Toda a minha família é originária da raia beirã, mais precisamente do concelho do Sabugal.
Os dois lados da família, materna e paterna, são de uma aldeia chamada Aldeia Velha (sem relação com a aguardente!). É uma localidade com 413 habitantes (segundo o Censos de 2021), tendo já tido o dobro, pois a população começou a decrescer a partir dos finais da década de 60 do século passado.
Pertencente às chamadas terras do Riba Côa, caracteriza-se por paisagens de granito, pinhais e alguns carvalhais, e vegetação arbustiva como giestas e torga. Encontra-se no sopé da Serra do Homem de Pedra e a alguns quilómetros da Reserva Natural da Malcata.
Com invernos rigorosos e verões secos e quentes, o clima não permite uma grande variedade de produção de hortícolas. Predomina o cultivo da batata e da castanha e durante muitos anos, o dos cereais, como o trigo, o milho e o centeio. A prática do cultivo do linho acabou por se perder.
No final do século XIX, tal como em muitas aldeias circundantes, a pobreza e até a fome, reinavam na maioria das casas. Poucas eram as famílias abastadas e entre vizinhos partilhavam o que recolhiam da lavoura.
Os habitantes de Aldeia Velha são conhecidos por “Milhareiros”. Qual a razão desta designação? Ao certo, não se sabe bem, mas reza a lenda que um aldeão mandou fazer uma imagem do santo padroeiro. Não tendo como o pagar, saldou a sua dívida com “mílharas”.
E o que são as mílharas? Papas de milho miúdo fervidas em leite.
A partir daí, é tradição em todas as festividades haver bandejas e pratos de mílharas, pois durante muitos anos, este doce era um luxo raro na mesa dos habitantes.
Deixo-vos a receita!
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Mílharas
Ingredientes:
- Um litro de leite
- 100 gr de açúcar
- Uma casca de laranja
- Uma pitada de sal
- Canela para enfeitar
- 500 ml de água
- 200 gr.de sêmola de milho
Confeção:
- Num tacho colocar a água, o sal e a casca da laranja.
- Adicionar a farinha de milho aos poucos e mexendo sempre para não ganhar grumos, até que a água desapareça completamente.
- Adicionar o leite morno, o açúcar, e sem deixar de mexer deixar cozinhar até ficar com consistência cremosa.
- Deitar na travessa e decorar com canela em pó.
(texto da autoria de Sandrina Martins)
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