segunda-feira, 10 de março de 2025

Goji

- Não há dúvida, isso é a pura da verdade, deu na televisão! E até vem no “google”!


Eis uma expressão demasiado frequente, hoje em dia. A “maravilhosa” tecnologia, aliada à voracidade dos “mercados” e à incessante propaganda para o exacerbado consumismo, tem artes de manietar o cidadão e levá-lo a aceitar  “verdades” ditadas por outrem, após estafantes repetições. Esta crescente constatação para quem não sofre (ou julga não sofrer) de peias mentais, impele os prudentes a amparar-se em dúvidas, antes de agir. Perante a catadupa de informações e ou desinformações que diariamente nos chegam pelos órgãos mediáticos, há que colocar sempre a pergunta – A quem interessa a notícia que é transmitida abruptamente, ou apenas sugerida de forma sagaz? 

Com esta reflexão, inicio esta croniqueta sobre uns minúsculos frutinhos que atualmente se encontram em voga e que, a crer nos órgãos informativos que nos regem, constituem panaceia para todos os males. Não se pense, todavia, que isso não é verdade. Até pode ser, mas “quando a fartura é muita, o pobre desconfia”.

As bagas de goji encontram-se mundialmente classificadas como super-frutos ou super-alimentos, o que faz acender a curiosidade. Como se calcula, tal classificação incentivou a sua comercialização e a aumentar os proventos do seu maior produtor – a China. Contudo, outra super-potência, os Estados Unidos da América, logo levantou objeções à perfeição do produto, estabeleceu regras à sua livre comercialização, mas sorrateiramente, começou também a produzi-lo.

Manda a prudência para, neste modesto escrito, não nos enredarmos nos meandros do conflito pois este estará naturalmente envolvido em meias verdades e em factos sigilosos que não ficam ao alcance do grande público.

Um amigo do laborioso “Grupo das Plantas” de Palmela presenteou-me, certo dia, com uma haste do arbusto Lycium barbarum, o qual gera as afamadas bagas do goji. A referida planta, tal como a sua irmã Lycium chinense, pertence à família das Solanaceae, o que, à partida, obriga a ter algumas precauções. De facto, todas as solanáceas contêm alguma toxicidade e é preciso saber onde ela está. Falo de batatas, tomates, pimentos, beringelas… mas também de ervas-mouras, figueiras-do-inferno, trompeteiras, etc.

Então, espetei a haste num grande vaso e ela rapidamente enraizou, distendendo-se em várias ramificações flexíveis. Na primavera desabrocharam umas florinhas cor-de-rosa pálido que logo passaram  a pequenos frutos alaranjados. Rejubilei! Agora já obtive os famosos gojis. Confirmei assim que a planta pode ser propagada facilmente por estacaria, que é resistente ao calor e ao frio e pode medrar em todos os tipos de solos. Uma maravilha!

Vamos agora ver o que diz o “Gran Diccionario de las Plantas Medicinales” do Dr. José Luís Berdonces:

O goji adquiriu ultimamente uma curiosa fama, sendo considerado a fruta da longevidade. Diz-se que esta pequena “cereja” que se pode comer seca ou tomar em cápsulas, mantém a juventude graças ao seu poder antioxidante, reduz o risco de cancro, diminui o colesterol, normaliza os níveis de açúcar, regula a pressão sanguínea, alivia a insónia, fortalece o coração, aumenta a imunidade e a libido, faz diminuir o peso, alivia os transtornos da menopausa, melhora a visão, desinflama a próstata, etc.

Como se imagina, o panorama ficou deveras aliciante para uma lucrativa comercialização.

Ora a espécie Lycium é nativa no noroeste da China, nas regiões do Tibete e na Mongólia, onde se registam mais de 40 variedades.

Trata-se de  um vigoroso arbusto auto-fértil que pode atingir facilmente 3 metros de extensão. Possui folhas inteiras, ásperas alternadas de forma elíptica. As flores surgem nas axilas das folhas e são hermafroditas Os frutos (as joias da coroa) são pequenas bagas ovoides carnosas de cor  vermelha ou alaranjada que se dispõem regularmente ao longo dos ramos. 

Embora o goji só se tenha popularizado no Ocidente há escassos vinte ou trinta anos, ele é conhecido e utilizado há séculos em medicina tradicional chinesa para o aumento da vitalidade e da longevidade dos povos orientais. Também o usam na culinária. Para além do fruto, as cascas, raízes e folhas possuem igualmente propriedades curativas e preventivas.

Nas bagas de goji foram detetadas proteínas, hidratos de carbono, fibras, cálcio, selénio, ferro magnésio, potássio, betacaroteno, vitaminas C e E  e do complexo B.

Do aludido Dicionário das Plantas Medicinais respigámos, com a devida vénia a seguinte receita: 
  • 20 g de goji em meio litro de água, ou em alternativa, 30 a 100 g da casca por meio litro de água. Ferve-se durante 5 minutos, deixa-se repousar 10 minutos e depois filtra-se. Toma-se  duas ou três chávenas por dia.

Os frutinhos goji, secos em forma de passas, encontram-se à venda nas lojas especializadas. Todavia, tal não acontece com os frutos frescos, cuja venda não é legalmente permitida fora das regiões de origem. Porquê? É, no seu melhor, o chamado “marketing” a funcionar! Agora tenho-os no meu quintal e consumo-os frescos, misturados nos iogurtes e kéfires, livrando-me das obtusas normas comerciais.

Na wikipédia, para além dos fantásticos encómios ao goji, qual remédio para todos os achaques da humanidade, encontram-se ainda algumas contraindicações que podemos levar a sério, se forem bem explicadas. Mencionam que o seu consumo, presumo que exagerado, pode causar alergias ou reações adversas em pessoas sensíveis e interferir com determinados medicamentos.


Nota final: este texto contém, em parte, referências meramente opinativas que podem esbarrar com ideias contrárias, por não se enfileirarem  no chamado “politicamente correto”. Aos prezados leitores cabe o direito de discordarem, apresentando, para isso, as suas razões.

(texto da autoria de Miguel BoieiroVice-presidente da Direção da SPN)
 

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