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segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Sara Ribeiro do Projeto "Sara Ribeiro Cerâmica" em Entrevista à Revista P´rá Mesa!



E por que não aliar a boa comida à presença da arte em louças de cerâmica artesanal, conseguindo-se, assim, compor ao mesmo tempo um dos itens cada vez mais significativos num estilo de vida contemporâneo?

Afinal de contas, o ato de simplesmente alimentar-se envolve, tal como ambos sabemos, aspectos da nutrição, bem como todo um conjunto de questões sensoriais, sociais, culturais, económicas e ambientais. Contudo, até que ponto, a própria utilização de peças em cerâmica artesanal criará um maior ou menor impacto, quanto à percepção da experiência vivenciada à mesa por cada um de nós?

Prepare-se, portanto, meu caro leitor, para abarcar numa aventura super emocionante de uma ceramista odivelense, que sempre sonhou em trabalhar no que amava, encontrando a sua vocação na cerâmica, não perca!

"Com 23 anos, tornou-se aprendiz do Mestre Jerónimo Reis na Olaria do Casal Cortido em Mafra, em 2019, onde aprendeu a arte da roda, a produção de peças e as técnicas tradicionais portuguesas. (...) Autodidata, começou a pintar aos 13 anos. Anos mais tarde, no curso de Realização Plástica do Espetáculo, teve o seu primeiro contacto com a cerâmica (...) com estágios no Teatro MalaPosta e no Teatro Nacional de São Carlos, e com a participação numa exposição na Casa das Histórias Paula Rego. Durante três meses do programa Erasmus+ em Roma, estagiou no Teatro Furio Camillo."

"Em 2024, esteve presente na exposição "Liberdade e Criatividade" do Cocco Barcante, na Galeria Arte Graça, com a participação de artesãos brasileiros e portugueses. Nesta exposição, apresentou a sua árvore Copaíba, representando a Mata Atlântica, com 50 cravos feitos à mão, numa evocação à liberdade."

1) Qual é a sua naturalidade e formação profissional? 

Sara Ribeiro: Eu sou natural de Odivelas, Lisboa. Tenho formação em Realização Plástica do Espetáculo, que me permitiu trabalhar criativamente na conceção visual de produções teatrais e espetáculos. Durante a minha formação, tive a oportunidade de realizar estágios em teatros, o que foi uma experiência enriquecedora. Foi aí que me apaixonei pela cerâmica, explorando este material no desenvolvimento de peças artísticas. 

2) E como é que o seu projeto “Sara Ribeiro Cerâmica”, ao produzir peças feitas artesanalmente na roda de oleiro, começou e porquê na área da cerâmica? 

Sara Ribeiro: O meu projeto 'Sara Ribeiro Cerâmica' nasceu numa disciplina de cerâmica, onde me apaixonei pelo barro e pelo seu processo de transformação. Anos depois, decidi comprar barro numa olaria em Mafra e, ao visitar o espaço, vi pela primeira vez um oleiro a trabalhar na roda. Fiquei fascinada pela técnica e pela arte envolvida. Com o tempo, percebi que queria aprender mais sobre esta arte. Voltei ao mesmo local e foi assim que consegui o contacto do meu mestre oleiro. Foi aí que o meu percurso na olaria e na roda de oleiro começou. Dois anos depois de iniciar a minha aprendizagem, criei a minha página nas redes sociais para divulgar o meu trabalho e, mais tarde, lancei a minha loja online, na qual atualmente, vendo as minhas peças artesanais. 

3) No seu site em https://sararibeiroceramica.com/ refere que as suas peças são “feitas com muito amor, carinho e atenção ao detalhe, que só uma peça feita à mão pode transmitir”, mas qual a verdadeira origem da sua inspiração? 

Sara Ribeiro: A origem da minha inspiração vem de várias fontes. A natureza desempenha um papel fundamental; as suas formas, texturas e cores influenciam muito o meu trabalho. Também me inspiro nas experiências do quotidiano e na arte tradicional, que valorizo profundamente. A olaria tradicional, em particular, inspira-me bastante, pois é a base da minha aprendizagem e me ajuda a conectar com as técnicas e saberes que foram transmitidos ao longo do tempo. Além disso, a música tem um impacto significativo no meu processo criativo. As melodias e ritmos ajudam-me a entrar no estado de espírito certo e a expressar emoções através das minhas peças. O próprio processo de modelar o barro é uma fonte de inspiração, pois cada criação é uma interação única com o material. Acredito que o amor e o carinho que coloco em cada peça se refletem na sua essência. 

4) E quais serão as suas maiores expectativas e metas a atingir no futuro, nomeadamente quanto ao “impacto ambiental” que também refere no seu site? 

Sara Ribeiro: As minhas expectativas para o futuro incluem continuar a desenvolver-me enquanto ceramista e profissional, mantendo sempre os meus valores e a conexão com quem me acompanha no meu trabalho. Pretendo continuar a realizar workshops e aulas regulares, partilhando conhecimentos sobre a cerâmica e valorizando tanto a arte quanto a sustentabilidade. Atualmente, o meu material de embalagem é o mais ecológico possível. As pipocas de enchimento são feitas de amido de milho, o papel é reciclado e reciclável, e estou a apostar na economia circular, colaborando com fornecedores locais. O meu objetivo é continuar a ter a menor pegada ecológica possível. Espero que as minhas peças não só transmitam beleza e funcionalidade, mas também sejam únicas e criativas, refletindo a minha visão artística e a importância da preservação ambiental. 

5) Entretanto, onde é que costuma expor as suas peças e como é que alguém poderá entrar em contacto consigo para adquirir alguma? 

Sara Ribeiro: Costumo expor o meu trabalho através das minhas redes sociais, como Instagram, Facebook e YouTube, onde mostro as minhas peças e o processo de criação. Tenho uma loja online com as minhas criações em https://sararibeiroceramica.com. Também estou ativa nas redes sociais, onde partilho novidades sobre as minhas peças e exposições. Para qualquer dúvida ou interesse específico, é possível entrar em contacto comigo através das mensagens nas redes sociais ou pelo formulário de contacto no meu site.

6) No que diz respeito ao tipo de materiais que utiliza, qual a sua origem e quanto tempo demora, em média, uma peça a ser produzida, bem como as principais fases pelas quais passa até estar finalizada? 

Sara Ribeiro: Em relação ao tipo de materiais que utilizo, trabalho com barro vermelho, característico de Mafra, que me permite criar peças com uma estética única. O tempo que demora, em média, para produzir cada peça é de 3 a 4 semanas. O processo da cerâmica é minucioso e requer várias fases, que tento mostrar em mais detalhe nos meus vídeos nas redes sociais. Através deles, partilho a jornada de criação, desde a modelagem até a queima final, permitindo que o público compreenda melhor o trabalho envolvido em cada peça. 

7) Cada vez mais se faz notar uma simbiose perfeita entre a gastronomia e a arte, sendo, claramente, no meu entender, uma tendência crescente no mercado. Contudo, até que ponto se conseguirá transformar uma simples refeição numa experiência gastronómica bastante diferenciadora e inovadora num restaurante, por exemplo, mas também mais apelativa e sensorial, logo mais marcante e ao mesmo tempo mais aliada ao mundo das artes da cerâmica? 

Sara Ribeiro: A simbiose entre gastronomia e cerâmica é uma tendência crescente que pode transformar uma refeição numa experiência diferenciadora. Utilizar peças de cerâmica artesanais enriquece a apresentação e cria uma ligação emocional entre quem está a utilizar a peça e o artesão. Além disso, a textura e as formas das peças podem realçar os sabores e aromas, tornando a refeição mais envolvente. Colaborações entre chefs e ceramistas também podem resultar em criações inovadoras, elevando a experiência gastronómica e celebrando a cerâmica como parte essencial da culinária.


8) E, sendo a sua produção de cerâmica uma atividade artesanal, quais serão os benefícios de cozinhar, por exemplo, em panelas de barro, tal como antigamente se fazia? 

Sara Ribeiro: Cozinhar em panelas de barro, tal como se fazia antigamente, traz diversos benefícios. Em primeiro lugar, o barro proporciona uma distribuição uniforme do calor, o que ajuda a cozinhar os alimentos de maneira mais homogénea, realçando os sabores. Além disso, as panelas de barro retêm a humidade, o que pode resultar em pratos mais suculentos e saborosos. Este tipo de utensílio também é mais saudável, pois não contém produtos químicos que podem estar presentes em outros materiais. Por fim, utilizar cerâmica artesanal cria uma conexão com as tradições e técnicas antigas, valorizando o trabalho manual e a estética dos utensílios, tornando a experiência de cozinhar ainda mais especial. 

9) Digamos que, de acordo com o texto que se pode ler aqui, “comer é a origem da socialização humana”, cujos utensílios desenvolvidos pelo homem ao longo do tempo, atualmente, representam uma forte “adaptação cultural através da necessidade de sobrevivência”. Por outro lado, temos que “a arte encanta” e o “poder de dar forma a algo com nossas próprias mãos transcende e, nesse ponto, a gastronomia e a cerâmica podem ser moldadas a nosso bem entender”, criando um maior prazer à mesa, concorda? Mas será que, pela sua experiência na venda das suas peças, o público em geral se apercebe do verdadeiro valor que cada peça de cerâmica artesanal possui numa era cada vez mais tecnológica capaz de produzir peças em larga escala e quase num só clique?

Sara Ribeiro:  Concordo plenamente que comer é uma forma essencial de socialização humana e que a cerâmica, enquanto arte, tem um papel significativo nesse contexto. O poder de moldar algo com as nossas próprias mãos confere um valor especial às peças, tornando a experiência à mesa mais enriquecedora. Com a experiência que tenho tido nas redes sociais, percebo a importância da história por trás do fabrico e do processo das peças. O amor e carinho que coloco em cada criação, bem como a singularidade delas, tornam cada peça única e exclusiva para a pessoa que a possui. Embora a era tecnológica permita a produção em massa, muitos consumidores começam a valorizar essa dedicação e conexão pessoal. As redes sociais ajudam a transmitir essa história, fortalecendo o laço entre o público e as minhas criações. 


10) E qual a sua receita favorita? 

Sara Ribeiro: A minha receita favorita é um bolo de chocolate vegan que costumo fazer para os meus alunos nas aulas regulares. A receita é do canal da Mussinha e é simplesmente deliciosa! É sempre um sucesso e traz um toque especial às nossas aulas, criando um ambiente acolhedor e divertido:


(texto escrito por Mónica Rebelofundadora da Revista P´rá Mesa
com imagens cedidas por Susana Rodrigues de https://sararibeiroceramica.com)


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