Fevereiro... o mês das declarações de amor e da competição por mais "gostos" nas suas divulgações digitais...
Vivemos numa era onde a tecnologia nos aproxima e, paradoxalmente, nos distancia. As aplicações de relacionamentos e conexões sociais prometem facilitar o encontro entre pessoas, proporcionando afinidades que, à primeira vista, poderiam parecer impossíveis sem a mediação digital.
O mundo digital parece munir as pessoas com uma "pílula mágica de coragem com efeitos de empoderamento para auxiliar no nível e ego do público em geral". Mas será que o amor virtual responde às nossas necessidades emocionais mais profundas?
O ser humano é um ser de vínculos, de toque, de olhares que comunicam sem palavras. No entanto, cada vez mais, as nossas interações passam por ecrãs, algoritmos e mensagens filtradas por IA.
Se por um lado essa evolução tecnológica permite que nos conectemos a pessoas com quem dificilmente cruzaríamos na vida real, por outro, corremos o risco de transformar o amor e as relações em transações algorítmicas, onde a autenticidade se dilui na busca pela compatibilidade perfeita.
As estatísticas já apontam para um aumento de relações iniciadas online e, consequentemente, para uma nova dinâmica nos relacionamentos. Estudos e teorias indicam que casais que se conhecem através de plataformas digitais têm, em alguns casos, uma maior taxa de compatibilidade e compromisso do que aqueles que se encontram de forma tradicional. Isto talvez deva-se, em parte , à possibilidade de filtragem inicial baseada em interesses e valores comuns. Mas será que a conexão virtual é suficiente para suprir a necessidade emocional de laços humanos mais profundos?
A realidade mostra-nos que a solidão, apesar da hiperconetividade, continua a crescer. O contacto humano genuíno não pode ser substituído pela conveniência digital. Precisamos de sentir a presença do outro, a sua energia, o seu toque. Por isso, o futuro do amor virtual não será apenas uma questão de aplicações mais inteligentes, mas sim de plataformas que consigam integrar a tecnologia com a autenticidade da experiência humana.
Caminhamos para um mundo onde a IA pode prever com precisão quem nos poderá atrair ou complementar emocionalmente. No entanto, o desafio será sempre equilibrar essa eficiência digital com a necessidade humana de sentir, errar, aprender e crescer com o outro de forma real. O amor virtual pode ser o início, mas o seu verdadeiro impacto dependerá da nossa capacidade de transformar essas conexões em algo palpável e significativo no mundo real.
Num mundo digital, cuja semelhança com a realidade é tão intensa, temos que caminhar em pezinhos de lã para conseguir discernir o real do virtual. Estreitamos ligações através do digital e para com o digital. São cenários perfeitos que correspondem a tudo o que queremos, satisfazendo poeticamente as nossas fantasias sem nos permitir o dissabor da frustração.
Criámos um mundo em que a velocidade é desafiante e nos desapega do contacto connosco e com o outro e por esse motivo, estaremos agora nós humanos a criar e a formatar mecanismos que nos ensinem a ser ainda mais humanos por forma a reatarmos um laço interno aprisionado pelo medo da rejeição na entrega da nossa conexão?
Sendo o amor, um privilégio tão nobre e humano, será que com a "evolução da máquina" estaremos a matar o amor com ácido disfarçado entre teclas e ecrãs?... (E quando estaremos nós diante do início de uma revolução digital?)
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