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quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Plantas e comeres do Piauí, Ceará e Santa Catarina - PARTE II


Rever a PARTE I aqui!



Macaxeira (Manihot utilissima)

Conforme João Batista nos explicou, este tubérculo dá pelo nome de aipim no Rio de Janeiro e de mandioca em São Paulo. A macaxeira esteve sempre presente nos nossos repastos, substituindo a batata, que aqui se chama batata-inglesa, vamos lá saber porquê. É um bom farináceo que substitui a farinha de trigo na confeção de pães e bolos. Em Rio dos Cedros (Santa Catarina) costumam plantá-la nos valados que dividem os arrozais. Com macaxeiras, inhames, batata-doce e arroz branco e negro, nem nos lembramos do pão. Eis aqui uma alimentação ideal para os celíacos, alérgicos ao glúten.

Maxixe (Cucumis anguria)

Pequeno fruto que lembra, pela sua configuração e tamanho, os pepinos-de-são-gregório. A cunhada do João trouxe-os para confecionar o jantar, dado serem cozinhados como legume. Muito bons!

Coqueiro (Cocos nucífera) – Água-de-coco

Das virtudes dos coqueiros não iremos falar de tão conhecidas que elas são. Registamos apenas uma curiosidade. Gabriela, a filha mais nova do casal e futura arquiteta, bebeu água (H2O) pela primeira vez quando tinha sete anos e logo cuspiu, pois não gostou. Por via duma moléstia que na altura grassava no Piauí, a sua mãe só lhe dava água-de-coco para matar a sede.

Piquizeiro (Caryocar coriaceum)

Excelente árvore silvestre que se encontra nos matagais do nordeste. Estava no sítio Monte Carlo, onde passámos um dia bem agradável. Mais tarde colhi a sua identificação no Parque Nacional das Sete Cidades. É uma árvore com copa esgalhada, cujos frutos (piquis) são bastante apreciados por animais e humanos. A germinação das suas sementes é difícil. O óleo extraído da respetiva amêndoa equipara-se em propriedades medicinais ao do fígado de bacalhau.

Sapotizeiro (Achras zapota)

É uma árvore alta que dá frutos deliciosos. Vimo-la num quintal junto à CDR (Clínica de Doenças Renais) do nosso novel amigo Dr. Cícero, em Teresina. Em Parnaíba saboreámos um gelado de sapoti e açaí.

Açaízeiro (Euterpe oleracea)

Atenção que a palavra açaí é aguda. Tem acento no i. Em Portugal diz-se, por vezes, açai, talvez porque o termo tenha chegado por via da língua inglesa que, como é sabido, não usa acentos.

Numa esplanada em Tianguá (Ceará) provei, pela primeira vez, este fruto da Amazónia. Foi uma tigela cheia de polpa de açaí com flocos de cereais e bananas cortadas às rodelas; o suficiente para constituir uma refeição completa. Na referida esplanada retirei o seguinte texto:

O açaí é um dos alimentos mais nutritivos do mundo. O açaízeiro pode atingir 30 metros de altura. A fruta é rica em proteínas, fibras, lípidos, vitaminas do complexo B e C e tem muitos sais minerais (ferro, fósforo, cálcio e potássio). É rica em antocianinas, as quais ajudam a eliminar as enzimas que destroem o tecido conjuntivo. A sua capacidade antioxidante impede que os radicais livres danifiquem os tecidos conjuntivos e pode ajudar a reparar as paredes danificadas dos vasos sanguíneos. Melhora a circulação, protege contra as doenças neurológicas, aumenta a taxa de metabolismo e auxilia no emagrecimento ao queimar as gorduras. Tal acontece porque possui ácidos gordos ómega 3, 6 e 9 que combatem o envelhecimento prematuro e promovem a saúde vascular e digestiva. O ómega 6 presente no açaí ajuda a eliminar o colesterol mau (LDL). O ómega 9 mantém o HDL em bons níveis.

Mesmo dando de barato algum exagero de natureza comercial, esta descrição não deixa de impressionar.

Jabuticabeira (Myrciaria cauliflora)

Foi das árvores lindas a que mais me impressionou, embora não estivéssemos na estação de maior frutificação. A jabuticabeira reveste-se de frutinhos (jabuticabas) de alto a baixo, incluindo no próprio tronco. São como pequenas uvas pretas na cor, configuração e tamanho. Com eles se confecionam saborosas bebidas refrescantes como a que tomámos em Rio dos Cedros (Santa Catarina), preparada pelo António e proveniente da árvore que possuía no quintal.

Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum)

Duma forma geral, os brasileiros usam com mais parcimónia o açúcar refinado do que os portugueses. Preferem o açúcar mascavo (não refinado) ou o melaço. Usam também o “caldo-de-cana” que é o suco fresco retirado da cana esmagada logo após o corte. Mas a mais afamada utilização deste vegetal é no fabrico da cachaça. No livro que citámos no início desta croniqueta, há um capítulo intitulado - Os mil nomes da “marvada”, em que a bebida nacional brasileira é popularmente designada por abrideira, cem-virtudes, cobertor-de-pobre, cura-tudo, engasga-gato, esquenta-corpo, quebra-goela, santinha, tira-vergonha, urina-de-santo, xarope-dos-bêbados, apaga-tristezadoidinha …etc., etc.

Com proficientes cuidados, o amigo João Batista preparou-me uma caipirinha – sumo de limão, mel, gelo e cachaça que baste. Para cumprir o ritual eu teria que a tomar. Consegui! Bebi uns golos no primeiro dia e o resto no segundo dia e lá acabei a “marvada”. No restaurante rural Joana Bella (Rio dos Cedros, Santa Catarina) onde nos serviram um magnífico almoço italo-brasileiro, provei o Bunicam. Disseram que era uma bebida medicinal confecionada artesanalmente com 12 ervas maceradas em cachaça. Não a consegui tomar de tão forte que estava.

Murici (Byrsonima crassifolia)

Trata-se de uma árvore que encontrei, com tabuleta identificativa no Parque Nacional das Sete Cidades (Piauí). A floração e a frutificação ocorrem na maior parte do ano, sendo os frutos consumidos pela fauna que dissemina as sementes.

Sambaíba (Curatella americana)

Também conhecida por Lixeira porque as suas folhas são ásperas devido à elevada concentração de sílica. São utilizadas em substituição da lixa em todos os usos desta. Os frutos, avermelhados, são apreciados pelos pássaros que fazem a respetiva sementeira.

Orquídeas e bromélias

É um encanto, ver por todo o lado, estas plantas parasitas e epífitas nos galhos e troncos do arvoredo, formando lindos “bouquets”.

Eucalipto vermelho (Eucalyptus ficifolia)

O biomédico Sérgio Franceschini Filho, na sua obra “Plantas Terapêuticas”, enuncia 13 espécies de eucalipto existentes no Brasil, todas com propriedades medicinais. Em Timbó (Santa Catarina) tive a oportunidade de visitar uma estância de madeiras e de falar com o respetivo gerente, Jairo Cipriani. Fiquei a saber que o principal negócio da firma assenta na comercialização, incluindo a exportação para os EUA e para a China, de toros e tábuas de eucalipto vermelho. A resistência, durabilidade e beleza desta madeira é muito superior à dos nossos eucaliptos (Eucalyptus globulus), cuja utilidade económica se baseia fundamentalmente na pasta de papel. Jairo tinha as paredes do seu gabinete revestidas com tabuado de eucalipto vermelho, o que conferia ao espaço, elegância e conforto.

Araucária (Auracaria brasiliensis)

É uma das espécies protegidas de entre as muitas que existem no Brasil. Contrariamente a outras dióicas (indivíduos vegetais sexualmente distintos), reconhece-se facilmente qual é o macho e qual é a fêmea. A árvore macha ostenta no cimo uma espécie de coroa (tinha que ser!), enquanto a fêmea tem uma copa mais piramidal. De crescimento lento, esta conífera chega a viver 700 anos. Os pinhões são altamente nutritivos.

Pau-brasil (Caesalpinia echinata)

Eis a árvore que propiciou o nome atual às terras de Vera Cruz. Por razões económicas foi devastada de tal maneira que quase se extinguiu. Diz-se que em quatro séculos foram cortadas 70 milhões de árvores. Hoje é também uma das espécies protegidas. Leva um século até atingir o estado adulto. Vimo-la pela primeira vez na cidade de Viçosa (Ceará). As folhas são pequenas, verde-escuras e brilhantes. A nossa amiga Ana explicou-nos que, na época própria, dá umas vagens com sementinhas vermelhas.

Outras frutas

Para não enfastiar mais os meus pacientes leitores acrescento, sem mais delongas, os nomes de outras frutas que fui deparando:

Papaia, goiaba, manga, ata, jenipapo, cajá, tamarindo, pitomba, guabiraba, abacaxi, jatobá, melancia, jaca, siriguela, taturubá, buriti, graviola, maracujá, ingá, cambucá, bacupari, peroti, nozes de pecam …

Outras espécies usadas em fitoterapia

Mirindiba, espatódio, alfavaca, mastruz, gameleira, embireira, ingarana, ficus benjamina, janagula, sambaíba, embaíba, chuchu, boldo, boldo-do-chile, capim-limão, cravo-da-índia, caneleira, picão, guaco, quebra-pedra, lípia, urtiga, couve-manteiga, pata-de-galinha 

 

Obras consultadas:

As plantas medicinais e a enfermagem – a arte de assistir, de curar, de cuidar e de transformar os saberes” de Lis Medeiros e Ivone Cabral, Editora Gráfica da UPFI – Teresina- 2002;

Plantas terapêuticas” de Sérgio Filho, Organização Andrei Editora, São Paulo, 2004;

Em se plantando, tudo dá” de Mylton Severiano e Katia Reinisch, Editora Leitura, Belo Horizonte, 2009;

O tratamento através das plantas medicinais” de Chantal de Rudder, Editora Rideel, São Paulo, s/d;

50 Plantas que mudaram o rumo da História” de Bill Laws, GMT Editores, Rio de Janeiro, 2013.


(texto da autoria de Miguel BoieiroVice-presidente da Direção da SPN)


2 comentários:

  1. Pratos lindos, devem ser muito saborosos e certamente nutritivos! Opinião do Jack!

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    Respostas
    1. Muito obrigada pelo seu comentário, esperando vê-lo por aqui mais vezes!
      Mónica Rebelo,
      fundadora da Revista P´rá Mesa em www.pramesa.pt
      e detentora do Blog Cozinha Com Rosto em www.cozinhacomrosto.pt

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