sexta-feira, 26 de julho de 2024

Ameixas

- Sabes qual é a diferença entre o polícia e a ameixa?
- Que coisa mais estapafúrdia! Indigna-se o novato.
- É que o polícia faz prisão e a ameixa faz soltura!

 

Assim começo esta croniqueta de fitoterapia sobre as ameixas, para lembrar aos simpaticotónicos, ou seja, aos presos de intestino, uma das muitas propriedades das  ameixas. Mas, poderão os incautos pensar que a função laxativa é o principal atributo  das diversas variedades de ameixa  que conhecemos. Nada disso! Após uma ligeira pesquisa, anotámos alguns dos seus benefícios:

  • Possui alto valor nutricional, fortalece o sistema ósseo, melhora a imunidade, reduz o risco de cancro, baixa a glicémia, ativa a coagulação sanguínea, torna a epiderme saudável, diminui a ansiedade, ajuda a atingir a saciedade proporcionando a perda de peso excessivo e, é claro, melhora o funcionamento dos intestinos.


Estamos a falar dos frutos da ameixeira (Prunus domestica) que surgem abundantemente na primavera mas, há que referir que existem dezenas de variedades de Prunus no mundo. São pequenas árvores caducifólias da nobre família das Rosaceae que geralmente não ultrapassam os 10 metros de altura, com folhas oblongas e flores brancas ou rosadas de cinco sépalas e cinco pétalas polinizadas por insetos. Os frutos são drupas carnudas redondas ou ovais que, quando amadurecidas, podem ter cor amarela, vermelha, roxa, verde e até negra, dependendo das variedades. Vamos detalhar algumas:


  • Ameixas, “rainha-cláudia” Vem-nos à memória aqueles salutares encontros dos cultores da natureza na quinta de Manuel Pinhol (digníssimo sócio honorário da Sociedade Portuguesa de Naturalogia), situada no sopé da Serra do Louro (Cordilheira da Arrábida). Meia dúzia de ameixeiras carregadinhas de reluzentes frutos de suave amarelo eram colocadas ao inteiro dispor dos convivas. Atarefadamente, os  companheiros colhiam e comiam os sumarentos frutos e alternadamente iam frequentando os sanitários. Havia depois um pequeno passeio pedestre e por fim, através de votação secreta, elegia-se a “Rainha da Ameixa”. Inolvidáveis momentos de são convívio que geravam ideias construtivas e fomentavam a durabilidade das amizades.
  • Ameixas “cagonas” Esta foi a jocosa designação atribuída por Virgílio Beatriz, outro extremoso sócio da SPN, infelizmente já falecido, que residia  num moinho adaptado num dos cumes da Serra do Louro. Invariavelmente, o grupo saía, depois do almoço frugívoro, para um passeio pelas redondezas a fim de analisar a vegetação envolvente, passando pelo moinho de Virgílio Beatriz onde era recebido principescamente. O percurso permitia apreciar o pequeno bosque de carvalho-cerquinho e colher PAM (Pantas Aromáticas e Medicinais) e frutos silvestres. Apareciam, por vezes, ameixeiras bravas que progrediam nos valados entre silvados e roseiras caninas. Os frutos eram avermelhados de sabor agridoce e liquefaziam-se com rapidez, daí talvez a origem do aludido epíteto.
  • AbrunhosO abrunheiro-bravo (Prunus spinosa) é um arbusto de ramagem espinhosa densa e intricada, mas os seus frutos são muito apreciados e estão na moda. A revista francesa “Cueillir-se nourrir, se soigner” inclui, no seu número de novembro de 2023, cinco páginas ilustradas sobre o “prunellier” (abrunheiro, em francês), escolhendo-o para figurar como a planta do mês. Entre outras considerações, esclarece que os abrunhos são antioxidantes e ricos em vitamina C. Devem ser ingeridos em casos de febres acompanhadas de tosse. A infusão das próprias flores e da casca dos ramos gera efeitos sudoríferos e diuréticos, obrigando o organismo a transpirar e a livrar-se de inflamações A revista acrescenta ainda o uso dos abrunhos na culinária, especialmente em aromatização de pratos e confeção de “vinagretes”, “chutneys”, bebidas e sobremesas.
  • Ameixas “umeboshi” Trata-se da espécie Prunus mume que sofre uma manipulação demorada, sendo seca, depois demolhada e fermentada em sal marinho. Parece que o produto é originário da Medicina Tradicional Chinesa  mas, atualmente são os japoneses que dominam o mercado. Estas ameixas vêm comercializadas em puré, ou inteiras, conservadas em pequenos vasilhames herméticos. Com sabor intenso, salgado, agridoce e algo picante têm corrente uso na culinária japonesa e macrobiótica.

Consta-se que possuem elevado teor de sais minerais como ferro, potássio, magnésio cálcio e vitaminas do complexo B.

Entre as propriedades medicinas que lhe são atribuídas aponta-se a de ser energizante, antissética, antioxidante, de possuir ação antibiótica, de bloquear o alastramento das células cancerígenas e de estabilizar o açúcar sanguíneo.

Utiliza-se nos casos de gripes e resfriados, intoxicações alimentares, problemas gasto-intestinais, gengivite, osteoporose e fadiga física e mental.

O meu  amigo João P não se farta de gabar o alívio imediato proporcionado pela ameixa japonesa, a qual ingere em jejum, sempre que se encontra constipado.


(texto da autoria de Miguel BoieiroVice-presidente da Direção da SPN)


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