


O Natal é sinónimo de família reunida, de tradições que se perpetuam, de casas iluminadas, de missas festivas (para quem é religioso) e de muitas iguarias feitas com paciência e muito cuidado.


O meu Natal sempre foi assim… Um Natal gordinho e farto, e sobretudo com uma miscelânea de tradições. Nasci em França, sou filha de portugueses da Beira Alta e o meu Natal foi praticamente sempre passado numa aldeia da raia beirã, logo, coladita a Espanha. Por isso digo, que eu sempre tive um Natal franco-ibérico (oui, sim, sí!).

Nada temam, os mais puristas! Porque apesar da salgalhada, o prato-rei sempre foi o bacalhau (nas suas diversas variantes) e com direito a roupa velha no dia seguinte, para os familiares que levam isto tudo muito a sério!

Se eu for analisar a percentagem de ocupação que Portugal tem no meu Natal, as cinco quinas ganham, de longe, aos nossos vizinhos e aos francesinhos. Mais coisa, menos coisa, 70%, 15% e 15%, respetivamente.

De Portugal, para além do referido bacalhau, há também o cabrito assado no forno no dia 25. As sobremesas passam pelas farófias com aquele creme de leite e ovo (nhami!), o pudim de ovos, as filhoses e, aquele que está em todas as festas, o arroz doce (este sem ovo, ao natural e com muita canela por cima). O Bolo Rei vem ocupar aquele espacinho vazio e acamar toda esta bomba explosiva de frituras e açúcar. Ah! Já me esquecia das rabanadas ou fatias douradas que se vão despachando ao pequeno-almoço ou lanche, nos dias que se seguem. A machadada final no colesterol!

De Espanha, entra o turrón nas suas mais variadas versões: duro de Alicante (o mais tradicional), o de trufa, o de coco e o blando de Gijón (mole e cremoso). Este doce deve ser o mais calórico de “nuestros hermanos” que já entrou em casa. Há ainda os polvorones e mantecados. Não são típicos do Natal, mas são muito consumidos nesta época São biscoitos largos à base de farinha, banha, amêndoa moída e açúcar. E lá para a madrugada, depois da Missa do Galo, há sempre um espaço para o Roscón de Reyes – o Bolo Rei espanhol. Um bolo leve com frutas cristalizadas por cima e recheado com chantilly, creme de pasteleiro ou chocolate. E por falar em chocolate, não pode faltar o chocolate quente, bem escurinho, para aquecer-nos já de madrugada.

De França, as iguarias passam muito pelas entradas – salmão fumado, ovas de peixe (peixe-lapa que não há cá dinheiro para o esturjão!), patés e foie gras. E depois saltamos “para as saídas”, com o tronco de Natal de chocolate ou outros sabores, o famoso pain d’épices, um bolo de mel, canela, gengibre, cravinho e laranja, e a famosa Gallette des Rois. Este bolo de massa folhada tradicionalmente com recheio de creme de amêndoas, existe também na versão com compota de maçã e vem com uma coroa de papel dourado.

Obviamente que muitas destas comidas se vão degustando ao longo dos dias que se seguem ao Natal, pois nenhum estômago conseguiria suportar isto tudo em dois dias consecutivos.

O Natal é sinónimo de alegria e acho que todos concordamos que à mesa, com um bom manjar, somos felizes. Por isso, toca a ir P´rá Mesa, com as coisas que mais gostam!

Sendo este texto o último de 2022, quero desejar a todos umas Boas Festas. Que o calor das lareiras invada os vossos corações, que os afetos de todos os que vos querem bem sejam uma bomba de energia para 2023 e que distribuam muitos abraços, sobretudo aos que estiveram mais longe de vocês nos últimos dois anos.

Espero que tenham paciência para continuarem a ler as minhas opiniões e curiosidades em 2023. Fiquem bem!


 (texto da autoria de Sandrina Martins) 


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