De acordo com o site Wikipédia, "Odivelas é uma cidade portuguesa do distrito de Lisboa, região e sub-região da Área Metropolitana de Lisboa, com cerca de 148 mil habitantes".
E já no Blog
Cozinha Com Rosto, mais precisamente aqui, tinha editado 1
de 2 números da Revista P’rá Mesa, ainda que apenas em formato
PDF, de forma a que todos os Subscritores, na altura, as recebessem diretamente
no seu email!
Lá, procurei dar desde
logo a conhecer um pouco das histórias e tradições de Odivelas, que é
também o concelho onde eu resido!
Por outro lado, no passado dia 19 de novembro de 2022, celebrou-se o 24.º Aniversário do Município de Odivelas, em que tive a grande oportunidade de assistir ao evento assinalado na Igreja do Mosteiro de Odivelas no dia 18 de novembro para efeitos de, entre os tópicos já retratados anteriormente, apresentação do livro “Madre Paula, Rainha na Sombra” de autoria de Ricardo Correia, a convite do próprio Presidente da Câmara Municipal de Odivelas, Hugo Martins!
Logo, também
terei todo o interesse em saber mais acerca até das próprias receitas conventuais
do Mosteiro de São Dinis e São Bernardo de Odivelas (Convento de Odivelas),
tal como a icónica <<marmelada branca>>, ligada por sua vez
à grande história de amor proibida entre o Rei D. João V de Portugal
e a ambiciosa Madre Paula!
Mas, afinal de
contas, quem é que foi a digníssima Madre Paula?
Vamos ler, portanto, em conjunto, a entrevista abaixo, meu caro leitor, aconselhando-o, vivamente, a adquirir o livro e a passar um pouco do seu tempo a ler algo de grande qualidade e valor histórico português!
1) Curiosamente, Ricardo Correia nasceu no mesmo ano que eu, logo numa altura em que não havia telemóveis nem tão pouco internet, não é verdade?Ricardo Correia: Poderia brincar
dizendo que nos “longínquos” anos setenta comunicávamos de outras formas. Os
telefones tinham fios e ainda se escreviam postais, cartas, telegramas....
Havia mais demora em transmitir as notícias, mas vivia-se de outra forma. Mais
tranquila ou talvez com preocupações diferentes.
2) Porém,
havia mais tempo para contar histórias e ler um bom livro, concorda?
Ricardo Correia: Sem dúvida. Como as distrações eram menos, o tempo para o entretenimento era também repartido com muita leitura. Hoje, com algum distanciamento, consigo perceber que alguns dos livros que me lembro de ter lido enquanto criança não eram tão adequados, ao ponto de os ter relido anos mais tarde e ter percebido de forma diferente as histórias que contavam. Quanto ao serem “bons ou maus”, é uma distinção que cada vez menos consigo fazer. Aquilo que é para mim um “bom livro” pode ser algo que para outro não o seja. É uma classificação muito subjetiva e que depende sobretudo da interpretação de cada um.
3) Até que
ponto é que acha essencial continuar a escrever livros, mesmo sabendo que, por
exemplo, cada vez mais jovens se desligam do "mundo em papel"?
Ricardo Correia: As histórias
continuam a ter de ser contadas. Hoje, é mais acessível a alguém conhecer uma
história através dos meios audiovisuais, nomeadamente um filme, uma série, uma
peça de teatro. No entanto, se todas essas formas de entreter não tiverem uma
base escrita e funcionarem na base do improviso, nem sempre funcionam ou
atingem o público. Essa é uma das funções mais importantes para continuar a
escrever livros. Da mesma forma e apesar dos jovens estarem cada vez mais
“desligados” do papel, estão em força nas redes sociais. Penso que passará num
futuro mais ou menos próximo por encontrar um equilíbrio que leve os mais
jovens a ler e a consumir literatura, equilibrando-a com o entretenimento
visual. E há sempre as plataformas de e-book que atualmente permitem ler sem a
necessidade física do livro enquanto objeto.
4) E
porquê começar uma carreira literária em 2017?
Ricardo Correia: No meu caso
concreto... calhou. Comecei a escrever o primeiro livro, que se haveria de
tornar “O Segredo dos Bragança” por volta de 2012. Concluí esse livro em 2015,
fiz várias tentativas para que o mesmo fosse editado, sem sucesso. Participei
em concursos literários, iniciativas diversas sempre sem resultados concretos.
Em 2017, conheci aquela que é a minha atual Editora, que me propuseram que
publicasse com eles. O caminho inicial que esse livro na altura trilhou
levou-me a apresentar uma ideia que acabaria por ganhar forma nos anos
seguintes, e que por agora, me trouxe até “Madre Paula”.
5) Qual é a sua formação
profissional?
Ricardo Correia: A minha formação
profissional é numa área totalmente diferente da literatura ou das artes. Tenho
formação em Engenharia Civil e fui, ao longo dos anos, fazendo formações em
áreas distintas, sempre com vista ao enriquecimento pessoal.
6) No que
diz respeito ao seu livro denominado "Madre Paula, rainha na sombra",
que aspetos relevantes gostaria mais de realçar a ver com a história de
Odivelas?
Ricardo Correia: Na história de Odivelas, há períodos muito interessantes e que por vezes se confundem com a própria história da região onde a cidade está inserida. O caso concreto da escolha da personagem de Madre Paula tem que ver com um desses aspetos. Numa primeira conversa com a professora Máxima Vaz sobre o mosteiro e sobre a vida à volta do mosteiro, houve um elemento que me despertou uma particular curiosidade: “madre” Paula, como era tratada, era uma rapariga sem vocação para a igreja, cujos biógrafos nos deixam com pouco mais do que a noção de ser “a mais famosa das amantes de D. João V” e filha de um ourives de ouro estabelecido em Lisboa. O que me levantou logo a pergunta – quem era verdadeiramente madre Paula? Filha de um ourives, injustificava a razão pela qual ingressou em Odivelas que era a de não ter dote para um casamento decente, já que a irmã mais velha, essa sim com grande dedicação e vocação, já professara em Odivelas. Falar por isso de “madre” Paula é também viajar até ao período que antecede o grande terramoto de 1755 e às pessoas que se ligaram de uma forma e de outra a Odivelas. Mas para mim, há ainda muito mais para ser descoberto.
7) Qual o verdadeiro significado de <<rainha na sombra>>?
Ricardo Correia: Tal como já
indiquei, o que nos deixaram os biógrafos e as poucas informações de que
dispomos, apontavam Paula Teresa da Silva apenas como “a mais famosa das
amantes de D. João V”. Partindo dessa ideia e das dúvidas que se levantaram,
avancei o mais fundo que consegui em pesquisa sobre a época em questão, do
início até meados do século XVIII. Percebi pouco depois a influência que
Odivelas exercia e que estava muito para lá da imagem que muitos deixaram sobre
ser apenas um local para encontros furtuitos entre noviças e cavalheiros, ou um
lugar para muitas festas que pouco ou nada tinham de religiosas. Foi por isso
tomada a decisão de chamar Paula como a “rainha na sombra”. É indiscutível o
amor que foi partilhado entre ela e o rei. Percebe-se hoje a importância que
ela terá tido como uma conselheira informal junto do rei, do seu secretário
pessoal e penso que até junto do confessor régio. Muitas pessoas a procuraram
pedindo favores pessoais para que ela intercedesse junto do monarca para a
obtenção desses favores. O pouco que ainda se sabe sobre Madre Paula de
Odivelas é que realmente há-de ter tido uma influência muito significativa
sobre a política da sua época. O que a tornou uma espécie de rainha, apenas não
reconhecida como tal.
8) Que
outros livros já́ escreveu e que expectativas tem para um futuro mais ou menos próximo?
Ricardo Correia: Em 2017, lancei
com a Ego Editora o meu primeiro romance “O Segredo dos Bragança” que viajava
um pouco pela quarta dinastia dos reis de Portugal e que é um livro que está à
beira de atingir uma 3ª edição, no qual D. Carlos, penúltimo rei se depara com
um segredo que está na família desde a antiguidade e que lhe é apresentado sob
a forma de cartas escritas por Catarina de Bragança, filha de D. João IV, e
cujo conteúdo pode revelar um segredo que abanará as fundações da própria
dinastia. Seguiu-se depois a trilogia “O Regresso do Desejado”, com os títulos
“Ascensão” de 2018, “Inquisição” de 2019 e “Redenção” de 2020. Este livro,
classificado como Ficção Histórica, foi baseado no hipotético regresso de D.
Sebastião, derrotado na batalha de Alcácer-Quibir e forçado a enfrentar a
oposição dos seus próprios pares na corte portuguesa e as ambições de D. Felipe
II de Espanha, seu tio, dispostos a tudo para o removerem do trono e unificarem
a Península Ibérica. Esta trilogia explora o século XVI e as relações de Portugal
com as restantes coroas europeias, com o Papado e com a própria Igreja. A estes
livros, seguiu-se recentemente “Madre Paula, rainha na sombra”, que marca o meu
regresso ao Romance Histórico. Fora estes títulos, tenho algumas participações
na escrita de peças de teatro, a coautoria de um livro sobre o vinho Arinto de
Bucelas, para a respetiva Confraria, a participação com pequenos textos e
contos em folhas de leitura destinadas ao público de bibliotecas no interior de
Portugal e algumas colaborações esporádicas com jornais e revistas.
Para o futuro, tenho ainda mais histórias para contar, tendo já iniciado a pesquisa e investigação para um novo livro, que se tiver condições para tal, também será levado oportunamente à edição.
9) Será́
que pode explicar melhor, aos caros leitores da Revista P'rá Mesa, o que quer
dizer com "está em curso a adaptação dos seus livros para televisão"?
Ricardo Correia: Em 2019, a
poucos meses da publicação do segundo volume da trilogia, “Inquisição”, fui
contactado por um produtor de cinema que tinha lido o primeiro volume da
trilogia (“Ascensão”) perguntando-me se estava interessado em fazer uma
adaptação desta história para o formato de televisão. Aceitei nessa altura o
desafio, por estar também a acabar a escrita do último volume, o que me
permitiria mexer na história que tinha criado, por forma a torná-la ainda mais
atrativa, se tal fosse possível. Desde essa altura e até agora, essa adaptação
continua a ser feita, com um guião já adaptado a partir dos livros, e que
aguarda apenas encontrar financiamentos que permitam que a mesma avance, pois
se o mercado literário em Portugal não é muito grande, o audiovisual também não
tem dimensões maiores. É um trabalho lento, mas que haverá de ser feito com o
passar dos anos.
10) Por último, e
porque P ́rá Mesa se trata de uma Revista Gastronómica: gosta de cozinhar?
Quer partilhar a sua receita favorita?
Ricardo Correia: Gosto de cozinhar. E dizê-lo assim, é uma afirmação muito vaga, mas com uma força muito grande. Gosto de comida lenta e que se pode desfrutar com muita calma. Mas também às vezes de algum fast-food. Depende das situações e muito da vontade. Não tenho tido muitas oportunidades, mas sempre que posso, gosto de estar agarrado aos tachos. Receitas favoritas tenho algumas, mas aquilo que me dá mais gozo fazer, é sem dúvida uma mousse de chocolate, especialmente para ser comida depois de um prato dessa culinária lenta que tanto nos caracteriza, como uma feijoada ou um cozido à portuguesa. Não há por isso uma receita que eu destaque acima de todas as outras. O fundamental para mim é experimentar e juntar os aromas e os paladares da cozinha portuguesa num prato que no fundo resuma bem o que significa historicamente ser português e gostar da nossa muito variada gastronomia.
EXCELENTE entrevista! Vou ler o MADRE PAULA. Quero conhecer Odivelas!
ResponderEliminarMuito obrigada pelo seu comentário, ficando então à espera que depois diga aqui sobre o que achou do livro, cumprimentos,
EliminarMónica Rebelo,
fundadora da Revista P´rá Mesa em www.pramesa.pt
e detentora do Blog Cozinha Com Rosto em www.cozinhacomrosto.pt
Muito agradeço. Recomendo vivamente descobrir o património de Odivelas, em especial o mosteiro e espero que descubra muito mais sobre Madre Paula, além do redutor a que sempre nos habituámos nos livros de Historia.
ResponderEliminarE eu é que agradeço, caríssimo Ricardo Correia, pela disponibilidade em dar a conhecer aos leitores da Revista P´rá Mesa mais um pouco sobre as histórias e costumes odivelenses, um bem haja!
EliminarCom os melhores cumprimentos,
Mónica Rebelo,
fundadora da Revista P´rá Mesa em www.pramesa.pt
e detentora do Blog Cozinha Com Rosto em www.cozinhacomrosto.pt