O ideal seria a Gastronomia andar sempre de mãos dadas com a Nutrição, concordam?
"Enquanto a Gastronomia estuda oferecer sabores, sensações, texturas, cores, aromas, sentimentos, através de uma refeição, a Nutrição possui um foco na saúde, estudando as propriedades de cada alimento e os resultados que eles trarão para o nosso corpo, podendo ser eles benéficos ou maléficos."
Tendo em conta o excerto de texto acima, nada melhor do que pedir o auxílio a alguém da área profissional de ciências da nutrição, de forma a compreender melhor qual é efetivamente a ligação entre a Nutrição e a Gastronomia, sendo que as duas, na minha opinião, deverão assumir um papel cada vez mais importante nas nossas vidas, nomeadamente ao nível do nosso próprio bem estar físico mas também emocional, social, mental, etc.
Deste modo, convido-o a ler, meu caro leitor, as respostas às questões colocadas à caríssima Maria Benedito, Nutricionista, agradecendo-lhe, desde já, a sua disponibilidade para o fazer:
1. Para começar: qual a sua formação profissional e gostos pessoais?
Mária Benedito: Sou licenciada em ciências da nutrição. Durante o percurso profissional fui experimentando várias áreas e por isso tirei 3 pós graduações. Um em nutrição clinica, outro em nutrição pediátrica e por fim uma em nutrição desportiva.
Gosto de viajar, sou viciada em ler e não vivo sem café. Sou apaixonada pelos meus sobrinhos e adoro uma boa esparguete à carbonara. Sou fã de gatos e gosto de andar à chuva, de pintar, de praia.
2. Li aqui que “atualmente trabalha por conta própria”, mas que também já participou em Congressos, correto? Pode então explicar, aos meus caros leitores da Revista P´rá Mesa, quais é que têm sido as suas experiências profissionais e que tipos de serviços costuma, portanto, disponibilizar a quem a segue? Quais os contactos que privilegia para esse efeito?
Mária Benedito: Nutrição é muito vasta e tem uma abrangência muito grande inicialmente e porque já sou nutricionista à cerca de 20 anos já fiz um pouco de tudo.
Comecei na nutrição na parte clinica e que nunca deixei, entretanto atendo principalmente quem quer melhorar a performance a nível desportivo e em emagrecimento. São estas as áreas que mais gosto e que estudo mais.
Trabalho também em centros de dia, creches, e lares onde faço as ementas, adequo dietas e dou formação. Já fui palestrante e já apresentei posters em congressos de nutrição e saúde publica.
Quem me quer contactar pode fazê-lo por :
E-mail – mariabenedito.nutricionista@gmail.com
WhatsApp – 962533624 (modo preferencial para saber mais sobre as minhas consultas, programas de emagrecimento ou marcações)
Redes sociais - Instagram@maria_benedito.nutricionista
Facebook àrodacomosalimentos
3. Todos nós já sabemos que a alimentação evoluiu muito ao longo do tempo, também graças à evolução da própria ciência e da tecnologia no mundo, mas será que o ser humano está a conseguir apreender, e de uma forma verdadeiramente eficaz, acerca dos principais benefícios de uma alimentação completa, equilibrada e variada?
Mária Benedito: Na minha opinião cada vez estamos a comer pior, existe muita informação, muita não é correta e não sabem distinguir o que é bom ou não para a sua saúde.
Temos falta de literacia alimentar as crianças não são incentivadas a ter uma boa alimentação, as patologias mesmo as alimentares são tratadas com fármacos e não se ajusta a alimentação, a falta de tempo das famílias também faz com que as escolhas cada vez sejam mais processadas, os rótulos não são da compreensão de todos.
Todos comemos mas isso não nos torna especialistas em alimentação, em Portugal o PIB tem um gasto superior a 1% em doenças do foro alimentar, onde muitas podiam se minimizadas se houvesse um investimento maior na promoção alimentar.
4. Como irá ser então a nossa alimentação no futuro? Será que alguns alimentos irão ser reinventados, enquanto outros vão deixar de existir? Os superalimentos farão parte da solução, ou será que a dieta irá ser personalizada ao ponto de se basear no DNA de cada um de nós?
Mária Benedito: Já existem e eu já tenho em consulta teste genéticos que nos dão informações mais detalhadas de sobre as nossas necessidades e qual a reação do nosso organismo a certos nutrientes e exercícios. Acredito que em breve se torne mais acessível em termos monetários e acessíveis a todos.
Contudo acho que a alimentação vai evoluir para ser mais processada, menos natural, mais resistente com mais tempo de validade. Vai haver cada vez mais suplementos alimentares para suprimir as faltas de macro ou micro nutrientes. Os próximos superalimentos são dentro de capsulas.
5. E o que é que a Roda dos Alimentos nos ensina?
Mária Benedito: A roda dos alimentos é a representação gráfica de como deveria ser o nosso prato diariamente, quais os alimentos que devíamos consumir e em que quantidades numa apresentação que tem em vista facilitar o seu entendimento. Tem sete grupos, aglomerados por características nutricionais idênticas, no centro está a água que não é um grupo mas é fundamental ao bom funcionamento do organismo.
Deixo um desafio aos leitores, façam um diário alimentar de um dia e depois olhem para Roda dos alimentos e vejam se estão muito afastados ou não do que devia ser uma alimentação equilibrada, variada e completa a nível nutricional.
6. Entretanto também surgiu a nova Roda dos Alimentos Mediterrânica, mas qual o seu principal objetivo?Mária Benedito: O objetivo da Roda dos Alimentos Mediterrânica é promover a dieta mediterrânica.
A dieta mediterrânica tem um padrão alimentar e um estilo de vida associado.
Existe prevalência da sazonalidade dos alimentos disponíveis como hortícolas e frutas, dá-se bastante importância às ervas aromáticas em detrimento do sal, técnicas de confeção alimentares mais saudáveis como estufados, ensopados, caldeiradas. A sopa de legumes tem uma importância muito grande.
Não está representado na roda mas o vinho tinto e as oleaginosas estão também incluídas, assim como o exercício físico ao ar livre e a socialização à mesa.
Eu identifico os portugueses ainda com estilos de vida mediterrânicos mas afastados da dieta base.
7. Mas como proceder no caso de se praticar dieta vegetariana, ou até mesmo vegana, por exemplo?
Mária Benedito: Na dieta vegetariana, e existem vários tipos de dietas em que se consome na mesma todos os grupos da roda dos alimentos por isso só a variedade é que vai ser menor. Em consulta aparece-me cada vez mais jovens que não querem principalmente comer carne.
Na dieta vegana ou vegetariana restrita devem ser feitas adaptações de modo a não faltar nutrientes, alguns micronutrientes como ferro, vitamina B12, vit. D, proteínas completas com 22 anino ácidos.
Se a dieta for personalizada e adequada às necessidades do individuo é completamente segura.
8. Por acaso segue algum tipo de dieta em particular?
Mária Benedito: Faço uma dieta flexitariana onde faço muitas refeições vegetarianas (sem qualquer produto animal) e intercalo com refeições de peixe e ovos como a minha proteína animal favorita mas também como carne mas com muito menos frequência. A minha bebida preferida é a água.
Facilmente deixaria de comer carne porque não aprecio, mas almoço muitas vezes nos locais onde trabalho e nos refeitórios de por exemplo dos lares se na ementa está carne e eu não comer eles acham estranho quem faz a ementa não comer igual.
Mas a verdade é tenho uma grande seletividade alimentar por proteína animal e cereais, contudo tenho a sorte de gostar muito de hortícolas e fruta o que me ajuda a ter uma alimentação saudável e equilibrada.
9. Também li acolá que “A publicidade alimentar encontra cada vez mais artimanhas para nos levar a consumir alimentos que devíamos evitar.” Então que tipo de dicas ou truques deveremos seguir, na sua opinião, para não nos deixarmos «cair em tentação»? Afinal de contas, «comer bem» não serve só para emagrecermos, mas principalmente para vivermos bem com o nosso corpo, mente e espírito, estou certa?
Mária Benedito: Comer bem é alimentar o organismo corretamente, eu costumo dizer que boa alimentação é dar o melhor às células e para isso temos de descascar muito mais e desembrulhar muito menos.
E tudo o que estiver embalado temos que aprender que olhar para os rótulos é uma necessidade e uma mais-valia.
Não comprem alimentos cujos ingredientes não sabem o que são ou que nos 3 primeiros ingredientes da lista esteja açúcar (que tem muitas formas de ser escrito), gorduras saturadas ou sal.
Quando fazemos refeições que não podemos controlar como por exemplo quando comemos em restaurantes, cantinas ou refeitórios devemos adequar o mais possível para ter uma boa alimentação, comer sopa, salada ou legumes pode ajudar a equilibrar a refeição.
10. Costuma dizer-se que o intestino é o nosso «segundo cérebro», concorda?
Mária Benedito: Concordo, o intestino consegue trabalhar sozinho sem ter o comando do cérebro tem circuitos neurais independentes que controlam o sistema digestivo. O intestino tem mais de 500 mil neurónios e cerca de 30 neurotransmissores dai ter esta capacidade.
O intestino é responsável por 50% da dopamina e 90% da serotonina presente no organismo, por isso quanto melhor ele funcionar melhor estarão as ações destes neurotransmissores, como o sono, as emoções, estado do humor, entre outros.
No futuro e porque ainda decorrem muitos estudos sobre a influencia da microbiota intestinal em algumas patologias ainda vamos dar mais importância ao intestino e à sua composição.
11. E que tipo de conselhos é que daria, por exemplo, a quem gostaria de começar a praticar exercício físico de uma forma mais regular e intensa?
Mária Benedito: Que façam exames primeiro e que procurem profissionais credenciados que lhes passem exercícios adequados à sua condição.
12. Obviamente que a Covid-19 não vai desaparecer, cuja tendência será antes o surgimento de novas variantes. Por isso, que alimentos nos poderão ajudar no reforço do nosso sistema imunitário, prevenindo situações mais graves, não esquecendo os preços cada vez mais altos que se praticam nos alimentos básicos, rumo ainda a um mundo sustentável?Mária Benedito: Começar por uma alimentação balanceada e equilibrada e uma correta hidratação.
Muitos dos doentes com Covid-19 que estiveram em estado crítico tinham baixa de vitamina D por isso recomendo que comam ovos, sardinha, atum, carnes brancas, fígado, cogumelos ou iogurtes.
Para o sistema imunitário alimentos ricos em vitamina C e antioxidantes como papaia, kiwi, laranjas, tangerina, uvas, pimentos vermelhos, brócolos, espinafres.
13. Para finalizar: quer partilhar uma ou outra receita culinária de que mais aprecie, ou já tenha recomendado para a resolução de alguma questão em particular dos seus clientes?
Mária Benedito: O que quase todos se queixam e que influencia muito o estado de saúde é não gostar de beber água e o intestino ser “preguiçoso”. Por isso deixo uma água aromatizada e um pudim de chia:
Água aromática
1 laranja às rodelas;
1 limão às rodelas
Folhas de hortelã a gosto
2 l água
Colocar as rodelas da laranja e do limão e a hortelã na água e deixar repousar durante 3h no frigorifico.
Depois disso pode transferir para a sua garrafa e ir bebendo ao longo do dia.
Pudim de chia (para melhorar o funcionamento do intestino)
400ml de leite de coco
60g de sementes de chia.
Misturar as sementes no leite até que hidratem (cerca de 1h). Consumir de manha ou durante o dia.
Eu coloco leite de coco apenas porque gosto do sabor, pode ser leite de vaca ou mesmo água.
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