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segunda-feira, 5 de junho de 2023

Majestic e Guarany: 2 Cafés Históricos a não perder no Porto!


E sabia que o Café Majestic já fez 100 anos em dezembro de 2022?  



«O Café Majestic, ou Edifício na Rua de Santa Cartarina, n.º 112, é um café histórico localizado na Rua de Santa Catarina, na cidade do Porto, em Portugal. 

A sua relevância advém tanto da ambiência cultural que o envolve, nomeadamente a tradição do café tertúlia, onde se encontravam várias personalidades da vida cultural e artística da cidade, como também da sua arquitectura de identidade Arte Nova.

O pátio interior, construído em 1925, é um recanto de contornos delicados, com escada e balaustrada de pequenas dimensões, arquitectado como se de um jardim de Inverno se tratasse. 

Na cave foi criada uma galeria de arte destinada a pequenas conferências ou exposições.»

(fonte: Café Majestic – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org))

«O Café Guarany é um restaurante e café histórico localizado na Avenida dos Aliados, em plena Baixa da cidade do Porto, em Portugal.

Integrado num surto de abertura de cafés no Porto na década de 1930, a 29 de Janeiro de 1933[4] foi inaugurado o Café Guarany, projecto do arquitecto Rogério de Azevedo com decoração do escultor Henrique Moreira.

Espaço de convívio, tertúlias e cultura desde a sua fundação, em 2003 o Guarany foi totalmente restaurado, buscando um compromisso entre a tradição e a qualidade de serviço. Uma das paredes passou a ostentar pinturas de Graça Morais.» 

(fonte: Café Guarany – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org))

Vamos, portanto, verificar, mais abaixo, como é que os Cafés Magestic e Guarany se tornaram, afinal, nos dois verdadeiros ícones boémios da vida portuense no início do século XX, continuando ainda a encantar tudo e todos, sejam portugueses ou estrangeiros.

Neste sentido, convido-o, meu caro leitor, a ler a entrevista que tive oportunidade de fazer a Fernando Barrias, Administrador dos Cafés Majestic e Guarany, a quem eu quero desde já agradecer toda a atenção dispensada, tendo sido uma honra divulgar, na Revista P´rá Mesa, mais um pouco da história de Portugal, da qual a gastronomia também faz parte, sem dúvida, um bem haja!


1- Todos nós sabemos que o Café Majestic, no Porto, fez 100 anos no passado mês de dezembro de 2022. E sendo um local histórico por onde já passaram tão grandes artistas e intelectuais, pode começar por contar, aos caros leitores da Revista P´rá Mesa, qual a sua origem, bem como um pequeno resumo da sua história ao longo do tempo? 

Fernando Barrias: A origem do Café Majestic remonta aos primórdios do século XX, tendo sido inaugurado em 1922. Desde então, tornou-se num local emblemático da cidade, com uma história rica e protagonizada por diversas personalidades de relevo.

Durante os anos 20 e 30, o Majestic Café era ponto de encontro para artistas, intelectuais e personalidades importantes da cidade, incluindo escritores, poetas, jornalistas e atores. O café era considerado o centro da vida cultural do Porto, com inúmeros eventos e performances a serem realizados lá.

Na década de 60, o café sofreu uma reforma, mas manteve a sua identidade e o seu estilo original. No entanto, com o passar dos anos, o Majestic Café começou a perder a sua popularidade e acabou por fechar as portas na década de 90, numa altura em que espaços de grande beleza e interesse patrimonial estavam a ser adquiridos por instituições bancárias.

Mas, felizmente, em 1994, o café reabriu as suas portas, graças à intervenção de Agostinho Barrias, que promoveu o seu restauro respeitando o seu antigo esplendor e mantendo a arquitetura e decoração originais. Desde então, tem sido um dos cafés mais procurados da cidade, sendo considerado um dos mais bonitos do mundo, graças ao seu charme e história.

2- Entretanto, o espaço sofreu algumas alterações, fruto da restauração nos anos 90, mas também sobreviveu a várias épocas, nomeadamente por altura da pandemia, em que se pode ler aqui que “Majestic e o Guarany, históricos cafés da cidade do Porto, fecharam as portas por causa da pandemia de covid-19 e não têm data para a reabertura. A falta de clientes tem sido incomportável, tendo em conta os prejuízos que daí advêm.” Pode comentar estes aspetos e em que medida é que, por exemplo, o café Majestic continua a ser considerado um dos cafés mais bonitos do mundo?

Fernando Barrias: Não obstante as dificuldades que têm enfrentado, os cafés Majestic e Guarany têm um valor imaterial, sendo considerados cafés históricos da cidade do Porto e representativos do modo de vida portuense. São, por isso, parte ativa do património cultural e arquitetónico da cidade, testemunhando a sua história e tradição ao longo do tempo. Além disso, são locais de encontro para os habitantes da cidade, onde podem socializar, desfrutar de uma boa bebida e apreciar a arquitetura e a decoração únicas. Por outro lado, o reconhecimento internacional projeta o seu nome além-fronteiras e atrai muitos turistas e visitantes, sendo uma espécie de salão nobre da cidade. 

3- Na verdade, o café Majestic já recebeu inúmeros prémios de reconhecimento, envolvendo o seu valor histórico e arquitetónico. Mas qual o verdadeiro significado para si, de todos os aplausos recebidos até hoje, ao querer reavivar as memórias de todo um passado? 

Fernando Barrias: O reconhecimento do trabalho realizado na defesa de locais com História impulsiona-me a continuar. O meu objetivo é permitir que espaços icónicos da cultura e da arquitetura portuenses sejam preservados e que a sua memória engrandeça o património imaterial da cidade. Por esse motivo, tenho em mãos alguns projetos de construção e restauro de empreendimentos na área da hotelaria.

4- Que tipo de detalhes ao nível da sua «traça original» gostaria de realçar, bem como que tipo de decoração continua a chamar à atenção de quem o visita?

Fernando Barrias: Sendo um dos mais belos exemplares de Arte Nova na cidade do Porto, não posso deixar de destacar os espelhos, os cristais, os dourados, … tudo o que provoque brilho e resplendor.

Quando se entra no café, sente-se a harmonia dos espaços interiores originais - graças ao restauro o mais fiel possível ao projeto original – e contacta-se com uma atmosfera de requinte e bem-estar. A sua beleza e o seu significado valeram-lhe a classificação de Imóvel de Interesse Público pela Câmara Municipal do Porto em 1981 e pelo decreto-lei nº 8/83 de 24 de Janeiro no Diário da República, possibilitando um processo de recuperação e a sua reabertura em 15 de Julho de 1994, com todo o seu esplendor, convidando a reviver a fascinante Belle Époque. 



5- Acrescente-se que o Café Majestic tem sido também palco para diversos tipos de eventos: poderia sublinhar alguns?

Fernando Barrias: Desde concertos de música clássica a flash mobs, passando por tertúlias literárias ou eventos temáticos, o dinamismo do café é imenso. Destaco, porém, a celebração dos 100 anos do Majestic, em dezembro de 2022. Com a presença de Rui Nabeiro e outros ilustres convidados, recriámos o espírito Belle Époque de 1922 e relembrámos a coincidência de, no dia da abertura, terem chegado ao Porto os heroicos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral que estiveram presentes na inauguração.

6- E voltando ao tema do Café Guarany, acolá pode ler-se que “Os tempos passaram, e passado 70 anos desde a abertura, era necessário um novo compromisso entre o Guarany e os portuenses. Hoje é unanimemente reconhecido o êxito da recuperação do Café Majestic em 1994, pela actual gerência. A mesma decidiu abraçar o Café Guarany (2003) e incutir-lhe o mesmo ideal: recuperação com qualidade, devolver os locais históricos do Porto aos seus cidadãos.” Neste sentido, pode contar também um pequeno resumo acerca da própria história do café Guarany, referindo ao mesmo tempo alguns aspetos interessantes a ver com o tipo de decoração escolhida? 

Fernando Barrias: O Café Guarany está localizado na principal avenida da cidade do Porto. Foi fundado em 29 de janeiro de 1933 e tem sido um local de encontro para artistas e intelectuais locais ao longo dos anos. Em 2003, a mesma gerência que havia recuperado com sucesso o Majestic Café decidiu abraçar o Café Guarany com o objetivo de o recuperar com qualidade e devolver aos cidadãos da cidade.

A decoração do Café Guarany é inspirada na arquitetura colonial brasileira, com uma mistura de elementos Art Deco e Art Noveau. No café pode ver-se um índio esculpido pelo escultor Henrique Moreira, painéis da pintora Graça Morais, mosaicos de cerâmica no pavimento e ornamentos em cobre, criando um ambiente acolhedor e elegante. Além disso, o café possui uma ampla variedade de obras de arte e objetos antigos, como máquina original de café, fotografias e gravuras, que dão ao espaço um toque ainda mais especial.

Em resumo, o Café Guarany é uma combinação única de estilo arquitetónico, decoração artística e história cultural, o que faz dele um dos cafés mais emblemáticos da cidade do Porto.

7- Ambos (os cafés do Majestic e do Guarany) complementam-se e são considerados como os «cafés históricos da cidade do Porto», logo também são representativos do modo de vida portuense, é isso? 

Fernando Barrias: Sim, é verdade. O Majestic, localizado na artéria mais movimentada do Porto, senão do país, tem sido um dos cafés mais procurados pelos portuenses e um postal de apresentação da cidade ao mundo, pelo seu charme e pelo cunho que imprime na História. Em 1922, ficou conhecido como o café mais famoso da Península Ibérica e em 2011 foi considerado o sexto café mais bonito do mundo. O Guarany deu um contributo inestimável para a promoção cultural da cidade, sendo um ponto de encontro de intelectuais e um ninho de manifestações culturais. Hoje, continua a ser o ponto de encontro de pensadores, artistas e outros visitantes.

8- E quais as suas principais expectativas para o futuro destes dois espaços tão emblemáticos em Portugal?

Fernando Barrias: Pela história que tenho vindo a recordar, é importante que estes espaços continuem a ser preservados e restaurados para futuras gerações e que sejam mantidas as suas características originais para manter a sua autenticidade e importância histórica. Além disso, espera-se que eles continuem a ser espaços de encontro para os habitantes da cidade, oferecendo um ambiente acolhedor e agradável para a socialização.

9- No que diz respeito a iguarias, quais são as maiores especialidades nos dois cafés e qual o número de lugares sentados, tanto no interior, como no exterior, em cada um deles?

Fernando Barrias: Ambos os cafés, Majestic e Guarany, oferecem uma ampla variedade de iguarias, incluindo pastéis de nata, bolos, tortas, café e chá, a famosa rabanada entre outros. Além disso, também oferecem refeições ligeiras, como saladas e sanduíches, para almoço ou jantar. 

No que diz respeito ao número de lugares sentados, ambos têm capacidades até 120 lugares. São dois cafés históricos com espaços interiores acolhedores, elegantes e com mesas e cadeiras confortáveis, além das esplanadas exteriores e terraço interior no Majestic Café, onde os clientes podem desfrutar de uma refeição ao ar livre.

10- É possível fazer-se reserva nos dois cafés? E, se sim, quais os contactos mais diretos para o fazer e qual o horário de funcionamento nos dois estabelecimentos e moradas respetivas?

Fernando Barrias: Não é possível fazer reserva, devido à elevada procura no Majestic Café. Os clientes são atendidos por ordem de chegada. 

No Café Guarany, aceitamos reservas por e-mail e por telefone.



11- Para terminar, qual o significado dos nomes «Majestic» e «Guarany»?

Fernando Barrias: O significado dos nomes "Majestic" e "Guarany" tem a ver com a grandeza e a dignidade que os proprietários desejavam transmitir através dos cafés. 

"Majestic" é uma palavra de origem inglesa que significa "majestoso" ou "imponente". 

"Guarany" é uma palavra de origem indígena da América do Sul que pode ter relação com uma tribo indígena do Paraguai. No século XVII, os índios guarany constituíam a maior nação indígena, formando um grupo homogéneo aparentado aos tupinambás e que pertenciam à maior família linguística do Brasil chamada de tupi-guarany.

Os guarany ocupavam uma imensa área formada pelas províncias brasileiras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, juntamente com partes dos países vizinhos, Paraguai, Uruguai, Argentina e Bolívia. Nas tribos guarany, uma das características mais importantes residia na inexistência de métodos coercivos. Os líderes desempenhavam as suas funções sem recorrer à ameaça do uso da força. Esta tribo influenciou o ilustre escritor romântico brasileiro José de Alencar, que em 1857 editou “O Guarani” que versava o romance proibido da fidalga portuguesa Cecília com o índio Pery, chefe de uma tribo guarany. Esta obra iria ser posteriormente a fonte inspiradora da ópera de Carlos Gomes, “Il Guarany” que teve a sua estreia a 19 de março de 1870 no famoso Teatro Alla Scala de Milão, Itália.

Influenciado por toda esta aura romântica, abria as suas portas a 29 de janeiro de 1933 o café-restaurante Guarany, o perfume indígena da Amazónia bem no coração do Porto.






(texto da autoria de Mónica Rebelofundadora da Revista P´rá Mesa)

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