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quarta-feira, 5 de abril de 2023

Capuchinha


A chaga, ou capuchinha, Tropaeolum majus L é uma das plantas mais espantosas que temos, atendendo à gama de características e propriedades que possui, apesar do seu humilde aspeto.


Veio da América do Sul trazida pelos navegadores ibéricos e começou por ser apenas uma simpática presença nos nossos jardins como trepadeira de grande versatilidade. Graças ao seu “bom feitio”, a capuchinha já se encontra espontânea em quase toda a parte, principalmente na nossa região. Gosta de terras leves arenosas e ama o calor e o sol. Não é muito exigente no tocante a adubos, mas não suporta sombras.

É planta anual, sendo, porém, vivaz nos países de origem. Possui folhas arredondadas, alternas, com longos pecíolos e de cor verde clara (mais clara ainda na parte inferior).

As flores são de tamanho médio, irregulares com grandes pedúnculos axilares e de cor alaranjada, pelo menos no que se refere à espécie mais espalhada no nosso país. Convém referir que se encontram cerca de oitenta espécies da família das Tropaeolaceae, crescendo em estado selvagem nas montanhas sul americanas. A configuração das flores em forma de capuz está na origem de um dos nomes por que é conhecida – capuchinha. Os caules são carnosos, cilíndricos, muito ramificados e trepadores, como já aludimos, chegando a atingir 2,5 metros de comprimento.

Da capuchinha tudo se pode utilizar: flores, folhas, caules e sementes.

As folhas frescas e as sumidades floridas têm um sabor levemente picante, sendo usadas em culinária para guarnecer saladas, enriquecendo assim o seu aspeto e sabor. Toda a planta contém um heterósido sulfurado parecido com o componente ativo do agrião.

Há quem utilize igualmente as flores e as folhas para preparar sandes mistas. As sementes podem igualmente ser usadas na gastronomia, de várias maneiras, sendo particularmente interessantes na confeção de molho tártaro, de “pickles” em vinagre, ou para substituir as alcaparras.

Na medicina natural são também muito vastas as aplicações da capuchinha. Tal deve-se ao seu óleo essencial, ao alto teor de vitamina C e a uma substância antibiótica que recentemente foi descoberta na respetiva composição. Por isso, esta maravilhosa planta é ativadora da circulação sanguínea, desinfetante, antiescorbútica, emenagoga, diurética, aperitiva, expectorante, fungicida, etc.

As folhas e as flores frescas abrem o apetite, ajudam a digestão, favorecem o sono e combatem a psoríase, a caspa e a pele envelhecida. O suco é expectorante, sendo eficaz para quem tem bronquites crónicas. O pó das sementes misturado com mel constitui um purgante que tem a rara particularidade de não provocar cólicas.

O conhecido ervanário francês Michel Pierre coloca a capuchinha nos píncaros da fama ao atribuir-lhe reputação como remédio contra a queda do cabelo.


Aqui vai a receita que, com a devida vénia, transcrevemos do seu livro “Les plantes de l’ herboriste”:


Loção capilar:

200 g de sementes de capuchinha;

0,5 litro de álcool a 60 graus;

Macerar tudo durante quinze dias, agitando de tempos a tempos; filtrar.

Friccionar o couro cabeludo todos os dias.


Para terminar, quero ainda referir outro aspecto comprovado e deveras interessante: a capuchinha, quando plantada junto dos pomares, mantém afastados piolhos, pulgões e outros insetos nocivos devido à emanação de vapores sulfurosos que os afugentam.


(texto da autoria de Miguel BoieiroVice-presidente da Direção da SPN)


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