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segunda-feira, 20 de maio de 2024

Maria Rosete Milheiro, Vice-Presidente da AAAIO, em Entrevista à Revista P´rá Mesa!


A Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas tem, por emblema, a Cruz de Avis pendente de um laço verde com as letras IO inscritas sobre o nó, tendo, por lema: "ser amiga é ser irmã".



Assinalou-se, no passado mês de janeiro, o 124.° aniversário da fundação do Instituto de Odivelas sediado, desde 1902, no Mosteiro de S. Dinis e S. Bernardo de Odivelas.

E, entre os dias 21 de outubro e 31 de dezembro de 2023, esteve aberta ao público, na Quinta do Espírito Santo (Odivelas), a exposição que fazia falta para relembrar que passaram oito anos após o fecho desse mesmo Instituto:

"Enquanto existirmos, nós, Antigas Alunas, devemos manter viva a memória da Escola que nos acolheu, do Ensino a que tivemos direito, dos valores que apreendemos de uma época vivida em proximidade, da adolescência despertada neste espaço coletivo...do adeus e do que fica para vida.

(fonte: ESPAÇOS DE MEMÓRIA (aaaio.pt)

Acrescente-se o facto de, no passado mês de março, se celebrar também o 105º aniversário da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas (AAAIO) e do Dia da Antiga Aluna.

Por tudo isto, meu caro leitor, convido-o a ler, já de seguida, a entrevista que tive a oportunidade de fazer a Maria Rosete Milheiro, Vice-Presidente da AAAIO:

1. Em https://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_de_Odivelas pode ler-se que “a criação do Instituto de Odivelas teve inicialmente como finalidade instruir órfãs filhas de oficiais mortos em combate ou por doença, a mesma finalidade do Real Colégio Militar, fundado em 1803”, confirma?

Maria Rosete Milheiro: O Instituto de Odivelas, nasceu da vontade de um pequeno grupo de oficiais (15) da Armada e do Exército preocupados com a situação financeira e social das viúvas e órfãs dos militares mortos em combate. Estamos no final do século XIX e as viúvas ficavam quase sempre sem meios de subsistência e, consequentemente, sem capacidades financeiras, não só para instruírem as suas filhas, como para lhes poder continuar a dar uma vida socialmente digna.

Constituída a Comissão fundadora e formulados os objetivos, o programa foi apresentado à família real que, desde o início o abraçou, tendo ficado sob o beneplácito do Infante D. Afonso (daí a sua primeira denominação - Instituto D. Afonso) e de sua mãe, a rainha D. Maria.

2. E qual era, na altura, o código de honra da instituição, bem como o tipo de currículo e disciplinas que tinha para oferecer?

Maria Rosete Milheiro: De acordo com a preocupação da Comissão fundadora, o Instituto teve, desde o início, um currículo escolar adaptado aos objetivos que presidiram à sua fundação, por forma a permitir que as suas educandas adquirissem valências que lhes permitissem ter aceso rápido ao mundo do trabalho e ficarem economicamente independentes. Constam dos primeiros currículos, disciplinas como: lavores, canto coral, francês, puericultura, economia doméstica, educação física, além das disciplinas teóricas. Durante 22 anos dos primeiros 50 anos da sua existência, o Instituto de Odivelas teve como diretor um grande pedagogo, o Coronel Ferreira de Simas que introduziu os métodos mais inovadores de ensino à época. Os conteúdos programáticos foram atualizados ao longo dos tempos e tiveram sempre a preocupação de dar, à educanda, uma formação completa, não só académica, mas também prática. Era tão importante ser boa profissional como boa dona de casa.

3. Já agora, que tipo de refeições é que costumavam ser mais servidas no refeitório do Instituto de Odivelas? Pode descrever alguma receita?

Maria Rosete Milheiro: Como mera curiosidade informo que o primeiro jantar, no Instituto de Odivelas, a 14 de janeiro de 1900, então Instituto D. Afonso, foi servido pelas rainhas D. Maria Pia e D. Amélia.

Ainda respondendo à sua pergunta, menciono que entre os pratos característicos e mais apreciados, servidos no Instituto, estão: “o amarelo”, “as bolas de carne com feijão encarnado” e ”a piscina”.

4. Por curiosidade, “o Mosteiro de Odivelas serviu de palco para várias histórias” e “muitas delas encontram-se envoltas em mistérios, existindo lendas e curiosidades que tornam esta construção num espaço mítico". E claro que "freiras, madres, abadessas, reis, nobres foram algumas das personagens que protagonizaram os principais escândalos do Mosteiro de Odivelas." Por isso, que tipo de histórias é que as alunas do Instituto de Odivelas mais ouviam falar na altura? E se, em https://lendasdesintra.blogspot.com/2010/01/tuneis-de-odivelas.html, até se descreve sobre “uma porta dentro do Mosteiro de Odivelas, selada”, que na altura era “guardada por uma Freira de 100 anos que nasceu e nunca saiu do Convento”, através da qual, “D. Dinis saía e entrava para ir ter com as Meninas de Odivelas”, será que existia, de facto, por exemplo, uma rede de túneis em Odivelas, com destino ainda ao próprio Colégio Militar?

Maria Rosete Milheiro: Esta pergunta, tal como está formulada, carece de algumas clarificações, pelo que vou tentar responder ao que me parece importante informar. O convento foi mandado construir por D. Dinis e entregue às monjas bernardas da Ordem de Cister. Desde a sua fundação, este mosteiro foi muito acarinhado pelo poder real, tendo acumulado tanta riqueza que lhe permitiu ser considerado um dos Mosteiros mais ricos de Portugal. Por sua vez, as monjas provinham, de um modo geral, da classe nobre, o que explica o nível de cultura que se vivia no Convento. Daí, a notoriedade de algumas monjas e abadessas, como é o caso da Abadessa D. Violante Cabral que encomendou a Gil Vicente o Auto da Cananeia, estreado neste mosteiro.

Além do já referido, este convento tinha outra particularidade: alguns dos seus membros recolhiam ao convento, mas nunca professavam.

Várias foram as figuras célebres que passaram pelo Mosteiro. Nomeamos, entre outras, D. Filipa de Lencastre e a Princesa Santa Joana.

Também célebre, foi a Madre Paula, por quem D. João V se perdeu de amores e de quem teve dois filhos - Os meninos de Palhavã.

O comportamento de D. João V chegou ao conhecimento do Vaticano, tendo o Papa proibido o rei de frequentar o Convento. Esta interdição levou o rei a mandar construir uma casa anexa ao convento para os seus encontros amorosos, cuja entrada se fazia através de uma ligação entre os dois edifícios.

Tudo o resto nasceu da imaginação popular. Acrescento que nunca houve nenhuma rede de túneis entre o Instituto de Odivelas e o Colégio Militar. Havia sim, uma grande rede de afetos entre os estudantes dos dois estabelecimentos militares de ensino devido aos laços familiares existentes entre os alunos/as dos mesmos.

5. A Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas (AAAIO) é, portanto, uma Instituição Particular de Solidariedade Social, mas em que ano é que foi fundada e quais os seus principais objetivos para com as antigas alunas, mas também para com a própria sociedade em geral?

Maria Rosete Milheiro: A fundação da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas ocorreu em 1919 sob a diretiva do então Diretor do Instituto, Coronel Ferreira de Simas.

Desde sempre, os objetivos da Associação foram:

- Que todas as Antigas Alunas fossem sócias;

- Que se criasse um Lar para Antigas Alunas;

- Que se organizassem reuniões de confraternização.

Estes objetivos estiveram sempre presentes e foram transversais a todos os tempos.

Hoje, a Associação mantem atividades lúdicas e culturais para as associadas e gere um lar, “Lar Nova Casa” , atualmente, uma ERPI (estrutura residencial para pessoas idosas).

6. E quais são os seus principais recursos e como é que cada um de nós poderá tornar-se sócio? 

Maria Rosete Milheiro: Para ser sócia da Associação das Antigas Alunas, caso não tenha sido aluna, terá que ser proposta por uma sócia, preencher uma Ficha que depois de preenchida será aprovada em reunião de Direção.

7. No que diz respeito à exposição inaugurada a 21 de outubro de 2023 na Quinta do Espírito Santo (Odivelas), pode contar, aos caríssimos leitores da Revista P’rá Mesa, o que significa, para vós, antigas alunas, o facto de manterem viva a memória da escola que vos acolheu? 

Maria Rosete Milheiro: A Exposição “Espaços de Memória” que esteve aberta ao público, de 21 de outubro a 31 de dezembro 2023, no palácio da Quinta do Espírito Santo, teve como principal objetivo realçar, através de uma pequena resenha histórica, a importância que o Instituto teve como escola e a memória que nos deixou como antigas alunas.

Passados já sete anos sobre o fecho deste estabelecimento de ensino, entendeu a atual Direção ser importante realizar um evento que mantivesse viva a memória da escola onde estudámos e nos formámos como cidadãs.

A exposição visava principalmente realçar:

- A excelência do ensino ministrado ao longo de 115 anos de ensino;
- Os valores adquiridos ao longo do internato, vivido por gerações e gerações de alunas.


8. Em http://litoralcentro-comunicacaoeimagem.pt/2015/12/11/destruir-excelencia-porque-sim-falsa/  está expresso que o "ex-Ministro da Defesa Aguiar Branco e a sua equipa usaram sucessivamente diferentes argumentos para justificar o seu encerramento precipitado e lesivo do interesse nacional, dos direitos das mulheres e da memória da sua luta pelo acesso ao ensino", tal como "representava um custo excessivo" e ainda "igualdade de género", quer comentar?

Maria Rosete Milheiro: O fecho do Instituto de Odivelas foi um capricho político. Para nós, Antigas Alunas, foi inexplicável, uma perda dolorosa que ainda hoje dói, mas quem mais perdeu foi o país. Extinguiram uma escola de excelência, inovadora, referenciada a nível nacional e internacional, que educou e formou milhares de cidadãs, ao longo dos 115 anos da sua existência.

Quem não sabe a importância da educação do povo no desenvolvimento de uma nação?!


 (texto escrito por Mónica Rebelofundadora da Revista P´rá Mesa, com algumas fotografias cedidas por Maria Rosete Milheiro, Vice-Presidente da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas)


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