quinta-feira, 23 de março de 2023

Bares, Pubs, Clubes, Discotecas

Neptuno - Bar na Ericeira



(Sandra Russo numa atuação no Neptuno Bar- Ericeira)

Num país turístico como é o nosso, são essenciais os bares, pubs e discotecas. Estes estabelecimentos são um grande apoio aos estabelecimentos de restauração e aos hotéis, ao contrário do que muitos pensam. Nada melhor que, em tempo de lazer, podermos terminar a noite com uma bebida a ouvir música ou a dançar seja num bar, seja numa discoteca.

É normal assistirmos a música ao vivo em muitos bares, sobretudo ao fim-de-semana. Estes são uma mais-valia para os músicos e, tal como referi no artigo anterior ou no artigo sobre a animação, a hotelaria, restauração e similares é um setor essencial para muitos outros setores, é o eixo central de muitas atividades.

(Francisco de Bruno Peças numa atuação no Neptuno Bar – Ericeira)

Como os leitores têm observado, em muitos dos meus artigos valorizo todos os profissionais que se mantêm ao serviço dos turistas nacionais e estrangeiros. Pessoas que se dedicam de corpo e alma ao bem servir independentemente dos seus estados de alma, de muitos acontecimentos menos positivos nas suas vidas pessoais ou empresariais.

É sabido que a maior parte do tempo da nossa vida é dedicada ao trabalho sob inúmeras formas, muitos de nós almeja a reforma sempre com a perspetiva de ter algum tempo livre para podermos usufruir do que não tivemos oportunidade de fazer enquanto trabalhadores quer fosse por conta própria, quer fosse por conta d`outrem.

Surpreende-me que a proprietária do Neptuno Bar situado na Ericeira, o bar mais antigo da Ericeira, continue a sua atividade depois de 36 anos a servir muitos dos turistas que passaram pela vila.

A proprietária deste bar, Fernanda, mais conhecida como Cher, hoje com 70 anos, pese todas as dificuldades, tem conseguido manter-se na atividade e diz que não pretende deixar de trabalhar. Para ela “trabalhar é o remédio para uma longa vida e felicidade”.

O Neptuno Bar abriu em 1987 como pub pela mão da Fernanda (Cher) e Vieira (Marido). Durante muitos anos empenharam-se em fazer, do seu bar, um bar familiar e conseguiram fidelizar muitos clientes até aos dias de hoje.

À medida que o tempo foi passando, a forma de servir e, mais bem-dito, o tipo de serviço foi mudando, adequando-se às gerações mais novas. Em tempos, era normal ouvirmos cantar o Fado neste espaço, hoje acontece esporadicamente e só aquando de confraternizações de alguns amigos.

O bar está decorado com lembranças de todo o mundo: foi intencional esta decoração?

Não, um cliente ofereceu uma lembrança, depois outro e assim sucessivamente.

Tenciona retirar parte dela, uma vez que são muitas?

Nunca pensei fazer isso, cada objeto tem uma história, um cliente por trás dela, faz parte da minha própria história, em suma da história do bar. Dá muito trabalho limpar tudo frequentemente, temos que ter muito cuidado, mas desfazer-me de algumas seria como se me desfizesse de uma parte de mim.

Disse que, pese todas as dificuldades, não pretende deixar de trabalhar: porquê?

Do trabalho é que tenho recebido muitas alegrias, é o que me tem mantido em pé e sempre me ajudou a criar a família, umas vezes com mais dificuldades, outras com menos, sem trabalho nunca poderia ter feito pela minha filha e as minhas netas o que tenho feito. Não é fácil criar uma família para quem está nesta área, temos um horário muito complicado para quem tem crianças.

Nunca pensou usufruir da reforma e ter tempo para si mesma agora com 70 anos?

Há alguns anos pensei nisso sim, mas à medida que os anos foram passando, coloquei essa ideia de lado. Eu vivo numa das melhores vilas do mundo, em que os turistas portugueses e estrangeiros vêm para cá de férias. Eu tenho a sorte de a ter para mim durante todo o ano. Pontualmente saio de cá numas curtas férias, no entanto estou sempre desejosa de voltar.

De voltar para os seus clientes?

Sim, sim, faz-me falta o ambiente do bar, a azáfama do trabalho e o cheiro do mar da Ericeira.

É da Ericeira?

Não, não nasci na Ericeira. Estou cá há muitos, muitos anos, é como se tivesse nascido aqui.

Quais considera os piores momentos desta longa carreira?

Sem sombra de quaisquer dúvidas a perda de alguns familiares, principalmente a perda do meu marido e a de muitas pessoas que frequentavam o meu bar. É uma realidade triste a que temos de nos habituar, faz parte da vida, embora seja muito difícil de aceitar e transpor. E foi o período da covid.

Durante a covid esteve fechada?

Eu vivo do meu trabalho e com a covid tive de pensar como ia orientar a minha vida, as contas não se pagam sozinhas. E, claro, recomecei a confecionar alguns pratos para poder fazer algum dinheiro. Foi assim que consegui passar esse malfadado período e ainda assim com muitas dificuldades. Foi muito, muito difícil. Espero que não venha nada por aí parecido.

Quais são os períodos do ano que mais gosta?

Eu gosto de todos os períodos, mas tenho um carinho muito especial pelo Carnaval. Gosto de me disfarçar todos os dias com uma roupa diferente que alio ao gostar de dançar e me divertir.

Costuma ter algum tipo de problema com os clientes?

É muito raro, quando acontece é solucionado rapidamente. Um Barman, neste caso, uma Barwoman, a quem os clientes confiam muito dos seus assuntos pessoais, estamos ali para aliviar o stress do dia-a-dia ou, em muitos casos, para ouvir pessoas que não têm com quem desabafar. Desde que haja respeito de parte a parte, cada um saiba ocupar o seu lugar, fazer um bocado de psicólogo ou padre é uma maneira de contribuirmos para o bem-estar de muita gente.

O que gostaria de ver mudado na sua atividade?

Mais flexibilidade com os horários em algumas épocas e dias da semana. É importante pensar-se em baixar o IVA, é muito difícil manter uma casa aberta com tantas exigências e com tantos impostos.

O que gostaria de dizer que não lhe perguntamos?

Eu gostava de agradecer publicamente a todos os meus clientes, mais que clientes os considero meus amigos, por deixar-me servi-los, por continuarem a deixar-me trabalhar, por dividirem muitas das suas coisas comigo. Eles são a minha família, embora não de sangue. E é esta família que eu pretendo conservar enquanto puder.

Merecem-no, correto?

Sim, merecem-no.

Se voltasse atrás no tempo, o que faria diferente?

Se eu voltasse atrás e mudasse alguma coisa, nunca teria os mesmos conhecimentos que tenho agora. Embora tenha passado por situações menos boas, das que prefiro nem falar, aprendi com elas. Foram lições de vida duras que me trouxeram até aqui com uma vontade de continuar a viver muito grande. Fernando Pessoa disse: “Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo”, eu não as guardo, vou construindo o meu castelo como posso.

O que diria a quem tem dúvidas em servir o público?

Devem aventurar-se, conhecer e servir pessoas de todo o mundo não tem preço.

Por último, qual seria a sua mensagem?

A minha mensagem é uma coisa escrita por alguém que não me recorda a autoria: “Antes de julgar a minha vida ou o meu caráter… calce os meus sapatos e percorra o caminho que eu percorri, viva as minhas tristezas, as minhas dúvidas e as minhas alegrias. Percorra os anos que eu percorri, tropece onde eu tropecei e levante-se assim como eu fiz. E então, só aí poderás julgar. Cada um tem a sua própria história. Não compare a sua vida com a dos outros. Você não sabe como foi o caminho que eles tiveram de trilhar na vida”.

E é mesmo assim, a mensagem mencionada pela Fernanda (Cher) é atribuída a Clarice Lispector, com a qual concordo. Não somos ninguém para criticar seja quem for, ainda que aparentemente passemos por situações similares, a nossa história é única, todos calçamos os sapatos de forma diferente.

Espero que a história da Fernanda (Cher) como profissional no mundo de servir e acarinhar quem nos visita sirva de um bom exemplo para as futuras gerações, com toda a certeza os turistas agradecem.

"A mais honrosa das ocupações é servir o público e ser útil ao maior número de pessoas." Michel de Montaigne

Rua Mendes Leal 12,

2640-329 Ericeira

Fecha - Closes 2 AM

 Deem-me “feedback”!

                                      (texto da autoria de Maria Delfina Gama)


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