A indústria alimentar gera milhões, e ninguém tem dúvidas disso. E como tal, está repleta de pessoas brilhantes nas mais diversas áreas, nomeadamente no marketing.
Não é, por isso, de estranhar que alguns dos
melhores profissionais do marketing estejam ligados a este setor de atividade
tão lucrativo. E por isso também não é de estranhar que as nossas escolhas
sejam, em grande parte, manipuladas por quem nos quer vender (e por vezes impingir!)
determinado produto. E são tantas as formas de influenciar as escolhas dos
consumidores…
Quando eu me refiro a influenciar as escolhas dos
consumidores, não tem que ser necessariamente no mau sentido. Por exemplo, há
muito tempo que se reconhece que os rótulos frontais, e as informações que
contêm, podem ser um importante aliado na prevenção da obesidade, por exemplo.
De uma maneira geral estes são fáceis de entender e processar, ajudando os
consumidores a optarem por produtos mais saudáveis do que se estivessem a
comparar as tabelas nutricionais que normalmente aparecem na parte dos lados ou
de trás das embalagens. Além da própria informação contida no rótulo frontal,
também as cores utilizadas parecem ter um impacto importante na forma como
afetam a capacidade de escolha dos consumidores. Além das informações diretas
relacionados com o produto propriamente dito, muitas vezes os rótulos frontais
estão ainda associados a vários tipos de alegações que podem ser nutricionais
(por exemplo “elevado teor em fibra”) ou relacionadas com a saúde dos
consumidores (por exemplo “acelera o trânsito intestinal”). No entanto, este
tipo de alegações tende a focar-se apenas numa determinada característica do
produto, dificultando uma perspetiva mais global do consumidor sobre
determinado produto. Por exemplo, um alimento rico em fibra pode ser ao mesmo
tempo muito calórico, ou conter uma grande quantidade de gordura saturada…
De acordo com um estudo publicado na revista American Jornal
of Clinical Nutrition, no qual se procurou perceber se a presença de alegações
juntamente com uma rotulagem frontal afetava as escolhas dos consumidores, foi
observado que quando no rótulo frontal não aparecia nenhum tipo de alegação, as
escolhas eram maioritariamente direcionadas para os produtos mais saudáveis. No
entanto, a presença das alegações pareceu sobrepor-se ao efeito da rotulagem
frontal, criando uma distorção significativa nas escolhas dos consumidores.
Apesar de não serem completamente surpreendentes, os
resultados deste trabalho não deixam de ser preocupantes. A discussão acerca da
rotulagem alimentar tem estado na ordem do dia, e nunca tanto como agora se deu
tanta importância às escolhas alimentares. E isto é algo muito positivo… No
entanto, também é verdade que nunca tanto como agora se percebeu tanto de
marketing, e de como se consegue influenciar de forma significativa as escolhas
de cada um. Ou seja, por um lado está-se a tentar dar aos consumidores
ferramentas simples e objetivas que os façam tomar melhores decisões, mas aos
mesmo tempo, de forma mais ou menos oculta e deliberada, manipula-se as mesmas
decisões. Atuar ao nível da alimentação exige por parte de todos os
intervenientes uma visão de banda larga, de forma a ser possível atuar de forma
integrada e coordenada no sentido de serem tomadas medidas que realmente ajudem
as pessoas a decidir melhor. Não basta criar medidas que exigem que
determinadas informações apareçam no rótulo, se nada for feito acerca das
outras informações que também por lá aparecem. Se o objetivo é ajudar a
escolher alimentos mais saudáveis, é preciso atuar a vários níveis… Haja força
de vontade e coragem para o fazer!
(texto da autoria de João Rodrigues do Blog Mundo da Nutrição
EXCELENTE ARTIGO! Mais detalhes, sff. Mostre os rótulos com as maiores discrepâncias, sff, para aprendermos a analisar antes da compra.
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